O arranjo

III

Tempo presente

Os três bruxos mais graduados de Akem, entre os quais Min YG, líder da Irmandade, foram os últimos a entrar na sala oval em que o Príncipe reunia o seu conselho. Mesmo os convidados de fora da cidade já estavam presentes e sentados ao redor da longa mesa.

YG, JM e JK vestiam preto, com a túnica cerimonial da Irmandade sobre elegante calça de tecido da mesma cor. Sua entrada causou certo fervor, um espantamento previsível, pois os presentes sentiam reverberar o seu poder. Os três poderiam destruí-los, todos, com um estalar de dedos. Mesmo assim, os bruxos eram algo atraente e misterioso para simples humanos, como eram as intricâncias de seus feitiços secretos antigos, e também de elusivo, nos seus dons de esconder, iludir, desorientar e possuir.

No solene recinto, não eram, entretanto, os mais poderosos. Nem perto disso, pois lá estavam seres mágicos autênticos – os dragões. E esses, como o gelo que descia das montanhas, podiam reescrever paisagens.

O Príncipe HS tinham convocado reunião de cúpula das duas maiores cidades, tendo chegado naquela manhã, como esperado, uma delegação de Astrar escolhida por sua princesa, com os dois dragões, para tratar justamente da questão da mágica e do degelo, e também do que seria o futuro do seu mundo. Após os delegados falarem dos dois lados, a única certeza que se tinha era que o ritmo de dispersão da mágica estava acelerando rapidamente e as mudanças no clima eram um dos efeitos desse processo natural.

Ficou combinado que se faria uma expedição das duas cidades ao extremo norte para investigação. Era preciso descobrir em que ritmo a mágica estava se esvaindo do plano e por onde, ainda que não fosse possível contê-lo. A expectativa era de que houvesse fendas e portais no gelo visíveis para certos tipos bruxos. Mas seria necessário treinar pessoas e reunir recursos. Levaria meses até que uma missão fosse enviada com segurança. Ninguém conhecia o Norte onde deveriam ir, nem sabia se havia locais secos no meio do gelo para montar um acampamento e uma base segura para as operações. Todo esforço poderia ser vão.

Os presentes levantaram-se para ouvir as palavras finais do jovem Príncipe. Havia três anos, HS conduzia sozinho os assuntos do Estado, desde a morte prematura de sua mãe, mas era a primeira vez que enfrentava uma crise daquela magnitude. Contava principalmente com o apoio de Jin e YG, que estiveram sempre a seu lado, desde quando era apenas o herdeiro. E a solução para a crise, a seu ver, era fortalecer as relações com Astrar e agir conjuntamente.

De onde JK estava, podia simplesmente olhar TH, a sua frente, porém de lado para ele.

Uma das coisas que apreciava em TH eram as proporções de seu corpo. Era elegante, e também bonito. Os dragões eram conhecidos por serem muito belos em forma humana, e ele não deixava a desejar.

Não tinham passado doze dias, mas JK queria sair dali e acompanhar TH até a cidade alta. Estava cansado e um pouco ansioso com tudo que estava sendo dito. Seus músculos também estavam tensos por causa do excesso de trabalho, e precisava justamente distensionar. Anos de prática tinham levado os dois à perfeição, pensou, seu corpo estava completamente viciado em transa com dragão.

E nos últimos tempos, só isso relaxava.

TH saiu na frente sozinho, sem esperar Jin e Darsila, e JK seguiu-o pelo átrio e o pátio interno com o fluxo de pessoas que deixavam o reservado recinto, até chegar no saguão, quando lhe roçou o ombro. TH virou e olhos riscados surpresos colidiram com os seus por um instante intenso, como sempre era quando JK tomava a iniciativa de vir lhe falar.

"O que você quer?" Realmente não esperava ser procurado. E ainda estava se preparando para cumprir a própria decisão a respeito de JK, o que não ficaria nenhum um pouco mais fácil com o outro indo falar com ele por qualquer motivo, ainda mais daquele jeito.