"Seja forte..."- essas são as palavras que ficaram empreguinadas na mente de Maryanne, assim que a catástrofe apareceu em sua porta e levou consigo a coisa mais preciosa que tinha... Seu pai! Apesar dos muitos bens que passou a ter depois da morte repentina de seu querido, Maryanne não conceguia ser feliz. Depois do acontecimento, Mary, como era chamada por seu pai, acabou se isolando do mundo e por três anos, se trancou no quarto do pai, de onde só saía para se banhar e fazer necessidades, o que era raro, já que quase não comia. Os empregados da mansão, acabaram tomando certas liberdades, apesar de serem muito dedicados e confiáveis, eles diminuíram o ritmo dos afazeres, e assim a casa também foi "morrendo".
Era início de semana na mansão, e os empregados estavam se alimentando na cozinha enquanto Cintia dava as tarefas a todos:
- Hoje é dia do grupo três lavar a sala e o grupo cinco... Não! Hoje é o grupo oito não é?!...- Cintia, a governanta da casa, tinha dividido os empregados em grupos de dez pessoas. Como não tinha muitos afazeres na casa, ela designava trabalho para dois grupos. Durante o dia inteiro esses grupos faziam todo o trabalho enquanto os outros empregados descansavam e passeavam pela cidade, e no dia seguinte os grupos eram alterados.
-Cintia... Hoje é o nosso grupo, lembra-se?- disse um dos empregados.
- Oh! Sim, o grupo dez... Claro!- exclamou Cintia terminando de dar as tarefas. Todos terminaram de comer e se retiraram, e na cozinha, ficaram apenas os serviçais, que eram os superiores aos outros empregados, Cintia e o mordomo, Carlos.
- Agora... Temos que fazer o sorteio.- Cintia pegou as cordas de tamanhos diferentes.- Quem pegar a menor irá levar o café da manhã pra Srta.Doberman. - Cintia relembrou as regras. Ela pegou as pontas das cordas e segurou uma delas na parte de cima, em seguida todos os outros quatro serviçais e Carlos fizeram o mesmo, e então Cintia soltou a ponta das cordas.
- Karla... Hoje a tarefa é sua... Devolvam as cordas- Cintia informou pegando as cordas e colocando em um dos bolsos do avental que usava.- agora todos façam sua tarefas. Carlos precisam de sua ajuda nos estábulos.- ordenou a governanta com palmas. "Droga. A temível tarefa ficou logo pra mim..." Pensou Karla enquanto sentava-se numa das cadeiras da mesa da cozinha, esperando que o lanche ficasse pronto.
Assim que o café da manhã de Mary ficou pronto, Karla o pegou na cozinha e se encaminhou para a escada, subiu para o segundo andar, caminhou até um ponto do corredor, até se deparar com a escada que dava para o terceiro andar, onde ficavam os quartos principais, entre eles o quarto do Sr. Doberman, onde Maryanne ficava, e de onde só saía para a praia que ficava atrás da casa. Os empregados quase nunca a viam, só os serviçais quando iam levar a comida para ela. "Não tirar nada do lugar... Não olhá-la nos olhos... Não falar nada a não ser que ela pergunte..." Enquanto subia as escadas Karla ia repassando o que ela não devia fazer enquanto estivesse no quarto. Bateu na porta.
- Senhorita... Seu café da manhã!- Karla disse e depois pensou" Droga, não era pra eu falar".
- Eu já sei... Entra.- Mary estava encolhida em um canto do quarto olhando para o lado de fora. Karla olhou para ela com pena. Ela tinha mais ou menos a mesma idade que Mary e crescera sempre trabalhando na mansão. Karla lembrava-se da beleza que Maryanne tinha, o que todo mundo elogiava o Sr. Doberman . Seu cabelos eram negro e enormes, um pouco mais abaixo da cintura, pois seus cabelos cresciam muito rápido, olhos claros, mas não chegavam a ser verdes, pele branca e corpo perfeito. Mas agora suas olheiras eram as primeiras coisas que se viam no seu rosto. Seus cabelos estavam sempre emaranhados e presos em coques ou rabos de cavalos na alto da cabeça, que agora deviam estar na altura de seus joelhos, por que já fazia três anos que ela não os cortava, e ela estava magra de mais, por isso perdera as curvas que seu corpo antes tinha. Karla colocou a bandeja em cima de uma mesinha e retirou-se. Antes de fechar a porta Mary soltou uivo de raiva, e Karla estremeceu.
- Ei! Você que trouxe essa bandeja... Entra aqui de novo.- gritou Mary. A garota entrou com o terror estampado no rosto.- Eu já não disse pra não colocar nada em cima das coisas do quarto!? Tudo tem que ficar intacto.- Mary rugiu
- Me desculpe senhorita, mas não mexi em nada!- Karla falou, mas logo se arrependeu.
- Ah! Você tirou a poeira do lugar, gostaria que ela também ficasse intacta...- ironizou Maryanne com muita raiva- Não importa! Só quero que não ponha aí em cima.- ela sussurrou.
- Desculpe senhorita, eu estava com os pensamentos longe...- disse Karla pegando a bandeja e colocando ao lado de Mary. Logo esta a pegou pela gola e disse com muita firmeza:
- Três anos e seus pensamentos ainda estão longe? Trate de trazê-los de volta. Preciso que eles estejam aqui, afinal você tem que trabalhar não é?!- então Mary a soltou e com um aceno a dispensou.
Maryanne pegou um bolinho e pôs na boca" Está doce de mais". Pensou ela.
Karla desceu assustada para o primeiro andar, entrou na cozinha sentou-se e pediu um copo de água.
- Meu Deus!- ela sussurrou consigo mesma.
- O que foi filha! Está pálida.- exclamou Carlos ao adentrar a cozinha.
- Sr. Carlos, quase morri lá em cima... Ela está maluca, está horrível.- Karla falou e bebeu mais um gole de água.
- Sim, minha filha, ela já não é a mesma. Ela precisa voltar a viver, todos precisam dela!- exclamou Carlos.
- De quem estão falando?!- perguntou Cintia, que acabava de entrar na cozinha correndo para pegar algo.
- Você! Voce não me avisou que não podia colocar a bandeja em cima da mesinha do pai dela... Eu podia ter morrido...- disse Karla se levantando e avnçando em direção a Cintia. Carlos a segurou pelos braços.
- O que aconteceu com ela?!- Cintia tentou saber.
- Acho que os micróbios que perambulam por lá mexeram com seu cérebro. Afinal não limpamos aquele lugar a três anos...- disse Carlos que, em seguida, recebeu um olhar de reprovação de Karla.
Cintia saiu correndo e rindo.
- Vamos temos mais o que fazer.- Carlos levantou-se e sumiu pela porta onde tinha saído Cintia.
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Presa no Passado
Historical FictionDepois da morte de seu pai Maryanne fica sem chão e não sabe o que fazer. As últimas palavras de seu pai foram " Seja forte." Mas ela se mostra indefesa ao mundo depois desse trágico acontecimento. O que fazer? Depois de três anos presa no grande ca...