capítulo 1

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                                                                                                  É lá depois do horizonte que te espero                                                                                                               ...

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                                                                                                  É lá depois do horizonte que te espero                                                                                                                                               Sr. Liberdade...

O silêncio era minha rotina constante, dentro de um pequeno quarto as únicas palavras que soavam por ali eram " bom dia Aysha" da minha mãe pela manhã, logo após ela saia e trancava a porta, e de longe indo embora eu ouvia a escandalosa carruagem real. Era assim manhã e noite.
Minha melodia favorita eram os ruídos de quando os camundongos vinham me fazer companhia. Quando contei à minha mãe sobre meus novos amigos ou melhor meus vizinhos que moravam na parede atrás da minha cama ela bateu em meu rosto, e disse que uma princesa não age como louca.

Mas eu só queria falar como era bom não me sentir sozinha, quando contei para aquela família de camundongos sobre como minha mãe reagiu ao falar sobre eles, o papai camundongo pegou o pequeno pão da minha mão e junto de sua família foi embora. Não fiquei brava, ele era um ótimo pai.

 Meu pai era um rei, um dos mais poderosos, mas apesar de toda riqueza e poder ele ainda queria mais, por isso eu era a filha da aliança e isso significa que meu pai me casaria com o primeiro reino que quisesse fazer uma aliança que envolvesse ouro e poder.

 Era impossível sair daqui, e mesmo se saísse para onde eu iria? Não sei onde estou, apenas sei que é um lugar longe e solitário, onde pessoas não vem. O castelo fica depois das longínquas colinas, e é lá onde as piores palavras são ditas e as malditas alianças são formadas. As portas do meu quarto são bem fechadas, não deram muita atenção à segurança das janelas, pois estou em uma masmorra e sair pelas janelas é o mesmo que segurar nas mãos da morte e pular em seus braços gelados. Mas eu não me importaria de criar asas e tentar voar pelas janelas, desde que eu conseguisse sentir a adrenalina da liberdade e o desespero de um pouco de aventura.

 Esses sentimentos de querer viver a vida surgiu quando mamãe entrou pela porta desesperada segurando um cartaz de procurado, do famoso pirata olhos de gato e seu maior crime foi ter achado um aclamado tesouro e o ter espalhado nas vilas mais pobres.

 Mamãe não podia saber que eu escondia esse cartaz nas rachaduras da parede, pois eu havia prometido que o queimaria assim que o tivesse lido. O que mais me chamava atenção no olhos de gato era seu sorriso travesso, um sorriso de liberdade que não se arrepende do que faz, seus olhos cianos lembravam as cores da água dos quadros que pintava, e seus cabelos eram como a terra molhada. Tenho desejo de conhecê-lo, pois ele parece conceder uma boa companhia.

 Sempre que estou pensando no que desenhar, olhos de gato é a primeira opção que vem, mas é claro que nunca o desenharia, mamãe morreria de desgosto. Por isso criei um personagem mascarado que está a estibordo de um navio, segurando uma luneta a procura de uma terra perdida, e eu o chamei de Senhor Liberdade. O Sr. Liberdade tem imensas asas e uma tripulação diversificada, com humanos, faunos, centauros e até anões, todos expressando uma alegria exuberante com bebidas e bolos de passas. Sempre que acabava de finalizar uma pintura do Sr. Liberdade ele parecia me chamar para viver uma aventura em alguma terra mágica recém descoberta.

E é claro que eu recusava, alias sou uma princesa e ele uma imaginação...




 Sou acordada aos gritos em uma manhã nublada, mamãe estava aos pés da minha cama, com aquele sorriso de lábios vermelhos extravagantes, sorriso esse que era raro, mas quando aparecia era porque alguma notícia de seu agrado havia surgido. Suas damas de companhia estavam na porta, e elas nunca vinham com mamãe, mas então porque estavam aqui?

 - Querida Aisha, acorde!

 Levantei arrumando meus cabelos desgrenhados e ajeitando a camisola branca que estava larga em meus ombros.

 - O que aconteceu, mamãe?

 - Se troque, pois o rei tem boas novas para você!

