A Vingança. -Série Família Bellini V.

Capítulo 01.

Helena Luccacio

O barulho das ondas preenchem a minha audição, o vento espalha os meus cabelos e me sinto privilegiada em ver novamente o pôr do sol em uma das cidades mais lindas do mundo, aliás, em um dos países mais lindos do mundo. Brasil.

Não é minha terra natal, o sangue italiano corre em minhas veias, apesar de ter vivido pouco tempo naquela terra. Vim cedo para o Brasil, e não me recordo de muitas coisas até estar por aqui. Sempre tive uma infância tranquila, repleta de carinho, apesar do meu pai ter estado viajando bastante, ele sempre me fazia sentir acolhida, sempre me fazia lembrar do mesmo.

  Me apaixonei por esse país, a cultura, as pessoas animadas, as festas comemorativas que duram dias, o país é caloroso, não apenas pelo sol - que as vezes chega a maltratar - mas também, pelas pessoas animadas, pelos sorrisos, pela agitação. Gosto de viver aqui.

  Caminho devagar pela orla da praia de São Conrado, a noite já está chegando e sempre que consigo gosto de aproveitar para assistir o pôr do sol, ver a coloração amarelo-alaranjada se despedir para a noite escurecida me faz refletir sobre tantas coisas.

  Uma delas é sobre o quão grata eu sou pela minha vida, nunca houve nenhum tipo de acontecimento que pudesse me entristecer ou me fizesse sentir raiva de viver. Minha personalidade foi forjada da melhor maneira possível e fico feliz com isso, com esse privilégio, porque consigo entender que nem todos tiveram a mesma chance, a oportunidade de ter uma vida tranquila.

Sou sanguínea, então agitação, falação, espontaneidade, sorrisos soltos, fazem parte de quem eu sou, e gosto que isso defina a minha personalidade. Apesar de gostar dessa parte do meu temperamento, existe a parte negativa, como qualquer outro, a impulsividade. Tomo decisões no calor das minhas emoções, que posso dizer, são uma loucura.

Leitora apaixonada, sei que tenho minha sensibilidade para as artes aflorada, consigo sentir isso quando estou caminhando por um parque e tirando histórias de romance de casais que estejam passeando. Gosto de imaginar a vida delas, o drama e romance que os rodeiam.

Como eu disse, tenho um olhar sensível, e apesar de imaginar histórias bonitas, calorosas e com uma pequena pitada de tristeza, para dar um charme na história, nunca consegui viver algo assim, nunca tive a oportunidade de poder viver uma história de amor, e me acho até um pouco boba por imaginar tanto isso. Mas gostaria.

Uma vez, algo estranho aconteceu e com minha mente de leitora apaixonada logo pensei em um breve romance, fui atravessar uma rua e um carro estava vindo em minha direção, um homem, que não sei de onde surgiu, me puxou e me protegeu para que o carro não me alcançasse, caímos os dois no chão com a rapidez do movimento. Foi a cena mais clichê de toda a minha vida, mas confesso que meu coração ficou batendo rapidamente em todo o momento.

Não apenas pelo fato do quase acidente que me aconteceu, mas quando eu vi o homem que fez aquilo, que me puxou em proteção... Ele era lindo, lembro dos olhos marcantes, da mandíbula preenchida, dos cabelos escuros, a intensidade com que batia o olhar em mim... foi diferente. E único.

Mas depois daquele dia, nunca mais o vi em minha vida, também não é como se esperasse encontrá-lo, estava naquele país, a França, apenas para visitar o meu irmão mais velho, que vivia insistindo para que morasse com ele, mas que não fiz. O Noah é bastante protetor quando se trata de mim, apesar de viver longe, sempre ficou preocupado comigo, ainda mais por ele e meu pai não se darem tão bem. E não me meto nisso.

Escuto um breve grito e olho ao meu redor, encaro a mulher correndo animada em minha direção, abro um sorriso vendo a minha amiga chegar junto de mim e me abraçar. Aline é carioca, nos conhecemos desde pequena, ela sempre foi essa pessoa animada, divertida e meio louca.