Mensagem da autora**
Olá, este é o meu primeiro livro. Por favor ignorem quaisquer erros que possam haver. Agradeço críticas construtivas e dicas, pois sou novata aqui. Obrigado por lerem. Vou tentar escrever um capítulo por semana, pelo menos.
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-Menina?
Hope Johnson olhou para os lábios finos e gretados que a tinham chamado "menina", mas não respondeu. Talvez fosse a secura dos seus próprios lábios que a impediu de os separar, ou talvez a falta de força para comunicar com outro ser humano, nesse momento. Tudo o que lhe enchia a mente era o ruído de fundo da esquadra, o frio da cadeira onde se sentava, frio cortante que escapava pelo tecido fino das leggins pretas que tinha vestidas, e o facto de se sentir suja. Olhou para as mãos, que estavam tão limpas quanto o habitual, de uma cor pálida e unhas pintadas de preto, mas sentia-as sujas. Uma vontade irritante obrigava-a a esfregá-las, como se a sujidade imaginária fosse sair dessa forma.
O homem, já de uma idade razoável, tinha uma expressão calma e misericordiosa, como se tentasse demonstrar que partilhava a dor de Hope, mas ela tinha noção de que não passava de mais uma das hipocrisias da sociedade. Bem, talvez o homem fosse realmente simpático, ou talvez ele só quisesse fazer o seu trabalho, de qualquer das formas nada lhe importava.
Ouvia a voz do homem, frases ocas fugiam-lhe por entre os lábios, mas era apenas mais ruído branco, numa sala cheia. A sua cabeça andava a mil à hora, e um sabor amargo incomodava-a seriamente. Este sabor amargo acompanhava-a e pairava na sua língua desde que saíra daquela casa de banho. Eram o sabor amargo e o cheiro esquisito. Um cheiro pestilento, demasiado forte para aguentar, e ela não entendia de onde vinha. Provavelmente seria dela, e sabia bem porquê, mas era demasiado doloroso relembrar.
A imagem da amiga deitada no chão da casa de banho, banhada no seu sangue, o seu corpo inerte e a sua expressão pálida e tão morta quanto ela devia estar, era algo que não lhe saia da mente, como pastilha elástica numa sola cheia de cavidades. O cheiro que estava entranhado no seu nariz devia ser o mesmo cheiro que pairava naquela casa de banho mais manchada que um cenário de um filme do Hannibal, e provavelmente o sabor deveria ser causado pelo mesmo. Este pensamento dava-lhe a volta ao estômago, e queria vomitar. Queria vomitar tudo o que tinha no estômago, na esperança que vomitasse essa imagem também, juntamente com a bílis.
-Menina... Hope, não é? Ouça, eu sei que isto é muito difícil. Não imagino no que deva estar a pensar, ou o que deva estar a sentir, mas têm de me ajudar, sim? Precisamos de...
Sabe do que eu preciso?
Ou isso não importa?
-...se haveria alguma razão de que tenha conhecimento...
Razão?
Para desistir?
Para quebrar uma promessa?
Para me deixar?
-Menina?
Ela apercebeu-se de que o homem olhava para ela agora, cada vez mais preocupado. Bem, pelo menos era essa a expressão que transparecia mais.
-Menina, por favor diga algo.
Ela tentou separar os lábios, que permaneciam colados. Olhou em seu redor e via várias secretárias como a que estava entre si e o homenzinho. Em muitas delas estavam pessoas que conhecia. John, Mary, Allison, vários colegas, muitos da sua turma e a de Emma, mas outros só conhecia de vista.
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A alma de Michael
RomanceHope, de dezassete anos, encontra a amiga morta na casa de banho. É suicídio, sem discussão, e tem de aprender a viver com isso. Mais uma perda para a lista, e quando finalmente começa a conseguir balançar a sua vida de novo, deixa-se envolver na vi...