O jogo da paixão

Parte 1

Uma semana se passou, e aquele mesmo homem vinha todas as manhãs e todas as noites me trazer algo pra comer, e me dava roupas para que eu tomasse banho em um banheiro que tinha dentro do quarto. Esse indivíduo se negava a dizer seu nome, então passei a chamá-lo de "escroto". Cada palavra que vinha da minha boca e cada insulto, fazia com que ele se irritasse cada vez mais, e eu gostava de irrita-lo. Não sabia o motivo pelo qual ele havia me sequestrado, e ele se negava a dizer.
__ Vista-se. - ele me entrega um vestido verde esmeraldas, longo e colado. Não era decotado. Alguns acessórios e um salto.
__ Estou a uma semana em cativeiro e de uma hora pra outra você manda eu me arrumar com tudo isso?
__  Por que você não cala a sua boca e faz logo o que eu estou mandando?
__ Quem é você pra dizer o que eu faço ou deixo de fazer? Escroto.
Ele inspira e expira tentando controlar sua raiva.
__ Volto em meia hora, ou esteja arrumada, ou prepare-se para o seu funeral. Sua pirralha de cabelos vermelhos.
__ Pirralha de cabelos vermelhos? Não tinha uma forma mais educada de me chamar não?
__ Estou tratando-a da mesma forma que me trata, pirralha. Irei a chamar de moranguinho, a partir de agora.
__ Não. Blacke, meu nome é Blacke.
__ Eu sei qual é o seu nome, mas ainda sim, prefiro moranguinho. - ele fala em tom irônico, deixando a raiva de lado.
__ Eu te odeio.
__ Me odeia? Você não me conhece, não tem motivos para me odiar, moranguinho.
__ Não acha que me sequestrar seja motivo o suficiente para te odiar? - minha voz soa firme, porém em tom baixo.
Ele ri a plenos pulmões, e sai em disparada a porta do quarto, gargalhando.
__ Apenas faço o meu trabalho. - ele fala ao longe.
__ Seu bandido! - grito.
__ Descobriu isso agora? - mais uma vez sua voz soa de forma irônica. - Esteja pronta em meia hora.
Olho para baixo e novamente para a porta do quarto, ele já não está mais lá.

A primeira agressão - a vida de Blacke antes do sequestro

Nunca imaginei que Tyran fosse capaz de fazer isso comigo, nunca vi ele como uma pessoa violenta, e nunca considerei esse fato. Ele era extremamente carinhoso, ERA, até aquele momento em que se mostra uma ameaça.
Senti suas mãos sobre mim e fui arremessada com força no sofá.
__PORRA! Que merda é essa Blacke?
__ Para, Tyran, eu imploro! - gritei entre soluços.
__ Eu deixei bem claro que não queria esse tal de Dakota dentro da minha casa! Não tem essa de "amigos de infância". - ele grita exasperado.
__ A CASA É MINHA. O Dakota é apenas o meu amigo, e veio aqui hoje me contar sobre o show que ele e a banda dele vão fazer na inauguração do novo restaurante da cidade. E eu tenho todo o direito de trazer meus amigos aqui! -  ele me atinge um tapa no rosto. Sinto minha pele queimar, e tenho consciência de que a marca da mão dele está agora estampada em mim.
Vejo ele me olhar preocupado no momento em que percebe o que havia feito. Seus olhos se enchem de lágrimas e ele começa a implorar pelo meu perdão.
Um filme inteiro de todas as vezes que presenciei minha mãe passando pela mesma situação, se passa pela minha cabeça. E eu desabo em choro, me sentindo pequena demais para o mundo.
__ Blacke, me perdoa, eu não tinha a intenção.
__ Você me bateu... Você me bateu, Tyran, mas que droga!
Não consigo descrever o que sinto, é uma mistura de tristeza e raiva. Tento similar tudo que aconteceu nos últimos minutos, ainda desacreditada. Ele já havia se mostrado violento outras vezes, mas nunca havia levantado a mão para mim.
Então eu me sinto completamente perdida. O homem que eu amo me bateu, ou melhor, o homem que eu amava.
Impus a partir daquele momento que não queria mais Tyran em minha vida. Não iria aceitar passar pela mesma situação que minha mãe passou por anos, com medo e calada.
__ Vai embora da minha casa agora. Acabou!
__ Por favor, Blacke, não faça isso. Eu não pensei direito na hora, foi um impulso e eu não queria, eu juro que não queria!
__ Não me importa se você tinha a intenção ou não, Tyran. Você me bateu, e eu não vou correr o risco de que aconteça novamente.
__ Há muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe Blacke. Iria te contar daqui um certo tempo.
__ Vai embora agora, Tyran, não me interessa o que você iria me contar. Vai embora da minha casa agora! - grito, meus joelhos falham e eu caio no chão.
__ Blacke, por favor. - ele tenta se aproximar novamente de mim, mas me levanto rapidamente e recuo dois passos pra trás.
__ Agora, ou eu ligo pra polícia!
Seu olhar de tristeza penetra minha alma, e tudo que eu via de bom nele, se torna pó.

