VIII

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JK finalmente teve alta e JM o esperou no jardim detrás da casa de repouso para irem juntos de volta ao dormitório. Apesar de ter muito mais conforto ali que na Irmandade, JK estava ansioso para ir embora e deixar aquele lugar, onde por falta do que fazer só podia ficar dando voltas e mais voltas com os pensamentos na cabeça.

Mas JM não tinha vindo sozinho. Trouxera consigo o filho de NJ, Kwan, de oito anos. Como quase todas as crianças vinculadas à guarda ou à irmandade, ele idolatrava JK por todos os seus feitos, e o bruxo, por sua vez, tinha um carinho especial por ele por ser filho de quem era e também por ser uma criança tão inteligente e cheia de vida.

Sem falar nada, para que Kwan não percebesse, JK perguntou JM com os olhos "Por que??" Estranhando os primeiros sinais de que JM e NJ estavam se aproximando.

A esposa de NJ falecera quando Kwan era recém-nascido, e desde então NJ dedicou-se completamente à criação do filho e não se interessou em se casar de novo. Mesmo assim, nunca escondeu a admiração que tinha por JM, ainda que nunca viesse a propor relacionamento, ou mesmo um encontro. Mas era fato que ficava todo atrapalhado quando JM estava perto, e só quando ele estava. E é claro que JM sabia disso havia tempo.

"Não sei. Talvez agora..." JM respondeu baixinho, com um riso tímido.

Quando outra criança chamou Kwan para ver alguma coisa no outro lado do jardim e os dois ficaram um momento a sós, JM contou que naquela semana ele e NJ tinham se encontrado todos os dias depois do treino para conversar. E que JK não deveria ficar empolgado pois eles estavam apenas se conhecendo melhor e vendo o que tinham em comum, e também que ele gostava muito de Kwan e por isso tinha se oferecido para olhá-lo enquanto NJ estava em missão, não tendo isso nada de mais.

"Mas vocês já dormiram juntos?" JK perguntou, mostrando que não acreditava nenhum pouco que eles estavam apenas se conhecendo melhor e vendo o que tinham em comum. Primeiro porque NJ nunca deixaria Kwan com alguém em quem não confiasse totalmente, nem mesmo por algumas horas. Eles estavam se aproximando sim e muito rápido.

JM só pegou um montinho de pó de incenso da borda da janela com a ponta dos dedos e jogou contra o peito do amigo, recusando-se a responder.

Mas ele estava contente, JK podia ver. E isso lhe trouxe imenso alívio.

Enquanto os três se dirigiam devagarzinho ao dormitório, JK olhou a cidade alta, identificando facilmente o edifício em que TH vivia e onde possivelmente estaria àquela hora. Era também onde ele queria ir. Mas se antes TH não queria mais saber dele, agora que tinha a tal pedra não deveria estar tendo nenhuma dificuldade para esquecer que ele existia.

Antes que essa tristeza o deprimisse de novo, Kwan pegou sua mão e puxou-o para o pátio onde alguns bruxos mais novos estavam fazendo uma demonstração. Havia muitos conhecidos seus naturalmente, e eles vieram todos ver como ele estava, perguntar sobre o acidente e sobre sua mágica.

Pouco depois, JM avisou que iria passar mais alguns dias no chão, no vale seco entre as duas cidades, e NJ chegou para buscar o filho, com um largo sorriso no rosto inteiramente direcionado a JM.

***

Aquela segunda vez, a Princesa recebeu TH no seu terraço particular. Nas salas de estar pelas quais os dois passaram juntos no caminho para a área aberta, ele reconheceu umas três pessoas que vieram de Astrar para acompanhá-la, assim como grande quantidade de objetos de arte e mobílias exóticas que não existiam em Akem.

Ela estava vestida casualmente, uma vez que não sairia de seus aposentos, mas não menos encantadora por isso. Estava ventando muito no terraço, o que era apenas normal devido à altura em que se encontrava a cidade, e por isso ela levava os cabelos cobertos com um lenço de seda vermelha.

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