O MAGO

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22 de setembro de 1959
Cidade Vermelha, Reino Unido.
05:23 A.M

Há uma luz vermelha dançando pelos meus olhos, rodopiando pelo escuro através das minhas pálpebras. A ardência da claridade faz as lágrimas nascerem e sinto elas escorrerem pelo meu rosto. Sigo a direção da luz que viaja pelo breu, mas de repente me sinto tonto.

Nada parece certo. Estou fraco, pisco os olhos com certa dificuldade até finalmente abri-los. Minha visão está embaçada, mas logo percebi a origem da luz.

O céu está vermelho.

Não me recordo de já ter visto o céu assim, e percebo que, na verdade, eu não me recordo de nada. Parece estranho olhar para as minhas mãos e pensar que elas pertencem a mim, mas quem sou eu? Se esse corpo é meu, devo ter um nome, uma casa, uma história, mas por que é tão difícil me lembrar de alguma coisa? Será que eu realmente me conheço?

Levanto o tronco na tentativa de reconhecer onde estou, mas a tontura me impede de fixar meu olhar em algo. Sinto meu estômago roncar e minha cabeça dói, esfrego os olhos e olho pro céu novamente. Há um enorme buraco, é como um portal. As nuvens fazem um círculo em volta dele, e a luz que me acordou vem do centro do arco, iluminando todo o solo com tons mais fortes de vermelho e mais fracos e alaranjados. De onde eu estou, o vermelho é tão forte que não me permite distinguir outras cores além dele.

Olho para o meu corpo. Estou nu na beira de um rio, a água gelada me cobre até a cintura e meus fios de cabelo estão molhados. A água parece vermelha, mas não posso ter certeza. Não sei se estou preso em um inferno vermelho ou se é apenas a cor deixando minha visão cansada.

Acabo me sentando na beira do rio, me concentrando no som da água corrente pra me acalmar. Me sinto assustado e perdido. Nunca estive nesse lugar, não me recordo desse céu ou desse rio, e nunca estive perambulando entre essas árvores altas que cercam o riacho. Eu não sei como vim parar aqui.

Algo ruim deve ter acontecido comigo. Não consigo me lembrar de onde vim ou qual é o meu nome, nem mesmo o motivo de ter acordado aqui. Minha cabeça dói cada vez que tento buscar memórias que não existem, conhecimentos que nunca adquiri, uma vida que não me lembro de ter vivido. É como se eu tivesse nascido aqui e agora, e tudo que existe sou eu, o céu e o rio.

Deve haver uma explicação, talvez alguém possa me ajudar a entender o que houve. Fiquei de pé, abraçando meu próprio corpo e tentando me proteger do frio. Olhei ao redor, buscando uma direção pra seguir e procurar ajuda, e então, notei que atrás de mim havia uma muralha, tão alta e longa que eu não era capaz de ver onde ela terminava. Parecia ser capaz de alcançar o céu.

Pude ouvir o eco de uma voz, e me perguntei se estava sonhando. Continuei caminhando em direção a muralha até avistar a silhueta de alguém e começar a correr na direção dela.

— Ei! — gritei — Por favor, me ajude!

Conforme fui chegando mais perto, notei que era um homem vestido com um capuz vermelho e carregando uma lança na mão esquerda. Imediatamente meus pés fincaram no chão e tive medo de avançar. Não sei onde estou ou quem ele é, não tenho como me defender.

— Ei, você! Parado! — ele ordenou. Abracei meu próprio corpo tremendo de frio, e permaneci estático.

— O que está fazendo fora das muralhas? Você quer ser executado, rapaz? — gritou ao parar na minha frente. Era um homem forte e robusto, parecia ser um guarda.

— Eu... — gaguejei sem saber o que responder.

— Está desobedecendo às leis, seu desgraçado! Eu vou levá-lo direto pro calabouço! — o homem agarrou meu braço e tentou me puxar.

- 𝙋𝙍𝙊𝙁𝘼𝙉𝙊𝙎: 𝘾𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙑𝙚𝙧𝙢𝙚𝙡𝙝𝙖;  (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)Onde histórias criam vida. Descubra agora