Luísa dormia.
Otto, entretido, sentado ao seu lado na poltrona do hospital, deslizava lentamente os dedos pelos cabelos dela. Os fios escuros emaranhava-se sob seu toque, a expressão de serenidade no rosto dela tão diferente de algumas horas atrás, quando ela lutara pra trazer ao mundo a filha dos dois.
A filha. Dos dois.
O pensamento faz Otto sorrir. Ainda não se acostumara com essa realidade, aonde Luísa não apenas desempenhava o papel de uma verdadeira mãe na vida de Poliana. Agora ela era sua mulher. E a mãe da sua filha caçula. Pensar em Aurora faz seu sorriso aumentar. Não tivera muito tempo com ela - segurara-a por poucos minutos entre o tempo que a bebê passara nos braços de Luísa e a enfermeira levá-la para que Luísa pudesse descansar. Não queria sair do lado da esposa, mas a enfermeira insistiu que ele saísse um pouco enquanto banhavam Luísa do suor e sangue do trabalho de parto e a transferiam para um quarto, então ficara uns minutos pelo vidro da maternidade olhando a garotinha com Poliana e Glória, que agora tinham ido pra casa descansar um pouco antes do horário em que o hospital permitiria que Luísa e a recém-nascida tivessem visitas.
- Senhor Pendleton?
Sua atenção foi direcionada para a enfermeira que chamava em tom baixo pelo seu nome enquanto entrava no quarto. Imediatamente seu olhar recaiu sobre a trouxinha cor-de-rosa que ela trazia nos braços.
- Que bom que ela está dormindo. Pode deixá-la descansar mais um pouco, mas se daqui a pouco não acordar sozinha precisaremos chamá-la para amamentar o bebê. Pode ficar com ela até a mamãe acordar? Se precisar de alguma coisa, tem um botão na parte superior da cama da sua esposa. - Otto confirma. Com cuidado, a enfermeira transferiu a bebê para os braços do pai e depois saiu do quarto silenciosamente.
Inseguro a princípio, Otto olha com receio o pacotinho minúsculo em seus braços, mas o instinto logo fala mais alto e o medo some, dando lugar a emoção de ter a filha em seu colo. Com cuidado, ele afasta o cobertor que cobria parte do rostinho adormecido de Aurora e a ajeita melhor no antebraço, de forma a observar cada detalhe da filhinha dele e de Luísa.
Os fios eram abundantes e escuros como os cabelos de Luisa que ele acariciara há pouco. Otto lembra por um instante de um comentário da mãe durante a gravidez, de que o bebê provavelmente teria muito cabelo já que os enjoos de Luisa tinham sido frequentes. Ele nunca acreditou em crenças populares, mas agora pensou com um sorriso se realmente não teriam alguma razão de ser. Com carinho, ele acaricia com o dorso dos dedos o rostinho sereno, a pele absurdamente clara e macia ao seu toque. Os pequenos lábios eram carnudos como os da mãe, as bochechas perfeitas, o nariz levemente arrebitado e o queixo pequeno e harmônico completando o rostinho. Ele sorria ao se dar conta de que segurava uma miniatura perfeita de Luisa nos braços quando os pequenos olhos se movem antes de se abrirem e ele se deparar com um par de olhos exatamente iguais aos seus.
- Oi, filha... Como é bom finalmente ter você aqui com a gente. - A bebê o olhava seriamente, como se entendesse quem ele era. Os meses conversando com ela ainda na barriga de Luisa certamente colaboravam com isso. Ele dá um beijo suave na testa da bebê antes de continuar falando baixinho. - Eu sou seu pai. Daqui a pouco você vai conhecer sua vovó e sua irmã, seus tios e todos os seus primos... Você não imagina o quanto todos nós esperamos por você, Aurora.
A menina pega no dedo do pai e aperta com uma força surpreendente. Surpreso e encantado com o gesto da bebê, ele beija os dedinhos minúsculos.
- O papai não é muito bom em falar e demonstrar o que sente, sabe, filha. Mas sua irmã e sua mãe já me ensinaram muito a melhorar nisso, e sei que você também vai me ensinar. Prometo que vou sempre ter todo o tempo do mundo pra você. Que vou valorizar cada momento com você como não pude fazer com suas irmãs e que vou sempre me esforçar pra aprender a ser o melhor pai do mundo pra você e pra Poli.
Ele fica uns segundos em silêncio acalentando a pequena em seus braços. A voz suave de Luisa o tira do transe em que ele estava com a bebê.
- Você já é, Otto.
Ele retribui o olhar de carinho de Luisa e sorri, levantando-se da poltrona e indo até ela, dando-lhe um beijo suave. Luisa senta-se contra os travesseiros, abre espaço pra que ele suba na cama e é o que ele faz, sentando-se ao lado dela depois de passar Aurora pro colo da mãe. Eles ficam uns segundos em silêncio admirando a menina, que observava os pais com olhos bem despertos e atentos.
- Eu estou tão feliz e ao mesmo tempo tenho tanto medo.
Ela volta o olhar pra ele, surpresa com a confissão.
- Medo de não ser um bom pai. Medo de não estar por perto quando ela precisar, medo de que isso seja bom demais pra ser verdade. Mas ao mesmo tempo, quando eu olho pra ela... - Ele sorri ao olhar a bebê novamente segurando seu dedo com força. - Me sinto a pessoa mais forte do mundo. Sinto que tudo pode dar certo e que chegamos no nosso felizes pra sempre. Faz algum sentido?
Luisa ri. Ela apoia a cabeça contra a curva do pescoço do marido.
- Faz todo o sentido. Eu me sinto igual... Acho que todos os pais do mundo também passam por esse dilema, amor. O que a gente pode tentar fazer é dar nosso melhor. A gente vai falhar as vezes, acertar outras... Mas enquanto tivermos uns aos outros tudo vai ficar bem.
Ele sorri, concordando com a cabeça, ainda em silêncio.
- Você lembra do que você me disse durante o trabalho de parto? - Ela ergue o olhar pra ele. - Eu estava apavorada... A dor é absurda e perto do fim eu achei que não ia conseguir. Aí você falou: "Você é tão forte e eu te amo tanto." Ali eu tive força pra continuar, ali eu soube que ia dar tudo certo, porque você estava comigo. - Luísa ergue a mão até tocar o rosto dele, os olhos cheios de lágrimas. - Você é o melhor marido que eu poderia querer, e nossas meninas têm o pai mais incrível do mundo, Otto. Nunca duvide disso, tá bem? Você é tudo que a gente precisa. Vai ficar tudo bem. A gente conquistou nosso final feliz.
Os olhos acinzentados dele encontraram os verdes dela, ambos emocionados com tudo o que estavam vivenciando.
- Eu te amo, Luísa.
- Eu também te amo. - Ela acaricia o rosto dele de leve. - Obrigada por realizar meu maior sonho.
- O prazer foi todo meu.
Ela ri, maliciosa.
- Metade foi meu...
Eles riem. Dessa vez o beijo foi mais longo e cheio de carinho, só sendo interrompido quando Glória e Poliana irromperam pela porta, cheias de balões, flores e sorrisos.
- Foi aqui que pediram uma avó e uma irmã babonas? - A garota pergunta, rindo ao perceber que interrompeu o beijo deles. - Ops, desculpem! Temos que voltar depois? Mas vou levar minha irmã.
- Engraçadinha. - Rindo, eles saem da bolha deles para receber os membros da família que também estavam ansiosos pra fazer parte daquele momento de felicidade.
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One shots - LuOtto
Novela JuvenilApenas uma LuottoShipper que ocasionalmente escreve algo "como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer.