Capítulo 6

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-Foda-se, que merda.

-Relaxa, meu. Aproveita o descanso!

Michael olhou para o copo de papel com café frio. Não entendia como podiam gostar de beber aquele líquido de cor castanha. Fazia-o lembrar merda líquida, servida quente.

Tinha sido uma tarde calma, demasiado calma para o seu gosto.

-Que merda! Detesto estar parado.

-Eu sei, meu – afirmou Alex – Mas não posso fazer nada. Nem tu.

-Hum-hum – concordou e observou o interior do café. Tinha cores quentes e temas que lhe faziam lembrar o Rei Leão. Não tinham quase clientes nenhuns, e quando tinham, decidiam levar o café consigo para onde quer que fossem de seguida. A rapariga do balcão tinha uma expressão pouco agradável, ao falar com a clientela, e muita dela, ao afastar-se do balcão, resmungava disso.

-Então e a miúda do suicídio... Como se chama de novo?

Ele virou a cara para Alex tão depressa, que sentiu o pescoço a estalar. Não entendia porquê o súbito interesse, mas tinha a certeza de que não iria gostar de onde aquela conversa iria dar – Hope Johnson.

Alex ergueu a sobrancelha direita – Então e esta... Hope Johnson. O que tem ela de especial?

-Olha, não me vais começar a chatear, pois não?

Alex distanciou-se ligeiramente da mesa – Michael, sabes bem que eu não sou o Greg. Quero saber o que andas a fazer. Andas muito estranho, nunca, mas nunca, te interessas por uma mulher assim. Quanto mais, por uma miúda!

-Eu não estou interessado.

-Não? Então preocupas-te com ela, assim do nada? Foi empatia? Michael Hill realmente preocupa-se com outro ser humano que não ele mesmo?

Isto não o magoava. Sinceramente, ele não podia importar-se menos com o que os outros pensavam. Podia ser o cabrão frio que era, mas preferia ser assim. Não saberia ser de outra forma, mesmo que quisesse.

-Não sejas idiota.

-Vá, agora a sério. Conta-me.

-Não sei, meu. Não sei mesmo. Ela é...

-É...?

E o que era ela? Ela não era perfeita. Vira-a deitada no chão, ensopada em sangue, com um alto vermelho na testa. Vira-a sem maquilhagem, a chorar e até a gritar. Mas também a vira a sorrir. Era um sorriso contagiante. Tinha uns olhos que o faziam lembrar do mar, lábios que o faziam lamber os seus, como um cão, para não falas das curvas dela que o deixam sem reação. A voz dela era algo de que ele parecia não enjoar. Tudo o que ela dizia era bem pensado, não eram apenas ideias ocas mandadas para o ar, de forma a parecer inteligente. Tinha bom coração e era forte. Mais forte do que ele. Fora a primeira pessoa a sequer pensar em desafia-lo, ou confrontá-lo, após estes anos todos. Após ter criado a barreira que o protegia do mundo lá fora.

-Impossível.

-Impossível? E isso é bom?

-Ela desafia-me. Ela irrita-me profundamente.

-Ah... - Alex coçou a cabeça – Outra vez, isso é bom?

Sim.

A alma de MichaelOnde histórias criam vida. Descubra agora