O evento

Faço o que o escroto manda, me arrumo e fico a sua espera.
__ Uau, você está deslumbrante! - ele diz em minha direção.
__ Não posso dizer o mesmo.
__ Tratar as pessoas assim é falta de educação, sabia? Terá que aprender a me suportar, moranguinho. Você não irá se livrar de meus cuidados tão cedo.
__ Pra onde irá me levar?
__ Hoje é o evento onde o chefe irá apresentar os novos capangas, e também a nova noiva dele.
__ Chefe? Capangas? Mas que porra é tudo isso?
__ Tantas perguntas ein, a curiosidade matou o gato.
__ E que noiva?
__ Você, óbvio.
Arregalo meu olhos no momento em que as palavras saem de sua boca. E ele até pode ser um filho da puta, mas que boca! Agradeço por ele não conseguir ler mentes.
__ Escroto, não adianta, uma hora ou outra a polícia irá me encontrar, e você juntamente com seu chefezinho de merda e os capangas dele, serão presos.
Sua gargalhada ecoa pelo quarto.
__ Nosso trabalho é bem feito, ou acha que não pensamos nisso? Saiu até nos jornais.

"Jovem de 20 anos de idade é encontrada morta no Lago das Flores, na cidade de Boston. Perícia indica suicídio."

__ Impossível, e o corpo?
__ A sobrinha do chefe estava dando muito trabalho, só posso dizer isso. E se ainda possui dúvidas, posso te trazer um jornal depois do evento, para que possa ler.
Sinto meu coração apertar, o medo me invade por completo.
__ Agora vamos logo, senhorita morango.

O lugar era enorme e lindo, a decoração muito bem elaborada e havia uma quantidade considerável de pessoas. Acredito que sejam todos bandidos.
__ Dê-me o braço.
Obedeço e sigo com ele pelo salão.
O som que ecoava era de uma música clássica. Bom para os meus ouvidos.
__ Meia noite será a apresentação dos capangas, e eles e todas essas outras pessoas, irão conhecer a noiva do chefe.
__ Eu não irei noivar com ninguém! - encaro o escroto com todo o meu ódio.
__ Se comporte, ou será punida, e acredite, não irá gostar.
__ Vocês irão fazer igual no meu livro favorito? A punição será me amarrar? Me amarrar e me comer? Se forem do tipo masoquistas, não irei me importar nem um pouco.
Ele me fita dos pés a cabeça.
__ Você é uma pirralha insuportável. Deus e o chefe que me perdoem, mas trepar com você não seria algo que eu não viesse a considerar.
__ Seu chefe não ficaria satisfeito em saber que um dos capangas dele gostaria de comer sua futura noiva.
__ Calada, moranguinho. Fica sentada aqui e espera a hora das grandes apresentações.
Sinto o ódio correr em minhas veias. As sinto queimar.

Continuação...