Capítulo 11

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Eu tinha algumas reuniões do concelho para atender hoje, não sei o motivo da minha presença nelas, já que não são importantes, e eu não tenho outro papel ali a não ser assistir homens velhos tomarem decisões para o futuro do reino, sendo que eles claramente são o passado, e não sabem o que estão falando.

Como eu prefiro evitar brincar com a sorte por hoje, preciso achar um guarda para me acompanhar pelo dia, não quero brigar com meu irmão ou ficar sozinha com ele novamente. E acho que a melhor decisão por hoje é evitar minha mãe também, não quero brigar com ninguém por enquanto...

No meu caminho para a sala onde a primeira reunião do concelho iria acontecer, eu peço para um dos guardas que estavam no caminho me dizer onde o guarda Smith estava, ele provavelmente saberia onde Tessa estava também, já que são irmãos... Certo?
A única resposta que eu tive do estranho guarda foi que mandaria eles me encontrarem assim que possível, mas eu não vou me arriscar em uma sala onde pessoas influenciadas pelo meu irmão estão todas juntas, não depois do que eu fiz algumas horas antes.

Resolvo ir atrás dos meus mais novos guardas particulares pelo castelo, e pelo menos se eu me atrasar para a reunião vou ter uma entrada dramática. Não demoro muito tempo para encontrá-los, quase suplicando para eles me acompanharem na reunião e por pura sorte depois de ter explicado o motivo do meu quase desespero, eles tiveram pena e aceitaram me acompanhar.

Quando finalmente cheguei para a reunião todos os conselheiros já estavam ali, somente me esperando para começarem. Peço para o Marcus e para a Tessa abrirem a porta, os deixando entrar primeiro comigo logo atras. E assim que deram três passos dentro da sala abriram espaço para eu ir na frente até meu lugar na mesa. Todos os presentes ficaram me encarando até o momento em que me sentei e pedi para começarem, Tessa e Marcus ficaram de pé atras de mim, nunca deixando meu lado, ou tirando as mãos das espadas presas na cintura.

A reunião se passou relativamente rápida, comigo somente fazendo comentários quando chamada na conversa, mas sempre atenta aos problemas relatados, é do meu povo que estão falando afinal de contas.

Os olhares estranhos não me passam despercebidos durante toda a reunião, sempre olhavam os dois guardas atras de mim com receio, provavelmente porque sabiam que eles não obedeceriam a nenhum membro do concelho que estava ali. O que me deixou com uma sensação incrivelmente boa, ver todos beirando o desespero antes de falar comigo foi algo que muito dificilmente vou conseguir novamente, por isso é bom eu aproveitar enquanto isso dura.

Faço uma nota mental de tudo falaram para anotar depois, e ir ao vilarejo confirmar se ouviram falar algo assim, sei que o dever do concelho e avisar sobre o estado dos outros domínios da coroa, mas aqueles homens não são confiáveis. Estão sempre inventando problemas que precisam de uma quantidade enorme de dinheiro para serem resolvidos, somente para ficar com o dinheiro para eles. Mas eles estão a tempo no poder, então não posso simplesmente expulsá-los do comando quando assumir a coroa oficialmente.

No momento em que eu piso fora da sala de reuniões, dispenso Marcus, mas mantenho Tessa comigo pelo resto do dia. Depois de pedir se ela não tinha nenhum outro dever importante pelo dia. E como a pessoa gentil que ela é, ela disse "Eu tenho, mas você é minha rainha, por tanto é mais importante." O que se eu estiver sendo totalmente sincera, fez meu rosto ficar vermelho, e meu coração errar algumas batidas.

Passamos o dia juntas, e obviamente eu não fiquei trancafiada no castelo por muito tempo, a fazendo me seguir para a floresta novamente, ouvindo ela dizer que eu não poderia andar tanto por conta do tornozelo torcido, mas não estava mais doendo e eu não estava preocupada com isso, já que qualquer coisa, ela me levaria novamente até o castelo.

A fiz me seguir até uma clareira que tinha no meio da floresta, era um lugar mais longe do castelo e do vilarejo, então era mais calmo e limpo. A clareira ficava perto de um pequeno rio que dava para um lago não muito longe dali. As arvores cercavam o lugar de forma quase não natural. Não era uma clareira muito grande, o que a deixava mais escondida, e particular.

O riacho era cercado quase completamente por grandes pedras, e era possível ouvir o barulho da água correndo, e o canto de alguns pássaros. Puxei Tessa para sentar-se no meu lado, em uma das pedras que tinham ali.

