Cosmic Dollars | Haobin

1.0 - Lobo em Pele de Cordeiro

— Foi tudo o que conseguiu? — Há uma ruga de indignação na testa de Hanbin, que olha para o rosto anguloso de seu irmão no sofá adjacente. Yeonjun dá um suspiro longo e encara mais uma vez a mesinha de centro gasta, onde alguns wons estão posicionados, todas as notas presas com um elástico encardido. — Aquela velha não era tipo uma socialite esnobe? Como ela só tinha isso na conta do banco?

— Aparentemente as pérolas que ela usa no pescoço não são tão verdadeiras — Yeonjun relaxa o tronco no sofá, costas contra o estofado. Hanbin ainda parece prestes a virar a mesinha de centro em cima dele, embora ambos soubessem que não havia um culpado naquela situação além do esforço genuíno da senhora Lee, proprietária de um dos bares que costumavam frequentar, em parecer endinheirada. — Mas ainda é melhor do que nada, né?

— Eu não te ensinei a se contentar com pouca merda — Hanbin diz, e então apoia os cotovelos nos joelhos expostos pelos grandes rasgos da calça jeans preta. Yeonjun revira os olhos, um tédio que sempre aparece quando o irmão mais velho dá indícios de um monólogo moralista (mesmo que sua moral e a de um político corrupto fossem bem parecidas). — Nada ainda é melhor do que isso.

— São quinhentos mil wons!

— São lixo — Hanbin dispara, apontando para o dinheiro em cima da mesinha. — Não adianta nos arriscarmos por quinhentos mil wons. Confiei esse trabalho a você, Yeonjun. Confiei porque acredito que você é inteligente o bastante pra não chegar em casa com dois montinhos de dinheiro e achar que isso é o suficiente.

— Bom, então você deveria ter feito você mesmo.

— Acha que tenho que fazer o trabalho o tempo todo enquanto você fica com o rabo pra cima em casa ou então fodendo aquele seu namoradinho sonso?

— Não mete o Beom nisso, Hanbin — Yeonjun adverte e aponta o dedo indicador para o irmão mais velho. Aquele gesto não é nada educado, nada do que está acontecendo é, mas Yeonjun não pode deixar que Hanbin fale sobre Beom em qualquer que fosse a situação. — Não vem jogar as coisas na minha cara só porque você é perfeito e nunca falhou em um trabalho. Porra! Como eu ia saber que aquela filha da puta só tinha isso no banco?!

— Eu não te ensinei a verificar? — Hanbin eleva o tom de voz, mas Yeonjun, ao invés de encolher os ombros e demonstrar intimidação, apenas passa as mãos pelas laterais dos cabelos pretos presos em um coque no alto da cabeça. — Hein? Eu não te ensinei cada mínimo detalhe dessa merda?

— E o que você quer que eu faça agora, hyung? — A última palavra sai em tom de deboche, e Hanbin sabe disso porque Yeonjun nunca o chama de hyung em outros momentos, senão nos que ele deseja vê-lo com raiva. — Devolva o dinheiro pra ela? Envie um envelope com um cartãozinho escrito "foi mal por clonar seu cartão e tirar a pouca merda que você tinha guardada no banco"? Ou você quer se conformar com o que tem e parar de reclamar como a porra de um velho rabugento?

Hanbin solta um arzinho pelo nariz e olha para o lado. Encontra a mesa de jantar de quatro cadeiras, encostada a uma parede de tijolos vermelhos. Sempre a mesma visão. Ele escuta quando Yeonjun, cansado do falatório e dos sermões do irmão, recolhe os dois montinhos de dinheiro e os enfia na mochila, logo em seguida se levanta e passa por seu campo de visão em direção à cozinha, puto.

Ele sabe que Yeonjun detesta quando ele contesta seus trabalhos — como eles costumavam chamar os golpes e os roubos — mas Hanbin não pode deixar de contestar quando está insatisfeito, principalmente quando não conseguem uma boa grana há meses. Yeonjun é mais novo e Hanbin entende que ele ainda é imaturo, mas ele espera que Yeonjun seja, pelo menos, um pouco compreensivo quando se trata do trabalho, mesmo porque foi Hanbin quem ensinou a ele tudo que hoje ele sabe sobre como ser um ladrão filho da puta (com muito orgulho). E Hanbin também espera que, porra, ele só não se contente com pouca merda.