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➶ ➴•✦───────────• Círculo de Pesadelos, Cap. 19
Na manhã nublada da sexta-feira daquela semana, Marina folheava desanimadamente um livro de romance, sentada na mesa ao fundo da escura biblioteca da escola. Seus olhos percorriam as palavras, mas sua mente estava longe, perdida em seus pensamentos e dúvidas, principalmente após os últimos acontecimentos. O silêncio da biblioteca era quase absoluto, quebrado apenas pelo conversar incômodo de dois rapazes que a acompanhavam na mesa. Um deles era Jaden, que lia um livro sobre plantas e ervas enquanto enrolava uma mecha de suas tranças no dedo. Na sua frente estava Dimitri, o vocalista pálido dos Slasher Traverse, com seus cabelos negros cortados em um mullet espetado. Ele possuía anéis de prata em seus dedos, duas correntes no pescoço e piercings em boa parte do rosto. Estava fumando um cigarro eletrônico e usava um livro de biologia para esconder a fumaça.
— Dimitri, eu não consigo achar os benefícios da cannabis. - Falava Jaden, sem tirar os olhos do livro.
— Vai por mim, cara, procura direito. - Dimitri soltava a fumaça enquanto respondia à Jaden, consequentemente, chamando a atenção de Marina. — É uma boa distração, não quero ter que aguentar mais um turno de matemática em plena sexta-feira.
— Dá para pararem de fumar aqui? Eu tô tentando ler, caralho. - Marina largava o livro com força na mesa, imediatamente todos ali escutavam um "shhh" vindo da bibliotecária lá da frente.
— Calma, princesa, o que aconteceu para ficar assim tão brava numa sexta-feira? - Perguntava Dimitri.
— Pois é, por que a princesa Voohes estaria tão estressada? Somos tão incômodos assim? - Perguntava Jaden.
— Marina Voohes... Igual ao assassino. Pelo visto você é uma "slasher" assim como nós. - Dimitri soltava uma breve gargalhada.
— Vão a merda vocês dois, não sabem de porra nenhuma. - Continuava Marina, ainda claramente estressada.
— Por isso estamos perguntando, gata, fala aí. - Dizia Dimitri, enquanto voltava a fumar o cigarro eletrônico. — Porra, isso aqui não é nada comparado a uma verdinha da boa, do nada me lembrei de quando eu fui convidado para uma igreja cristã.
— De novo isso, cara?
— Faça-me o favor. - Marina tentava voltar a atenção para o livro, mas mantendo-se atenta à conversa dos dois.
— Qual é, Jaden, pelo menos eu não saio por aí metendo o louco igual a você com aquela história do culto.
— Mas era um culto, porra, eu até entrei lá.
— Não fode.
— Ah, bom... Já acabaram? - Marina voltava a reclamar, soltando novamente o livro.
— Ei, você ainda não disse qual o problema. - Insistia Dimitri. — As vezes conversar pode ser bom, coloca pra fora.
— ... - Marina dava um breve suspiro enquanto raciocinava. Eram maconheiros, provavelmente nem iriam se lembrar daquilo. — Como vocês lidam com relacionamentos complicados?
— Não sei, nunca tive um. - Respondia Dimitri. — Pelo menos, não complicado.
— O que foi? Problemas com aquele tal Tyler? - Perguntava Jaden.
— Não... Com o Tyler não, nós terminamos há um tempo.
— Sério?
— Aquele cara era um mané, tentou zoar o meu estilo e depois me pediu umas gramas, sabe o que eu fiz? Botei cocô de vaca na blunt e dei para o vacilão. - Dizia Dimitri, dessa vez, ele arrancava uma risada sincera de Marina. — Eu deveria ter quebrado a cara dele junto com o James naquele dia do jogo contra o Walker, não era não?
— Vocês são malucos. - Ela ria enquanto fechava o seu livro, e mudava para a expressão séria novamente ao ouvir o "Walker" que Dimitri mencionava. — Eu não sei se deveria contar para vocês isso... Acho que vocês o conhecem. É, com certeza conhecem.
— Já começou, agora termina. - Falava Jaden.
— Vá em frente, Voohes, do que tem medo?
— É... É o Mono, sabe? Eu tentei me aproximar do Mono.
— Ué, do Walker? Uau, isso explica porque o Tyler estava tão puto.
— Sinistro, a patricinha Voohes caidinha pelo mano Walker... Mas qual o problema nisso? - Jaden questionava.
— Bom, parece que agora ele gosta de outra.
— Ah. - Jaden de repente se lembrava, Mono e Safira haviam ficado bastante próximos desde que começaram a andar juntos. — Mas você estava com o Tyler, eu acho que ele só quis... Sei lá, seguir em frente.
— Eu sei, mas ele... Ele...
— Ele...?
— Eu sei do que você precisa. - Começava Jaden, puxando um panfleto que cortava todo o clima melancólico da conversa. Ele entregava para Marina aquele papel mal feito que anunciava o show dos Slasher Traverse na beira do lago cintilante naquele fim de semana. — Precisa se distrair, Voohes. E você agora é a nossa convidada especial.
— Ah, qual é, nunca que os meus pais iriam-
"Na outra estante, imbecil."
"Eu estou procurando, porra, te acalma."
"Podem falar um pouco mais baixo?"
