10: colorido aos meus olhos

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Eram dez da manhã quando eu vi Lisa toda arrumada como se tivesse indo pra casa de uma vó, cardigã vermelho e o cabelo muito bem penteado caindo sobre seus ombros largos, ela tem um pequeno cobertor em seu colo porque diz que as vezes sente frio quando vai na parte da frente do carro e por mais que eu tenha dito que não precisava ela ir ao meu lado, ela disse que iria me fazer companhia.

Eu ajudo ela a subir no carro e prendo o cinto de segurança perguntando a todo momento se estava bom, talvez eu tenha irritado ela um pouco com isso porque logo recebi um tapinha na mão e um "sai daqui".

  — por que sente frio na frente? — pergunto curiosa quando entro no carro e coloco o cinto também.

  — porque as pessoas me prendem forte demais nesses cintos e eu não consigo ir pra frente pra diminuir o ar. — ela olha pra mim. — você fez a mesma coisa.

  — oh... me desculpa. — ela da de ombros. — pode pedir se sentir frio.

Lisa olhou para frente meio perdida e quando comecei a dirigir vi que ela olhava pela janela algumas vezes e suspirava, eu sabia que Lisa tinha muitas limitações fisicamente mas eu sinto que a maioria delas também era mental... ela tinha dentro de si um peso grande demais o qual eu não sei se um dia eu saberia.

  — acha que vão cuidar bem do nossos filhos? — ela pergunta de repente e quando eu sinto seus olhos em mim, começo a ter uma quentura na bochecha alertando que minhas bochechas estavam rosadas de vergonha. — digo... Love e Kuma... eu não quis dizer que...

  — eu entendi. — foco meu olhar na estrada buscando um refúgio pra toda aquela vergonha.

A pequena cidade onde minha mãe morava ficava a duas horas de onde eu morava, o único empecilho para que elas viessem me buscar sempre era o fato de que elas e nem a mim tínhamos um carro para isso. Eu dava meu dinheiro todo pra escola e emergências que mal conseguia focar nessas necessidades minhas e poxa eu vivia bem, mas ter um carro seria uma boa... talvez agora eu consiga.

  — por que está sorrindo? — ouço aquela voz rouquinha me tirando dos meus pensamentos e quando a olho de canto de olho ela também sorri.

  — eu tava pensando que agora posso irei comprar um carro pra mim. — bato meus dedos devagar no volante.

  — isso deveria ser orgulho pra você. — ela diz com calma. — digo... você é tão inteligente, bonita, trabalhadora, engraçadinha... merece muita coisa ainda.

  — é a primeira vez que fala algo em meu favor sem me humilhar depois.

  — fique feliz que não te chamei de pobre.

Solto uma risada e nego com a cabeça, Lisa me fazia rir com coisas tão bestas e eu ficava feliz por sorrir de besteiras como essas.

  — e você tem uma babá!

  — você esta aqui para cuidar de mim caso eu tenha crises! Não é babá! — ela fala alto e eu rio mais ainda. — vou ignorar você... Tem falado com Roseanne? Ela não entrou em contato desde que foi para a reunião e eu tenho compromisso na segunda depois da fisioterapia.

  — até que enfim vai sair de casa... — resmungo e, apesar de a conhecer por pouquíssimos dias, eu sabia que ela havia revirado os olhos tentando ser arrogante mas o sorriso fofo que ficava em seus lábios fazia com que, na verdade, ela se tornasse fofa.

  — uma pena que tens que ir comigo, não aguento mais sua cara. — ela fala e eu mordo meu lábio. — como sua mãe é? Tenho que saber me portar.

  — você já errou na roupa... minha mãe tinha uma banda de rock quando era adolescente, ela viajava pela cidade com o cabelo colorido, anéis de prata nos dedos e roupas de couro falso. — explico lembrando das fotos espalhadas pela casa. — ela só parou de cantar quando engravidou de mim, e mesmo que eu tenha achado que era culpa minha, ela sempre deixou claro que me queria e que seu sonho nunca foi ser uma popstar.

Promessas e Lisa Manoban Onde histórias criam vida. Descubra agora