Abraço meus joelhos apenas observando a água correr. Ficando em total silencio por alguns minutos. Tessa tinha deixado a armadura no meu quarto no castelo, para ninguém notar seu sumiço, e para evitar colocar ela em algum tipo de problema, que eu não teria como proteger ela.

— Como você achou esse lugar alteza? — Virei para encará-la, deitando a cabeça nos meus braços e joelhos.

—Bonito, não é...? Achei por acaso enquanto caminhava um dia... —Uma mentira... Amelia me mostrou esse lugar em um dos dias que eu tinha fugido para ficar com ela.

—Espere um pouco minha princesa, já estamos chegando... Garanto que você vai gostar... — Amélia tinha suas mãos cobrindo meus olhos enquanto me guiava pela floresta.

— Como posso ter certeza de que não está planejando me matar, e abandonar meu lindo corpinho na floresta? — Escuto sua risada sair um pouco abafada por de trás de mim, e não consigo conter o sorriso ao ouvir tal som. Uma das coisas que mais gosto de ouvir é a risada de Amelia... Ainda não sei como algo pode soar tão angelical quanto sua risada.

— Não posso te matar meu bem... O que acha que fariam comigo?

—Tem razão.... Mas ainda assim, nunca se sabe o que se passa por essa cabecinha.

Caminhamos por mais um tempo, até ela tirar as mãos dos meus olhos, me permitindo ver a pequena clareira, me deixando sem reação com a beleza do lugar...

Sinto meus olhos começarem a lacrimejar, e desvio o olhar para frente, segurando à vontade de chorar na frente dela... Vejo sua expressão começar a mudar para preocupação, então tento continuar minha frase ignorando o nó que se formava na minha garganta.

— Devia ver no pôr do sol... A luz bate no topo das arvores, e fica simplesmente incrível... Fica ainda mais bonito. E depois que chove? ... Nossa, a vista do lago depois que acabou de chover no fim da tarde deixaria o Éden sem graça... — Percebo que ela só estava me encarando, e resolvo parar de falar... Ninguém gosta de ouvir alguém falar tanto, e ainda mais sobre algo chato. — Desculpe... Eu divaguei um pouco...

Sinto minhas bochechas esquentarem de vergonha quando tudo que ela faz é dar um sorrisinho, e pedir para eu continuar em um sussurro.

— Não precisa me ouvir falando sobre isso, eu sei que é chato... Não faça isso só com medo de perder o emprego, porque não vai acontecer. Não se preocupe. Além de tudo, não quero te deixar entediada...— Ela pega meu queixo, me forçando a encará-la, e vejo sua testa franzida como se dissesse "Quem te falou tal absurdo?"

—Calisya, jamais, e eu estou dizendo JAMAIS, repita isso. Entendeu? Quero ouvir mais sobre a paisagem do lago... Gostei do jeito que você falou. E eu te escutaria falar sobre musgos se você falasse com o mesmo brilho no olhar. Então nunca mais repita que é chato, e que me entediaria. Entendido? — Seu tom de voz era sério, e sua expressão ficou ilegível até eu assentir com a cabeça, e ela me dar um sorriso soltando do meu queixo — Ótimo. Agora sobre o lago... Pode me mostrar algum dia?

— Hm... Posso pensar no seu caso Smith... — Dou um pequeno sorriso para ela, que solta uma pequena risada, e nega com a cabeça.

Caímos em um silencio confortável por mais alguns minutos, e eu decidi deitar minha cabeça em seu ombro. O que parecia ligeiramente mais confortável que minha posição atual, e ela –acho que por reflexo- abraçou minha cintura, fazendo carinho nas minhas costas. O que me deixou com um pouco de sono, já que sua presença era confortante demais para ignorar.

— Se continuar com o carinho, vou dormir rapidinho... — Novamente ela dá uma risada baixa, o que me faz sorrir em resposta, me acomodando um pouco melhor nela.

— Você, querida Calisya, precisa dormir durante a noite sabia? Assim não ficaria com sono toda vez que está comigo...

Talvez se você estivesse comigo, não teria tanto problema dormindo...

— Você está certa... — sussurro, me sentindo mais cansada que antes — Só... É difícil dormir durante a noite sem companhia. Me acostumei a sempre ter alguém comigo... — Solto um bocejo — Talvez você consiga me ajudar com isso também?

Escuto ela soltar uma risada nasal, mas antes que eu tenha tempo de me arrepender do que acabei de falar ela responde simples antes de eu me entregar completamente ao cansaço.

— Talvez eu consiga sim, alteza...  

Flores para um coração congelado Onde histórias criam vida. Descubra agora