Uma conversação inesperada atrapalhava a conversa dos três, vinda do outro lado da estante de livros atrás de Marina. O trio sentado sob a mesa sabia bem de quem eram as vozes.
— Falando no garotão Walker... - Comentava Dimitri.
— Ele não estava internado? - Perguntava Jaden.
— Internado? - Marina tomava um breve susto.
— É, por isso faltou a semana toda. Dizem que foi atacado por um urso na floresta, sei lá.
— Bobeira, tudo uma armação do governo para acabar com a nossa festa, nem há ursos em Fox. Talvez lobisomens, mas isso é porque o pessoal de Post Lavender bate na mãe.
Logo, todos sentados diante aquela mesa concentravam-se para ouvir a conversa do outro lado da estante.
— O que estamos procurando mesmo? - Perguntava Mono, segurando uma pilha de livros enquanto Liza e Shun procuravam por um livro às pressas.
— Eu não sei! A Liza tá me infernizando atrás disso desde que chegamos, e a aula já vai começar.
— Calem a boca, vocês vão me agradecer... ACHEI! - Liza tapava a própria boca ao perceber que havia falado um pouco alto, enquanto agarrava um livro de capa negra e empoeirada que estava na última fileira do topo da estante. — Olhem, a história da família Ovdegåard.
— A Noruega fica um pouquinho longe daqui, não? - Comentava Shun.
— Bom, visando que os gêmeos esquisitos... É, sem ofensas, Mono. - Dizia Liza enquanto olhava para Mono, que dava de ombros. — Visando que os idiotas dos slasher estão querendo fazer uma festa de arromba em plena madrugada na floresta, seria bom vocês lerem isso, afinal, os gêmeos queridos que vocês chamam de amigos irão. Vai ser bom para refletirem se querem ir mesmo acampar com tudo o que vem acontecendo com a gente. E isso aqui... Bem, digamos que psicopatas agem melhor em família.
— Como você sabe que eles vão? - Questionava Mono.
— James e Safira são os gêmeos mais populares da escola, Mono, quando souberam que esses dois iriam para a festa na beira do lago, a escola ferveu. Bom... Você ainda estava no hospital.
— A família Ovdegåard... - Shun pegava o livro e analisava bem a capa do mesmo. — Bom, Liza, eu não gosto de discordar de você, mas pô, pesadelos são bem diferentes de pessoas e isso aqui se passa na Noruega, podem haver relatos de desova de corpos por essas bandas, mas nunca ouvi falar de uma família que matava quem fosse acampar.
— Eu tô falando sério, esse negócio de show na floresta vai dar ruim. É o lago cintilante, porra, olha a merda que aconteceu na última vez que pisamos lá.
— Eu sei, mas...
— O cego, o velho Steve, as alucinações do lago, qual é... Shun, você pode tentar falar com o Stan, não pode?
— Tá fora de questão, eles já decidiram.
— Para de ser pessimista, nós já sabemos como lidar com os pesadelos, não é, Shun? - Perguntava Mono, Shun balançava a cabeça afirmando. — Estar acordado é diferente de sonhar, e eles não irão me pegar de surpresa de novo. Aquilo no hospital foi sorte.
— Eu não acredito em vocês dois, puta merda.
— Eu entendo você, Liza. Obrigado por se preocupar... O hospital, Emerald Lake e tudo mais, realmente nos deixaram à beira da morte. - Mono começava, enquanto descansava sua mão sobre o ombro da amiga, deixando os livros na mesa ao lado. — Mas o Stan, o Jaden e o Dimitri vão estar lá para cuidar da gente, nenhuma criatura passaria por aqueles três. E ainda tem a Safira, não posso deixar que ela vá sozinha para uma festa dessas. Quem sabe, só precisamos nos divertir um pouco.
— Bom, você quem sabe. Eu não quero ganhar uma nova cicatriz na cara. - Liza apontava para o próprio rosto, furiosa. — Mas eu espero que você leve outra mordida, e que dessa vez fique em coma.
De volta à parte de trás da estante, Marina, Dimitri e Jaden escutavam tudo, sem ao menos entender o mínimo do que o trio estava falando.
— Pesadelos? Do que estão falando? - Perguntava Marina, embora o que cercasse o seu coração nesse momento não fosse a dúvida, mas sim a dor intensa em saber que Mono só estava entusiasmado em ir à festa por causa de Safira.
— Que se foda, olha só como eles confiam na gente. É disso que eu tô falando, Voohes, vai ser a maior festa da sua vida. - Falava Dimitri.
— Não liga para o Mono, vai para se divertir, falar com outras pessoas, observar o céu, sei lá. Quem sabe você curta o metal. - Dizia Jaden.
— Fumar um verde também. - Sugeria Dimitri, Jaden e Marina paravam para encarar o mesmo. — Que foi?
— Eu... Quero, mas não sei como vou reagir ao ver o Mono. E não sei como despistar a minha mãe.
— Bom, eu confio que você vai achar uma boa desculpa, Srta. Voohes, e quando chegar lá, não se preocupe. Se ver o seu amado com outra, é só beber.
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Círculo de Pesadelos
Mystery / Thriller[EM MANUTENÇÃO] Já imaginou o que aconteceria se as criaturas de seus pesadelos se tornassem reais? A pacata cidade de Fox, no Canadá, nunca despertou interesse de ninguém. Até porque ninguém a conhece de verdade. Desaparecimento de crianças, mortes...