ÁGUA E ENXOFRE

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Tóquio, Japão
04 de fevereiro de 2060
10:15

— Hannie, você não acredita, cara! Você não acredita! — Diego chacoalhou meus ombros e quase me fez engasgar com o chá verde que eu tomava de café da manhã.

— O que foi porra? — perguntei irritado colocando a xícara sobre a mesa.

— Abriram uma vendinha de burritos na próxima rua! — seus olhos brilhavam com empolgação — Vamos comprar pro almoço, por favor!

Hiroshi, que estava sentado ao meu lado no chabudai, escondeu o riso enquanto comia.

— Vai com ele, cara — murmurou pra mim.

— Você nem gosta de burrito, Hiroshi. Vai almoçar o que?

— Eu cozinho pra ele! — Diego praticamente gritou — Cozinho o que ele quiser. Agora vamos comprar burritos comigo, por favor!

— Tá, tá — me rendi e tomei o último gole de chá antes de me levantar. Diego já estava puxando meu braço em direção a saída temendo que eu mudasse de ideia.

Passamos pela porta e começamos a andar pela calçada. É inverno no Japão, o dia amanheceu nublado e a neblina cobria parte da rua, coloquei as mãos nos bolsos quando senti as pontas dos meus dedos começarem a congelar.

— A última vez que comi burrito foi quando te conheci na Coréia. — disse Diego — Desde então, nunca venderam comida mexicana fora do Distrito.

Percebi o brilho no seu olhar enquanto ele parecia pensativo, talvez relembrando o dia que nos conhecemos ou a vida que levava no México.

Diego nunca foi de comentar muito sobre seu país natal, nenhum de nós sabemos muito sobre a vida dele antes da criação da Manifiesto, e às vezes penso que ele tem memórias tão significativas que evita trazê-las à tona.

— As coisas estão melhorando aqui no Norte — respondi — Talvez algum imigrante traga kimchi.

— Ou tacos — Diego sorriu e depois se forçou a ficar sério — Vamos parar de sonhar, não é? Burrito já está ótimo.

Nos aproximamos da feira de alimentos, os moradores dessa parte da cidade costumam vender parte dos vegetais que cultivam pro restante da população que tenta se sustentar.

Não temos riquezas ou vagas de emprego, todas essas pessoas brigando por uma porção de batatas ou um pedaço pequeno de carne só querem estar vivos no dia seguinte. O dinheiro é a única coisa que os mantém de pé. Alguns prestam serviços de limpeza, vendem alimentos e roupas, e outros peças de algum produto roubado do Distrito.

As gangues que trabalham roubando o Distrito são as pessoas mais influentes desse lugar, os aparelhos roubados por eles são cobiçados pelos nortistas obcecados na Tokyo Tech, e grande parte deles dão todo o dinheiro que têm em troca de qualquer merda de última geração.

O poder que essas gangues adquiriram fez deles os líderes do Norte, exceto pela Manifiesto. Diego sempre nos manteve fora de qualquer conflito com gangues, e com o tempo eles pararam de nos provocar. A Manifiesto trabalha com invasões muito maiores e mais perigosas do que simplesmente assaltar filiais da Tokyo Tech, por isso, as outras gangues nos deixaram um patamar acima do deles. O trato era que não vendêssemos nossos produtos roubados para os nortistas, e em troca, eles não iam atrapalhar nossas invasões ou entrar em conflito conosco.

Mas é claro que descumprimos essa regra.

Já faz algum tempo que os produtos pirateados por Hiroshi e Hayato estão sendo vendidos para nortistas, mas os líderes são burros demais pra descobrir isso.

- 𝙋𝙍𝙊𝙁𝘼𝙉𝙊𝙎: 𝘾𝙞𝙙𝙖𝙙𝙚 𝙑𝙚𝙧𝙢𝙚𝙡𝙝𝙖;  (𝑚𝑖𝑛𝑠𝑢𝑛𝑔)Onde histórias criam vida. Descubra agora