Contos De Jack

Olhos mágicos

Era uma vez...

Em um lugar muito distante daqui, as pessoas nasciam com os olhos diferentes, ou seja, um de cada cor, e cada uma representava uma qualidade se fosse clara, e um defeito se fosse escura.

Geralmente as pessoas daquela cidade tinham um olho claro e outro escuro, quanto mais clara fosse a cor do olho mais pura era a pessoa, e quanto mais escura mais perversa, a maioria das pessoas tinham os tons das duas cores equilibradas, mas alguns tinham um muito escuro, sendo chamados de periclitantes.

Raramente uma criança nascia com os olhos extremamente claros, ou pelo menos era o que eu pensava, até o dia em que alguém se deparou com uma alva.

Ela tinha a pele negra tão brilhante que parecia ser banhada em ouro, os cabelos eram encaracolados e caiam até a cintura, eram extremamente pretos, e usava enfeites que faziam lembrar a noite, seus olhos eram de um tom cinza quase branco, como se refletissem a lua cheia.

Tornava-se difícil olhar diretamente para eles por muito tempo, seu rosto tinha uma expressão inteiramente angelical, e depois de reparar melhor, ele viu as asas que se abriram e ela voou, até a altura das montanhas, e se perdeu nas nuvens.

Ele ficou lá por horas e horas esperando a alva voltar, mas isso nunca aconteceu. Aproximou-se do local em que ela estava e encontrou um enfeite igual aos que ela usava no cabelo. Todos os
anos ele voltava para beira daquele lago exatamente no mesmo período em que a vira pela primeira vez, mas ela nunca mais voltou, procurou-a por toda a cidade, e fez até retrato falado,
mas ela nunca mais apareceu, até hoje.

Era aniversário dele e a festa seria na casa dos seus avós, uma casa enorme, a festa seria simplesmente na parte da piscina, benefícios de ser neto do governador da cidade.

Alguns dos seus amigos já tinham começado a chegar e estavam todos divertindo-se na área da piscina, quando de repente ele viu um vulto no céu e teve a certeza que era ela. Perguntou aos
seus amigos se eles também tinham visto alguma coisa, mas eles disseram que não. Ele procurou por mais alguns minutos e nada, mas toda vez que ele distraía-se, via ela voando pelo céu alegre.

"Você não pode ver a magia se ela não quiser ser vista por você", ouviu um sussurro e teve a certeza que era ela, procurou a volta e não viu nada.

"Você quer reencontrar a magia?... Me segue", a voz repetiu. Sem pensar duas vezes, ele começou a segui-la pelo ar. Quando percebeu, já estava na beira do lago em que a viu pela primeira vez.

"Você sabia que é errado pegar o que é dos outros?" Ela apareceu repentinamente na frente dele.

"Eu não pego o que é dos outros", tentou olhar nos olhos dela mas falhou.

"Então não foi você quem pegou meu enfeite de cabelo?"

Ele ficou com vergonha e começou a abanar a ponta do seu pé de um lado para outro.

"Desculpa, eu só peguei porque você não voltava, vim aqui no dia seguinte para devolver-te, mas você não apareceu mais..."

" Eu sei, não fico muito tempo no mesmo lugar... então, você está com ele agora?"

"Sim, ele está aqui comigo, eu sempre ando com ele..."

"Obrigada ".

Ela esticou a mão e pegou o enfeite, depois o colocou em uma bolsa pequena também branca, só naquele momento ele notou que ela trazia.

Ela estava sempre com roupas brancas e muito limpas.

"Você é tipo um anjo ou coisa assim?" Perguntou depois de um tempo vendo ela brincar com uma flor.

"Não, não são só os anjos que têm asas".

"Então o quê você é?"

"Eu sou... não sei como explicar, você pode me chamar de Protetora da magia".

Sorriu mostrando dentes brancos que contrastavam perfeitamente com sua pele negra.

"Isso não é possível ", ele disparou.

"Por quê você afirma com tanta certeza?"

"Porque eu já conheço a magia, e ela não tem nenhuma protetora ".

"Só porque você não me conhecia antes, não significa que eu não existia".

"De qualquer forma, eu não quero mais saber dessas coisas".

"Porque já está velho demais para acreditar em magia?"

"Não, porque a magia deixou a minha amiga morrer e depois desapareceu!"

Disparou outra vez com raiva, e um pouco de mágoa na sua voz, a morte da Sama ainda doía muito para ele.

"Então você é o Oscar..." Ela olhou nos olhos dele com os olhos arregalados e fez uma expressão como se tivesse acabado de compreender alguma coisa. Alguns segundos se passaram e ele viu o rosto dela ser abatido por uma culpa imensa, ela abaixou os ombros e uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha.

"Eu não queria que a Sama morresse, mas eu não tinha como salvá-la", terminou com uma expressão triste.

"Não fale o nome dela, você não tem esse direito!"

"Eu não tenho culpa, não tinha como salvá-la, as pessoas iam descobrir..."

"E você preferiu deixar ela morrer do que ser descoberta!" Gritou.

Ele começou a caminhar de um lado para outro e puxava o cabelo para trás com força tentando
acalmar-se.

"Depois da morte dela você poderia ter ficado comigo, mas preferiu ir embora também, vocês as duas me abandonaram", falou sentido uma lágrima quente banhar meus olhos que a limpou antes que escorresse.

"Eu já estava com vocês a tempo demais, e não podia ficar no corpo de esquilo para sempre..."

"Isso não importa, você nem se despediu ".

"Eu tentei evitar que você sofresse mais com a minha despedida ".

"Mas isso não aconteceu, eu fui até a floresta procurar você, mas eu só encontrei sua cor... quer dizer, o corpo do esquilo morto, nem colorido ele estava mais! Eu pensei que você tivesse morrido também "

"Desculpa, eu não queria que você pensasse isso..."

Ele suspirou e colocou as mãos nos bolsos da calça moletom.

"Tudo bem, eu já superei isso, e fico feliz em saber que você está bem, apesar de tudo... Esse corpo também é mais bonito, e combina bem com você..."

"Obrigada"

"Hummm.... Eu preciso voltar para festa, tchau..."

Antes que ele desse três passos, ela chamou-o e virou-se estendendo a mão:

"Tome isso, eu coloquei um pouco de magia nele, para gente poder se comunicar... se você quiser é claro "

Ele recebeu o objecto e abanou a cabeça para cima e para baixo lentamente, era o mesmo enfeite que ele tinha devolvido a ela há poucos minutos.

"A gente se vê por aí, ou se fala... eu não sei direito", sorriu um pouco.

"Está bem... Feliz aniversário Oscar"

"Obrigada Cristal"

Ela sorriu e ele sorriu de volta.