Wedding

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A mente funciona de formas estranhas.

A de Neteyam mostrou-se realmente diferente das demais, ao menos, nos últimos anos. Ao ser atingido por um projétil bem no peito, sua mente mostrou-se o mecanismo mais poderoso de todos, bloqueando qualquer possível memória traumática.

A mente funciona de formas estranhas e mesmo depois de se conectar a Aonung, naquela noite fresca dois anos atrás, sua memória não havia voltado por completo. Algumas coisas Neteyam acreditava que estava em sua mente por ter se convencido piamente de que aquela era uma memória sua e não de Aonung, outras coisas foram realmente voltando para sua cabeça rachada como um soco no estômago, dolorido demais, real demais para ser simplesmente ignorado. Outras, uma pequena parcela das memórias em sua mente, eram confusas demais e Neteyam acreditava que em algum dia elas se tornaram algo mais compreensível, porém desde seu despertar de seu coma, ele não havia conseguido um progresso considerável.

— Ma'Teyam? — a voz de Aonung soa em suas orelhas. Usando a capa alaranjada que um dia fora de seu pai, o atual Olo'eyktan adentra no marui com o cenho franzido, preocupado com a demora do parceiro em sair da cama naquela manhã.

Havia tomado o lugar de seu pai alguns meses após sua ligação com Neteyam. O Omatikaya lembrava perfeitamente o quão assustador - senão cômico - havia sido a reação dos seus sogros com a notícia de que os dois haviam se ligado e que agora algumas memórias haviam voltado para sua mente. Alguns diriam que havia sido uma reação fora da proporção, com Ronal exigindo que Aonung ficasse as semanas seguintes longe de Neteyam e Tonowari berrando com o pobre Metkayina dizendo-o que ele havia quebrado com os costumes do seu povo.

Como haviam prometido, os dois ficaram por três longas semanas sem se verem, o que só causou um grande problema para a autoestima de Aonung. Após uma longa conversa entre a família Sully e os líderes Metkayina, a cerimônia finalmente foi programada e realizada alguns meses após aquilo. Talvez fosse a forma de Tonowari e Ronal de apressar as coisas de uma forma menos óbvia para que o casal pudesse ficar junto sem nenhum problema futuro, dando aos dois sua benção, junto da cerimônia de passagem para Aonung como Olo'eyktan.

— Ma'Teyam? — chama novamente, aproximando-se da esteira que ambos dividiam e ajoelhando-se à beira da esteira, tocou os cabelos do parceiro, abrindo um sorriso — Sei que está acordado, pare de preguiça.

Hm — resmungou, ainda de olhos fechados — Não quero levantar. Tive um sonho tão bom, Ma'Nung.

Ah, teve? — sorri, abaixando-se mais para tocar a bochecha de Neteyam com os lábios em um beijinho suave — Como foi esse sonho?

— Nós dois estávamos na praia — Neteyam diz, movendo o rosto contra o nariz do parceiro, sentindo seu cheiro impregnar-se em suas narinas — Estava quase na hora do eclipse e você estava me enchendo de beijos.

— Estava, é? — Aonung diz risonho, beijando novamente o rosto do parceiro.

— É — diz risonho, abrindo finalmente os olhos e virando o rosto para o Aonung. A pele turquesa, agora repleta de várias tatuagens novas, tatuagens essas que Neteyam havia presenciado sua realização e conseguia lembrar perfeitamente de cada risco e rasgo na pele turquesa — Foi um ótimo sonho.

— Fico triste em ter que te acordar de um bom sonho — diz beijando os lábios amassados de Neteyam — Mas precisa levantar, estão esperando por você. Hoje é um grande dia.

— Eles estão muito ansiosos? — pergunta sentando-se na esteira, coçando os olhos para despertar de uma vez.

— Seu irmão está simplesmente insuportável, Ma'Teyam — mesmo com o apelido carinhoso a voz de Aonung se mostra irritada, o que só faz Neteyam rir. Levantando-se de uma vez ao saber que teria de ir atrás de Lo'ak para acalma-lo, caso contrário o seu irmãozinho teria um ataque do coração antes da cerimônia de casamento dele com Tsireya.

𝐎𝐛𝐥𝐢𝐯𝐢𝐮𝐦 | avatarOnde histórias criam vida. Descubra agora