A chegada

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Meus pais me deixam na esquina da casa na praia. Ia ter que andar uns dez passos para chegar lá. A chuva está forte, mas meus pais estão atrasados e se eles me levassem até à casa se atrasariam mais ainda para a festa da minha vó. A minha tia já tinha levado junto com ela a minha mala, então não a molharia no caminho.
- Tchau, filha. Aproveita. E desculpa que a gente não vai te levar até a casa.
- Tudo bem mãe, eu me viro. Te vejo em 15 dias.
Dou um beijo na bochecha do meu pai e da minha mãe e saio do carro com a minha bolsa. Tento proteger a minha bolsa de couro para não molhar, mas é impossível, a chuva parece canivete. E consegui esquecer meu guarda chuva...
Nesse momento eu já não enxergo mais nada, tem muita água nos meus olhos, minhas roupas e cabelo estão encharcados.
Tento correr sem tropeçar para chegar logo na casa, porém... Bato em alguma coisa e caio. Meu celular cai da bolsa e rola no chão.
- Que merda! - digo.
- Tudo bem? - alguém pergunta. Limpo os olhos e olho para cima. Um garoto com cabelo um pouco comprido e molhado cobrindo os olhos, calça jeans encharcada e camiseta xadrez. Percebo que ele tem um skate na mão.
- Como você tá andando de skate com essa chuva?
- Acredita em mim, é o melhor momento pra andar. - ele sorri e vejo seus dentes brancos e retos. Ele é bonito.
A chuva diminui. O garoto estende a mão livre para me ajudar a levantar. Aceito e levanto.
- Qual é o seu nome? - pergunto.
- Ethan. E o seu?
- Isla.
- Legal. Hã... a gente se vê por aí. Tchau.
Ele coloca o skate no chão e sai andando, passando (provavelmente de propósito) em cima de uma poça gigantesca de água e me molhando mais ainda.
- Ei! - digo. Mas ele nem vira para trás. - Que babaca.

Alguns segundos depois

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Alguns segundos depois

Toco a campainha e abrem para mim. Digo oi para Meg, Lia, Artur e meu primo Josh que tem 6 anos.
Meg mostra o meu quarto. Um quarto grande com cama de casal, quadros de peixes e uma janela com vista para as casas do outro lado da rua.
Lia chega na porta do quarto e diz:
- Você pode desfazer as malas e depois descansar. Deve estar cansada da viagem. Mas se parar de chover nós vamos dar uma volta na praia, quer ir?
- Sim - respondo. - Me chamem quando forem que vou também.
Coloco as roupas e meus pertences no armário, me jogo na cama e adormeço na hora.

Coloco as roupas e meus pertences no armário, me jogo na cama e adormeço na hora

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Duas horas depois

- Isla! - alguém bate na porta. - Vamos na praia?
Levanto da cama, coloco um shorts preto e uma camiseta leve amarela, o meu cabelo está bagunçado então tento arrumar um pouco e pentear, ele já está seco da chuva mas parece um ninho de rato, passo um batom rosa e saio do quarto.
A chuva passou. O sol apareceu novamente por cima das nuvens. Saímos da casa rumo à praia que fica a uma quadra e meia da casa.
- Me dá a mão? - pede Josh.
- Claro.
Chegando na praia, vejo que a mesma está praticamente vazia, se não fosse por um grupo de cinco jovens jogando vôlei em uma rodinha.
- Eu quero jogar! - exclama Josh.
- Não, Josh. Você não vai conseguir acompanhar o ritmo de vôlei deles...
Mas o garotinho sai correndo e me leva junto pela mão.
- Posso jogar com vocês? - pergunta Josh.
Um garoto com cabelos castanhos segura a bola. Escuto uma voz familiar e olho naquela direção:
- Claro que pode.
Por um momento meu olhar encontra o de Ethan e um sorriso travesso aparece em seu rosto.
- Quer jogar também? - pergunta ele olhando pra mim.
Assinto.
Cinco minutos depois, Josh desiste de jogar e vai brincar com o pai. Porém, eu continuo jogando com aquele pessoal, eles parecem ser legais, até me incluíram no grupo!
Depois de uma hora Meg me chama.
- Isla, vamos pra casa?
Olho para os adolescentes que estavam jogando vôlei comigo para me despedir, mas Ethan diz:
- Você pode ficar jogando com a gente, a gente te leva pra casa depois.
- Tá bom, pode ser. - sorrio.
Aviso Meg e eles vão embora. Fico jogando vôlei até escurecer. Quando cansamos de jogar, sentamos na areia e conversamos. Ethan me apresenta seus amigos:
- Essa é a Sasha, Mari, João e André - João me olha com cara de quem tem ranço, tira o cigarro da boca e assopra fumaça na minha cara. André sorri maliciosamente para mim e olha para os meus peitos. Cruzo os braços.
- Aí gata, foi muito legal te conhecer - diz Sasha e me abraça.
- Foi muito legal conhecer vocês também - digo.
- Você convidou a Isla pra festa de amanhã, Ethan? - fala Mari levantando uma sobrancelha.
- Ainda não - ele responde.
- Hã... Acho que vou pra casa agora - digo.
- Eu te levo - fala André. - Aqui é perigoso de noite.
- Não precisa, eu vou levá-la - diz Ethan e sorri para mim. Sorrio de volta. É involuntário.
Começamos a caminhar lentamente pela praia em direção a rua.
- Então - começa Ethan. - Quanto tempo você vai ficar por aqui?
- 15 dias.
- Humm... Legal.
- E você? Mora por aqui? - pergunto.
- Sim. Desde sempre. Sabe aquela rua que a gente se esbarrou hoje? Eu moro por lá.
- Sério? A casa que eu tô, que é dos meus tios, também é naquela rua.
- Daora.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ethan fala:
- Se você quiser, durante o tempo que for ficar aqui, pode aproveitar com a gente...
- Seria legal - respondo sorrindo. Ele sorri de volta.
- Mas... Eu preciso te explicar alguma coisas. Todos nós fazemos parte da gangue dourada. A gangue dourada é o melhor grupo de jovens surfistas da cidade. Por isso mesmo é chamada de dourada. Antigamente não era chamada assim, mas agora é porque faz uns cinco anos que ninguém ganha da gente em competições de surfe. Que inclusive vão começar daqui cinco dias.
- Pera aí. Então vocês fazem parte tipo de uma gangue? Como se fosse aqueles grupos de traficante?
- É, mas não de traficante, de surfe.
- Que incrível! Todos vocês surfam?
- Sim, o João, o André, eu, a Mari e a Sasha. E claro, nós fazemos parte da gangue dourada porque somos os melhores (não estou sendo convencido nem nada, é apenas a realidade, você vai ver). Porém, o grupo da gangue é maior, acho que somos uns vinte. Só que esses carinhas que você conheceu hoje são os que se tornaram meus melhores amigos.
- Uau! Eu ia adorar ver vocês competindo. Deve ser emocionante.
- É mesmo. Mas e você... Não tem interesse em talvez aprender?
- Eu não sei... Não sou boa com esportes.
- Pensa nisso.
- Ok.
- E sobre a festa - Ethan fala. - Vai ser amanhã à noite, um encontro de gangues na praia. Vai ser tipo um luau com bebida, festa, música, fogueira... Vai ser legal.
- Eu posso ir mesmo não sendo de nenhuma gangue? - pergunto com a sombrancelha erguida.
- É claro. Você vai tá comigo - quando Ethan diz isso ele olha para o lado - quero dizer... Vai estar com a gente.
- Ok, então eu vou.
- Eu não perguntei, mas talvez seja importante perguntar quantos anos você tem antes de te pedir pra ir numa festa com bebida alcoólica.
- Tenho 17 anos. Relaxa.
- Ah, então tá bom. Você tem cara de 15 - ele ri. Eu dou um soquinho no braço dele.
- E você? Tem quantos anos?
- 18.
- Legal.
Chegamos na frente da minha casa.
- Chegamos - falo.
- É aqui? Nossa! A minha casa é ali - e aponta para uma casa, quase uma mansão na frente da casa onde eu estou. Realmente as construções daquele bairro eram grandes e bonitas, mas a dele... Era gigante e toda iluminada. Estava mesmo me perguntando de quem era aquele local.
- Uau - digo - Você tem uma casona.
Ethan passa a mão pelo cabelo e não consigo não olhar.
- Não é nada demais.
- Ah, antes que eu esqueça - ele diz. - Vou te dar a minha pulseira, é a pulseira da gangue, todos tem, e toda gangue tem uma pulseira diferente pra identificação.
Ethan puxa minha mão olhando pros meus olhos e depois desvia o olhar para colocar a pulseira. Olho para ela. Uma pulseira dourada com duas miçangas de golfinhos e mais uma de pérola no meio.
- Os golfinhos demonstram a nossa empatia e união com o grupo, porque eles têm essas qualidades. A pérola significa força para conquistar algo, pois para pegar uma pérola é preciso abrir a ostra e isso não é fácil...
- É linda - falo sorrindo.
- Pois é.
- Até amanhã, Isla.
- Até amanhã, Ethan.

Ethan e IslaOnde histórias criam vida. Descubra agora