Capítulo 1

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Bampton era uma vila rural localizada no condado de Oxfordshire, na Inglaterra. Era conhecida por suas casas de pedra, ruas estreitas e pitorescas e sua atmosfera tranquila. A vila era cercada por campos férteis e pastagens verdejantes, onde os camponeses cultivavam vegetais e criavam gado. A igreja paroquial de Bampton, com sua arquitetura gótica, dominava a paisagem e era o centro da vida comunitária. A leste da vila a foresta de Cotswolds se entendia exuberante e encantadora, abrangendo várias partes dos condados de Gloucestershire, Oxfordshire, Warwickshire, Wiltshire e Worcestershire. Essa floresta era uma mistura diversificada de bosques densos, colinas ondulantes, riachos sinuosos e clareiras ensolaradas.

E era justamente ali que Nicholas e Geoffrey, dois irmãos de 9 e 10 anos de idade respectivamente adoravam brincar e possivelmente caçar pequenos animais. Sendo os dois mais velhos de uma família de 6 irmãos, eram eles os principais fornecedores de caça quando necessário alimentar a família, já que o pai dos garotos estava fora lutando contra a França na guerra. No entanto, nada lhes faltava naquela pequena vila onde todos se conheciam tão bem.

O ano era 1339 e mesmo não tendo sido convocado pelo rei Eduardo III, Walter Plowman, pai dos garotos, se voluntariou para a guerra como miliciano. Isso deixou o velho Thomas Plowman, seu pai, responsável pela plantação da família. Eleanor Plowman, esposa de Walter, estava grávida da caçula Emma quando este partiu. Além dela, tinham ainda Peter, Mary e Anne, que vinham logo após Geoffrey e Nicholas, nessa ordem. A pacata família vivia de sua pequena fazenda, com alguns animais e plantações de trigo e cevada, que usavam para fazer farinha e vender para o padeiro local. Até que um dia, a paz da família Plowman foi irreversivelmente afetada.

Era crepúsculo de um domingo qualquer de primavera naquele ano e os travessos Geoffrey e Nicholas se aventuravam na floresta de Cotswolds em busca de coelhos que pudessem caçar. Apesar do horário, os dois estavam determinados a levar o máximo possível de animais que conseguissem carregar como parte de uma aposta que fizeram.

- Aposto que consigo caçar a maior presa! - Disse Nicholas. Dos irmãos, era o único que puxara os cabelos negros do pai, mas tinha os mesmos olhos verde acinzentados da mãe que seus irmãos herdaram - Talvez um veado, não sei!

- E como você espera carregar um veado até em casa? - indagou Geoffrey, afastando os cabelos loiros, quase brancos, do olho. - Pode pegar o maior, eu vou pegar um monte de lebres, umas 30! Vou distribuir na vila pra todo mundo!

- Mas 30 não dá pra todo mundo, bobão!

- Ah é? Pega mais então, quem conseguir alimentar a vila ganha!

- Combinado, Geoff! Eu vou naquela direção e você vai pro outro lado, a gente se encontra aqui daqui a uma hora!

E assim saíram cada um para um lado na floresta. O tempo passou e Nicholas não pensou muito no irmão, apenas se concentrava em caçar as lebres que estavam bastante ativas. Tinha conseguido pegar apenas três e já estava ficando escuro demais para continuar, quando um som abrupto cortou a floresta.

- Geoff! - Nicholas reconheceu o grito do irmão e correu o mais rápido possível na direção do grito. - Geoff! Estou indo, onde você tá? Geoff!!!

Ele ouviu mais uma vez a voz do irmão e correu por entre as árvores. Sabia que estava na direção correta, mas o anoitecer apenas atrapalhava a busca. Continuou a gritar o nome do irmão quando ouviu ele chamando mais fraco.

- Nick! Aqui...

O garoto correu na direção da voz. Escorregou. Ao olhar pro chão e ver o líquido espesso em que derrapada, seu coração deu um salto. Sangue! Levantou-se e seguiu o rastro até conseguir ver à distância um vulto branco que parecia emanar uma luz fraca, com a lua prestes a ficar completamente cheia. Ele se aproximou. À distância viu que o vulto branco era a mulher mais linda que ele já vira em toda a sua vida. Os cabelos negros desciam em cachos até a cintura, contrastando com o vestido branco que emanava aquela áurea etérea. Os olhos dela eram escuros e profundos como um céu sem luar, ao mesmo tempo que brilhavam como que repletos de estrelas. Ela usava um pingente com uma pedra roxa escura e um bracelete de prata com o mesmo tipo de pedra encrustado.

Elo mortalOnde histórias criam vida. Descubra agora