35. Temporada de Caça.

1 0 0
                                    

A arte da teleportação é mais que um estudo pelo qual todo mago deve se ater. É um veio importantíssimo para manutenção do sistema e do conhecimento mágicos...

Para se entender e chegar ao entendimento profundo dessa grande arte é necessário para o leitor que creia nisto: Nosso mundo é um só, por mais que percorra grandes distâncias, atravesse fronteiras, desvende lugares inacessíveis. Ainda será o mesmo. Como nosso próprio corpo, que sendo também, apenas um, dobra-se e desdobra-se encurtando e alongando caminhos entre as partes que o compõem; assim também é o  mundo através da magia.

Ao iniciardes os estudos nesta sagrada profissão, vais entender que a teletransportação é nada mais, senão a liberdade traduzida em feitiço...

Àquele que pretende entender como correm os veios energéticos que dobram e desdobram o corpo do mundo, devem entender que qualquer ato mágico necessita da mentalização de destino, e que para isso existem duas colunas principais: visualização e memória...

Jacques Bruhan Varlavain, em Transportação Extraplanar e Teleportação Através das Planuras, prólogo.

Beltrare correu pelo meio da mata sozinha naquele fim de tarde. Afinal, não havia tempo para descanso. Enquanto corria, tentava deixar vívida na memória,  o lugar onde estava Morgana.

A ilha de Alvo Dente, bem como a pequena cidadela na sua costa oeste tinham esse nome por conta do grande morro escarpado de calcário que estava enraizado no centro da terra. A ilha em si, devia ter por volta de um dia de viagem a pé de um extremo a outro. Na manhã após a discussão sobre os planos, Morgana e Beltrare seguiram para a costa norte, afim de que Beatriz memorizasse a paisagem de lá.

A ideia era testar os limites da teleportação através do Galđr. E é claro, se as máximas de Jacques Bruhan Varlavain eram verdadeiras para qualquer meio de magia. Então uma vez na margem norte e fazendo uso das técnicas de memorização de Morgana, Beltrare partiu. Afinal, faria o percurso até a margem sul, para voltar até onde havia estado com a Allar negra. Uma vez de volta, bastaria utilizar um desenho de Jack para completar a façanha. Usando uma imagem como visualização para ir até a margem leste, onde Jack havia ido.

O tom levemente alaranjado que tentava até então competir com o cinza chumbo no céu, passava aos poucos para um azulado cada vez mais escuro, enquanto a guerreira acelerava o passo através da floresta.

Seguindo a desconfiança de Khalymor, Beatriz evitava mesmo as trilhas que levavam aonde ela precisava ir. Preferindo rasgar a mata como uma flecha. Acostumada com a escuridão do subterrâneo de Castrumheim, a garota não desacelerou, mesmo depois do completo anoitecer. Sua guia era a opaca luz da lua, quase completamente apagada pelas nuvens. Ela precisava ser rápida, ademais, Khalymor precisava dela. A companhia precisava. Se a diplomacia falhasse, seguida da luta, da perda do Arcanjo, todos ainda teriam ela e sua magia como um brilho no fim do túnel.

A magia dela, uma simples guerreira humana.

Em meio a parca luz do luar, ao suor e ao esforço da corrida, Beltrare sorriu. Até que algo lhe roubasse esse sorriso.

Em meio a corrida ela ouviu passos rápidos, não parecia o aleatório movimento animal, e caso fosse, provavelmente a estava caçando. Em um salto, Beatriz agarrou um galho de árvore escalou tronco com rapidez o suficiente para ver atrás dela o vulto que a perseguia jogar-se para o meio de alguns arbustos.

Então vieram a tona na mente as desconfianças de Khalymor. Não apenas com relação a tripulação de Arvaryan, mas com relação a Bohold, a Erevanir, Pórunn e quem mais quisesse aquele grupo aos pedaços. Sem poder ver, ateve-se aos sons da floresta como um animal acuado. Respirou fundo.

O Reino Esquecido. Volume 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora