Mais uma consulta... Sentei no sofazinho de espera até que... A moça da recepção atendeu o interfone. Fiquei prestando atenção na conversa dela, eu podia apostar que estava falando com a Lauren. Logo que a recepcionista colocou o telefone no gancho, virou-se na minha direção e disse que eu poderia entrar. Abri a porta do consultório que estava apenas encostada. Lauren estava sentada na sua cadeira de frente para a mesa cheia de papéis. Analisava umas folhas azuis. Parou de ler assim que notou a minha presença. Ergueu a cabeça e me olhou de frente. Acenei pra ela.
- Bom dia, Mila. – disse como sempre.
- Bom dia, Laur – silêncio – Se você me chama de Mila, posso te chamar de Laur, não é?
A mulher balançou a cabeça afirmativamente.
- Vamos iniciar a nossa sessão?
- Por que eu fiquei esperando esse tempo todo lá fora se não tinha ninguém aqui dentro?
- Pelo que me lembro, seu horário é às dez. Caso queira adiantar alguma consulta, pode ver com a secretária se temos disponibilidade no horário pretendido.
- É que hoje... Eu pensei... – sacudi as mãos como quem desiste de se justificar – Esquece, vai! – caminhei até o divã e sentei. Lauren levantou da cadeira e veio na minha direção segurando nas mãos o seu inseparável bloquinho. Sentou na poltrona a minha frente.
- Me parece impaciente. Algo está te aborrecendo?
- Não.
- Está sem vontade de conversar comigo.
- Não.
- Quer que eu pare de te fazer perguntas?
- Meus pais me aborrecem, só isso! – ergui a face, encarei os olhos verdes – É muito grave não querer ser filha dos nossos pais.
- Desentendimentos em família são normais, mas isso não quer dizer que pais e filhos não se amem.
- Eu tô presa, Laur. – coloquei as mãos no rosto, depois tirei – Presa dentro da minha própria casa. Não posso mais ir à rua, nem atender o telefone. Vai fazer um mês que só vejo as minhas amigas da escola e na escola. Não paro de pensar em... – me calei, depois me levantei do divã – Eles querem me punir porque sou diferente do que sonharam, sabe?
- Sente-se Mila. Quer que eu peça uma água pra você?
- Quero que me diga o que fazer com o que eu sinto? – parei na frente dela. Lauren ergueu o olhar.
- Com relação a quê?
- Aos meus sentimentos por... – me abaixei, apoiei as mãos nos braços da poltrona. Ficamos a centímetros de distância – Estou enlouquecendo, sabia?
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Minha Doce Psicóloga
Short StoryO que fazer quando seus pais não aceitam sua orientação sexual? Se a vida te dá limões, faça uma bela limonada... Após uma briga com os pais, Camila é obrigada a frequentar uma psicóloga, mas durante as consultas algumas coisas acabam acontecendo...