Capítulo 1

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Sou Katherine Fell, estou sentada na varanda de minha casa com o meu caderno repousado no colo, tentando entender um maldito exercício de química. O vento forte trazia o cheiro das flores e das árvores, que invadem meus pulmões, causando uma sensação de relaxamento interior.

Com o canto do olho percebo uma movimentação estranha atrás de uma árvore robusta, coloco meu caderno sobe o sofá, começo à caminhar até o jardim, cautelosamente, quando me deparo com uma forma distorcida e horrível caminhando ao meu encontro.

Uma sensação gélida percorreu meu corpo; como se alguém tivesse deixando cair pequenos cubos de gelo em minhas costas; minhas mãos tremiam de puro pavor; comecei à caminhar lentamente para trás, enquanto o monstro me perseguia.

Ele era de uma estranheza absurda. Seu corpo era como de um lagarto; a pele verde musgo com escamas pontudas e afiadas; à cauda era enorme, com os mesmos espinhos afiados e protuberantes. Seus dedos eram longos e ossudos, com garras enormes e brilhantes à luz da lua. Seu rosto era assustador; no lugar da boca havia uma linha traçada friamente - seus lábios eram costurados -, e do lado saía um liquido escuro; como se fosse um ácido vermelho-sangue. Seus olhos eram duas órbitas negras e profundas, totalmente vazias e ao mesmo tempo cortantes.

Era uma espécie amorfa e realmente horrorosa - pensei. - Só podia ser um demônio.

O demônio correu em minha direção com suas garras expostas, prontas para me atacar. Comecei a correr o mais rápido que pude, porém, não fora o suficiente. Senti as garras do demônio em minha pele exposta; ele afundou suas garras em minha carne com agilidade, pude sentir toda minha pele sendo dilacerada com suas garras afiadas, gritei de dor e choque, eu sentia o sangue escorrer pelos ferimentos como uma cachoeira; denso e agonizante.

A criatura me jogou violentamente contra à porta de madeira de minha casa, senti à porta se espatifar atrás de mim por causa do impacto violento; as farpas entravem em minha carne.

Levantei cambaleante do chão e encarei o demônio; ele soltava um som estridente potente, que me fez sentir como agulhas perfurando meus tímpanos. Era uma espécie de uivo mortal misturado com um grasnido terrível. Comecei a correr pela escada íngreme, quando cheguei em meu quarto me tranquei rapidamente. Naquele momento eu sabia que, eu precisava de algo para matar aquela criatura.

Caminhei pelo quarto procurando alguma coisa que pudesse me ajudar a matar aquela espécie estranha e assustadora, sabia que demônios morriam com coisas feitas para exorcismos; como água benta, crucifixos e bíblias. Porém, onde eu acharia isso?

- Como eu; uma garota normal de 20 anos, que mora com os pais em Toronto, que ainda está no último semestre de faculdade e que ainda procura um emprego, passa por isso? - Pensei. - Nunca sequer imaginei que pudesse existir demônios na terra. Jamais pensei que eu seria uma vítima de um.

Sentia as lágrimas escorrerem por meu rosto sujo de sangue, o gosto amargo dominou minha boca, ânsia de vômito martelou em meu estômago, minhas pernas cederam de exaustão, caí no chão de joelhos e coloquei o rosto entre as mãos.

- Oh Deus! Porque isso está acontecendo, justo comigo? - disse em meus pensamentos. - Oh, o que eu fiz para merecer tal absurdo em minha vida?

Naquele momento percebi que, chorar e me lamentar não resolveria nada daquela situação tão aterradora, eu precisava levantar e ir lutar com toda à coragem que eu conseguisse reunir naquele estado em que me encontrava. No fundo de minha mente, uma voz sobressaía aos outros pensamentos. Uma voz rouca e firme; meu pai.

- Katherine, se algo acontecer e não estivermos em casa, vá até nosso quarto e olhe debaixo da cama. - Disse à voz.

Corri até o quarto de meus pais, silenciosamente, tomando o máximo de cuidado possível para que o demônio não me escutasse de lá debaixo. Empurrei à cama e comecei a apalpar a madeira; o que quer que papai havia mencionado, estava ali. Joguei uma tábua fora e apalpei o compartimento, agarrando uma maleta. Com um alivio, abri a maleta. A sensação de alivio desapareceu quando observei as coisas que ali continha; vários crucifixos, várias bíblias, várias cápsulas contando água benta, e várias armas de tamanhos variados.

O demônio se aproximava rapidamente do quarto, eu conseguia ouvir seus passos pesados na íngreme escada. Peguei as balas e as mergulhei na água benta, peguei os crucifixos e os enrolei nos meus pulsos, em seguida, coloquei as balas numa arma preta pequena e me levantei, determinada.

Caminhei até a porta e me aproximei, cautelosamente, enquanto ouvia os passos se aproximando de onde eu estava. De repente, à porta voou em minha direção, acertando-me violentamente no rosto, atirando-me contra o chão com tamanha força que senti minhas costelas quebrarem. O sangue amargo martelou em minha boca, enquanto eu apalpava a bochecha.

O demônio entrou no quarto e soltou um grasnido assim que viu deitada no chão; ele se aproximava tão rápido, que lembrava uma fumaça. Levantei do chão e peguei à arma num impulso, corri entre os degraus da escada e me posicionei perto da porta estilhaçada. A criatura pulou e aterrissou, habilidosamente, no chão à centímetros de mim, ele bateu suas garras em meu braço, fazendo com que à arma voasse para à cozinha, tive que engolir à seco o nó que se formava em meu estômago. Ele veio para cima de mim com suas garras mortíferas prontas para me atacar.

Desviei de seu ataque no mesmo momento em que quase suas garras atravessassem minha pele da coxa. Peguei à arma que estava perto do balcão e a empunhei com veemência. Atirei uma vez e pude ver à arma atravessando seu peito, fazendo um liquido preto escorrer de seu ferimento, aproveitei à oportunidade e lancei crucifixos em seu rosto - como se aquilo pudesse chamar de rosto -, e pude ver ele se contorcendo.

O demônio correu em minha direção e passou suas garras na pele de minha cintura com veemência. As garras rasgaram minha carne e se afundaram em meus ossos, gritei roucamente, as lágrimas desciam de meus olhos com força; mordi o lábio e apalpei o mais novo ferimento em minha cintura.

Eu estava morrendo.

Reuni toda à força que ainda me restava e empunhei a minha arma. Tudo ao meu redor parecia desmoronar; uma dor lancinante dançava por meus ossos puídos, o sangue encharcava minhas roupas, meus joelhos tremiam e minha garganta estava seca e com gosto de ferro. Estava morrendo.

Lembrei-me de minha família; dos momentos felizes e das risadas histéricas que compartilhamos; pensei em meus amigos e também, nas coisas que eu vivi e que, queria viver. Toda minha raiva, ódio e dor assumiu meus pensamentos, nublando tudo que havia de racional ali. Atirei 7 vezes no demônio com as balas encharcadas de água benta; naquele momento, eu sabia, havia vencido.

O demônio grasniu o mais forte possível enquanto se contorcia de dor, ele estava começando a se arranhar, deixando o mesmo liquido preto lustroso escapar dos arranhões; ele próprio estava se matando. De repente, ele explodiu e só pude ver o sangue preto voando pelos ares, me atingindo como uma chuva densa e fedida.

Dei um sorriso de canto apesar da exaustão e das dores, comecei à caminhar, encontrando o sol se pondo límpido no horizonte à diante.

segredos sombrios;; 🌹Onde histórias criam vida. Descubra agora