Memories

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A chuva torrencial cai lá fora, castigando os que se atreveram a sair das cobertas quentes e confortáveis de suas casas, eu sou uma das castigadas. Me espreguiço no meu banco e volto a inclinar minha cabeça na janela do metrô, o dia nublado está perfeito. Em meu ócio, noto na rua um carro passar, o que me chama atenção é sua cor, é a cor dela. Quantos verões já não devem ter se passado? Será que ela está bem? 

Pensamentos traiçoeiros. 

Os verões passaram tão veloz e impiedoso, regressando a determinado verão, em que ela tinha tudo nas mãos… Ah destino maldoso! Ela só precisa dizer uma palavra e como num estalar de dedos, tudo seria resolvido pq quando se ama de verdade, tudo pode ser providenciado, mas ela não falou e eu cansei de lutar. 

Desistir dela, do futuro, de nós foi a decisão mais difícil de tomar, porém a mais saudável, pois o último abraço… A despedida, foi como um inverno rigoroso no Alaska frio, sem cor, sem sol e sem luz. Ela havia levado tudo.

Sem contato dês aquele último verão, porém com momentos iguais a esse, onde algo tão pequeno como a cor de um carro ao passar na rua, me faz recordar dela e os pensamentos traiçoeiros querem me levar ao lugar onde demorei incansáveis verões tentando sair. Com os olhos bem fechados, repito mentalmente o meu mantra "Ela está bem, não mande mensagem. Ela já tem outro alguém e você também. Ela escolheu não estar aqui." Respiro fundo e volto a olhar pela janela, o carro seguiu seu caminho em meio a multidão, não a mais chuva lá fora e de forma tímida o sol tenta aparecer, por mais que as nuvens carregadas estejam presentes. 

A voz da mulher do metrô anuncia a próxima estação, é a minha. 

Levanto do meu lugar e me encaminho a porta, dois minutos depois a condução para e as portas se abrem na estação, e ali perto das escadas, mexendo distraidamente no celular (provavelmente me mandando uma mensagem) está aquela que me disse todas as palavras e que num estalar de dedos, me fez enxergar um horizonte mais colorido. Ela parece sentir meu olhar sobre ela, ao me ver sorrir, retribuo o sorriso,  me aproximando. Ela me abraça apertado, porém rápido e me beija.

Poxa Amor, demorou - Ela faz manha e acho graça. Fico ali somente admirando, seu jeitinho doce - Vamos pra casa? 

Ela estende a mão e eu a pego sem hesitar, ela nunca hesitou.

Vamos, amor. 

Com um sorriso leve e com aquela, que hoje sei ser a certa, sigo meu caminho. Compreendo mais minhas dores com maturidade e compreendo minhas saudades, e sei que aquele amor ficou para sempre naquele verão passado, que hoje em meio ao inverno, tenho motivos para sorrir. 

A culpa é do Corvo.Onde histórias criam vida. Descubra agora