Capítulo IV

487 54 2
                                    


Mais uma consulta... Sentei no sofazinho de espera até que... A moça da recepção atendeu o interfone. Fiquei prestando atenção na conversa dela, eu podia apostar que estava falando com a Lauren. Logo que a recepcionista colocou o telefone no gancho, virou-se na minha direção e disse que eu poderia entrar. Abri a porta do consultório que estava apenas encostada. Lauren estava sentada na sua cadeira de frente para a mesa cheia de papéis. Analisava umas folhas azuis. Parou de ler assim que notou a minha presença. Ergueu a cabeça e me olhou de frente. Acenei pra ela.


- Bom dia, Mila. – disse como sempre.


- Bom dia, Laur – silêncio – Se você me chama de Mila, posso te chamar de Laur, não é?


         A mulher balançou a cabeça afirmativamente.


- Vamos iniciar a nossa sessão?


- Por que eu fiquei esperando esse tempo todo lá fora se não tinha ninguém aqui dentro?


- Pelo que me lembro, seu horário é às dez. Caso queira adiantar alguma consulta, pode ver com a secretária se temos disponibilidade no horário pretendido.


- É que hoje... Eu pensei... – sacudi as mãos como quem desiste de se justificar – Esquece, vai! – caminhei até o divã e sentei. Lauren levantou da cadeira e veio na minha direção segurando nas mãos o seu inseparável bloquinho. Sentou na poltrona a minha frente.


- Me parece impaciente. Algo está te aborrecendo?


- Não.


- Está sem vontade de conversar comigo.


- Não.


- Quer que eu pare de te fazer perguntas?


- Meus pais me aborrecem, só isso! – ergui a face, encarei os olhos verdes – É muito grave não querer ser filha dos nossos pais.


- Desentendimentos em família são normais, mas isso não quer dizer que pais e filhos não se amem.


- Eu tô presa, Laur. – coloquei as mãos no rosto, depois tirei – Presa dentro da minha própria casa. Não posso mais ir à rua, nem atender o telefone. Vai fazer um mês que só vejo as minhas amigas da escola e na escola. Não paro de pensar em... – me calei, depois me levantei do divã – Eles querem me punir porque sou diferente do que sonharam, sabe?


- Sente-se Mila. Quer que eu peça uma água pra você?


- Quero que me diga o que fazer com o que eu sinto? – parei na frente dela. Lauren ergueu o olhar.


- Com relação a quê?


- Aos meus sentimentos por... – me abaixei, apoiei as mãos nos braços da poltrona. Ficamos a centímetros de distância – Estou enlouquecendo, sabia?

Minha Doce PsicólogaOnde histórias criam vida. Descubra agora