Acordei alarmada sentindo que algo estava errado, a janela ao lado da cama era a única fonte de luz no pequeno quarto do sótão aonde eu dormia, me levantei devagar sentindo o piso frio transmitir uma corrente elétrica por meu corpo, soltei um suspiro contido tentando não lembrar do meu malão guardado de qualquer jeito no armário do outro lado do quarto.
O barulho de ossos chocando-se entre si chamou minha atenção me fazendo olhar para o lado encontrando ali um esqueleto de pé se aproximando devagar."Ainda preocupada com sua ida a Hogwarts?"
Sua voz era bem entonada apesar de não ter nenhuma corda vocal.
"Um pouco, ainda é difícil sair de casa"
Comento observando um ponto atrás dele.
"Se você passar o resto da vida se escondendo por suas habilidades jamais encontrará paz minha criança"
Sua voz é acalentadora, deixo suas palavras se infiltrarem em minha mente e após alguns segundo de contemplação sou tirada do transe por vozes felizes e crianças rindo, subi em cima da cama tentando diminuir a distância entre mim e a janela, observei as crianças trouxas brincarem e me peguei pensando se as coisas seriam mais simples se eu fosse igual a eles.
"Almejar algo que não é verdade não mudará nada"
Inicia ele sabendo como suas palavras tem poder sobre mim, algumas vezes queria que ele não estivesse conectado a minha mente pois somente assim poderia manter guardado os meus pensamentos, um homem velho com sobretudo azul adentra o quarto me pegando de surpresa, ele sorri para mim e se senta em uma cadeira perto da porta, as olheiras em baixo de seus olhos indicam que ele esteve trabalhando até tarde ontem.
"Oi"
Digo tentando retribuir seu sorriso da melhor forma possível.
"Como se sente?"
Me pergunta observando meu corpo a procura de qualquer machucado, tento não ficar feliz por sua preocupação e desvio o olhar para as três janelas douradas em cima de sua cabeça, na primeira ele está sozinho em uma casa decaída com os ombros tensos e o olhar percorrendo a casa, na segunda ele está feliz ao meu lado com meus irmãos um de cada lado do meu corpo, e na terceira a casa de madeira que estava quase caindo na primeira janela está destruída, neve cobre o que sobrou da casa assim como suas roupas.
"Estou bem"
Respondo em um fôlego só tentando não transparecer toda a inquietação que sinto ao ver a terceira janela brilhar.
"Você sabe que uma hora teria de sair para o mundo exterior não é?"
Seus olhos castanhos me fitam com certo pesar, eu sabia que uma onda de regras sairiam de sua boca no instante em que ele voltasse a abrila.
"Lorena escute, quando chegar em Hogwarts não comente o futuro das pessoas casualmente a não ser que elas perguntem, tente fazer amizade com pessoas boas, e de jeito nenhum dê alguma de suas coisas para qualquer pessoa entendeu?"
Ele me observava apreensivo com a testa enrugada, sua aparência cansada o fazia aparentar ser mais velho do que realmente era, meu tio tinha razão se eu me envolvesse com as pessoas erradas as consequências seriam catastróficas, senti as lágrimas pinicarem meus olhos.
"Porque não posso continuar tendo aulas em casa?"
Minha voz sai cheia de mágoa e cansaço mesmo eu tentando não transparecer isso.
"Não podemos nos esconder do mundo bruxo para sempre, ainda mais nós sendo quem somos..."
Ele sorri fazendo menção ao nosso sobrenome, sobrenome amaldiçoado, penso comigo mesma tentando encontrar coragem em seu olhar percebendo isso ele respousa sua mão sobre a minha me olhando sério
"Vai dar tudo certo"
Ele fala com convicção me passando uma falsa sensação de segurança, queria que isso fosse verdade, meus olhos se voltam novamente para as janelas acima de sua cabeça vendo a terceira brilhar me fazendo perceber que nada daria certo.
°°°
Acordamos cedo no dia 1° de setembro, com meu tio andando pela casa arrumando tudo de última hora, peguei meu malão que já estava pronto dês do dia que recebi a carta das mãos do meu tio, abro o mesmo pegando a carta que era o ponto de partida para os meus medos e inseguranças, o barulho familiar do esqueleto se aproximando chega aos meus ouvidos.
"Criança não se preocupe estarei o tempo todo ao seu lado e não deixarei que essas inseguranças se tornem realidade"
Continuo observando a carta em minhas mãos sem realmente ler seu conteúdo, ele solta um suspiro por meu comportamento e deixa seus ossos caírem ao chão não sem antes me dar um sermão.
" Você deveria me respeitar mocinha, eu sou seu bisavô e só eu posso dizer os perigos que você terá de enfrentar já que minhas habilidades eram iguais as suas"
Estremeço ao escuta-lo falar sobre as habilidades que eu tentava ignorar com tanto afinco, pego seus ossos espalhados no chão e coloco no malão repassando mentalmente se havia pegado tudo.
"Já está pronta querida?"
Meu tio aparece na porta, sua mania de não bater antes de entrar me irrita ao ponto de eu quase enxotalo do quarto, não me viro para vê-lo.
passo por ele quase o derrubando arrastando o malão comigo, consigo sentir seu olhar sobre mim durante todo o trajeto, eu sei que ele não tem culpa disso, mas ele é o único que permaneceu ao meu lado e o único a quem posso dirigir minha raiva, todos me abandonaram por essa habilidade, meus pais, meus irmãos, eles se foram antes que eu sequer pudesse vê-los, e agora eu tenho de ir para um lugar desconhecido que com certeza não irá me receber bem, não consigo evitar me sentir abandonada. Meus pensamentos só param quando finalmente chegamos a estação, um trem grande vermelho e preto estava a nossa espera."Bem, então é isso"
A voz de meu tio saiu entrecortada, ele estava tentando se manter forte, esperando que eu tivesse alguma reação, caminhei com passos firmes em direção ao trem, mas ao chegar na metade do caminho me viro abruptamente e abraço meu tio tentando manter seu cheiro de tabaco e colônia masculina em minha mente para que não esquecesse, vários minutos se passam e eu finalmente o solto dizendo um tchau sem palavras e indo em direção ao trem.
Tento não olhar o futuro das pessoas em suas cabeças mas isso é quase impossível já que estou cercada de várias pessoas e vez ou outra eu olhava o futuro deles por pura curiosidade, assim que cheguei na porta do trem esbarrei em um garoto alto que já estava com as vestes da escola, coloquei a mão no nariz sentindo dor, o garoto me olhava com seus olhos azuis penetrantes e seu cabelo negro balançava ao vento, demorei alguns minutos para processar que deveria pedir desculpas e entrar.
Espero que vocês estejam gostando, vão acontecer muitas coisas ao longo da história e eu estou muito ansiosa para compartilhar essa história com vocês. 🥰
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como mudar a vida e desejos de um vilão
Fiksi PenggemarLorena é uma bruxa especial que pode ver o futuro das pessoas acima de suas cabeças, além de possuir a habilidade de ser imune a feitiços, imunidade essa que pode ser compartilhada com as pessoas mais próximas a ela, por ter essa habilidade ela é pe...