 Boas novas significava perigo iminente em meu dicionário. Um vestido lilás pesado estava sobre meu corpo, as damas de companhia apertavam o espartilho como se estivessem deixando toda sua raiva ali. 

Pó de arroz voava pelo ar e um escandaloso batom vermelho criava vida em meus lábios, meus cabelos alaranjados eram forçados a obedecer o penteado que se parecia uma coroa de tranças, e mamãe observava tudo com gosto.

- Tudo está pronto?- mamãe perguntou às damas, que concordaram com um simples abaixar de cabeça- Certo! Então vamos ao palácio.

 Me sentia como o bobo da corte, não sei de onde tiraram que lilás e laranja combinam, meus cabelos não contrastavam muito bem com cores extravagantes. Desci praticamente tropeçando as escadas da torre, mamãe estava com tanta pressa que pedia até para que eu respirasse depois.

Eu me sentia feliz descendo as escadas, mas quando vi a porta aberta logo pensei em correr, porém quanto mais chegava próxima a porta mais percebia que minha vontade era uma imaginação boba assim como o Sr. Liberdade. Muitos guardas estavam à espreita da porta e das carruagens reais, isso me leva a pensar que a aliança que papai fez é extremamente importante, talvez eu realmente deveria ter tentado voar pela janela no dia anterior.

 Reconheci um dos guardas, como ele havia crescido, há tempos eu não o via. Seu nome era Zayn, e ele era um dos meus melhores amigos antes de meus pais me aprisionarem nessa masmorra. Como eu queria correr e o abraçar, porém nosso único cumprimento foi um aceno de cabeça, nunca havia imaginado que isso doeria tanto.

 Alguns dos guardas reais montaram em seus cavalos, enquanto outros dois assumiram o posto de cocheiro, mamãe e suas damas de companhia se apossaram da primeira carruagem, enquanto eu fiquei com a segunda. Zayn estava na porta e estendeu a mão para que eu pudesse entrar na carruagem, não conseguia deixar de olhar em seus olhos esverdeados, eu lhe joguei um sorriso amigável, mas ele olhava fixo para frente com um cenho carregado. Me sentei no lado direito da carruagem, e um guarda já de idade sentou no banco da frente, Zayn entrou fechando então a porta e logo se sentou no mesmo banco que eu, porém com alguns centímetros de distância.

- Zayn!- o velho lhe chamou- Não se aproxime muito da princesa Aysha.

 O mesmo concordou e se afastou para o outro lado do banco. Seria imprudente eu dizer que estava tudo bem Zayn estar perto de mim? É claro que não iria repreender aquele guarda real, aliás a segurança de Zayn estaria em perigo, se caso alguém descobrisse que um de clã baixo se envolveu com a clã suprema. Aquele velho logo se encostou no banco e cruzou os braços, conforme a carruagem se locomovia seus olhos iam lentamente se fechando.

 
 Estávamos passando por um bosque, não era um bosque qualquer, era mágico, através da penumbra das grandes árvores, podia-se ver pequenas luzinhas coloridas que voavam como vagalumes. Olhei entusiasmada para Zayn, porém ele estava de cara amarrada e aquilo parecia insignificante para ele. Isso me deixou triste, ele nunca foi assim, Zayn era o amigo que mais me fazia rir, era o mais doce menino que já havia conhecido, e amava quando o chamava de cabelos de fogo, pois seu cabelo vermelho parecia brilhar quando estava exposto ao sol. O que mais me espantou em sua aparência foi o tanto que seu cabelo ondulado cresceu e o mesmo agora se encontrava em seus ombros.

 Durante a viagem o silêncio foi nossa companhia de honra, é claro que o velho guarda dispensou a companhia do silêncio, pois seus roncos eram escandalosamente altos. Ele dormia despreocupado, e um sorriso travesso tomava forma em minha feição, esse era o momento perfeito para conversar com meu melhor amigo.

- Zayn- o chamei em um sussurro.

 Zayn apenas me ignorou e ajeitou a armadura de guarda real. Estava preste a tocar em seu ombro, quando o cocheiro falou que já estávamos perto das colinas, e isso indicava que eu estava a poucos minutos das coisas que mais abomino, o palácio e o meu pai.




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