Benjamim chegou ao antigo laboratório procurando a calma interior. Ele sabia que transmitir qualquer emoção poderia significar complicações desnecessárias naquele momento. Seu carro autônomo parou na garagem do antigo prédio abandonado e as máquinas começaram o processo de descontaminação. Depois disso, o veículo foi levado para um andar superior.
Ao sair do carro, Benjamim avistou um contingente de forças armadas, com pelo menos dez homens uniformizados e mascarados carregando equipamentos retirados de seu laboratório. Ele usava sua própria máscara de proteção humana, um uniforme obrigatório da instituição, e caminhou usando a máscara de oxigênio de classe superior. Benjamim mostrou suas credenciais ao permitir que seu pulso fosse escaneado por um oficial, teve sua maleta vasculhada e aprovada, e entrou no elevador que o levaria a quarenta andares abaixo de onde estava.
Antes de entrar no laboratório, Benjamim passou por outra descontaminação, sendo autorizado a retirar a máscara. Como ele bem sabia, o ar ali embaixo era o mais puro possível, proporcionando o ambiente mais avançado que o dinheiro poderia pagar para suporte à vida.
— Identifique-se — solicitou um asiático alto. Reconheceu-o do vídeo; seu nome era Quilian e seu uniforme dizia Tenente Toyota.
— Benjamim Dumont de Andrade.
— O chefe do departamento de neurociência da IAH? — Consultou em seu monitor.
— Também gostaria de saber por que me tiraram da cama a essa hora da madrugada para realizar um serviço que até um programador júnior recentemente contratado poderia fazer — respondeu Benjamim em um tom irritado.
— Se fosse você, manteria sua resposta simples e curta. Meu coronel não está em um bom momento.
— E quando estão em bom momento? — Benjamim não sairia de seu papel, o do chefe irritado. — Mostre-me a pessoa que precisa sair da Rede. — Em um tom mais baixo, resmungou: — Odeio piratas e sua forma de burlar o sistema.
— Então somos dois — disse Bernardo, parando em sua frente. — Por favor, retire minha esposa desse cilindro.
— Sua esposa? — Benjamim encarou o homem, ligeiramente mais baixo. Seus olhos verdes analisaram o soldado e sua postura que o ameaçava. "Merda", pensou. "De todos os corpos entregues à ciência, o doutor tinha que escolher a esposa de um militar?". — Você tem autorização dela para ser retirada da Rede?
— Tire-a de lá — sibilou Bernardo.
— Temos regras rígidas sobre quem pode ou não tirar, alguém da animação suspensa. Você tem autorização ou não?
— Olha...
— A mulher em questão foi dada como morta. — Olivia se adiantou e ficou ao lado do comandante. — Devido a esse fato extraordinário, nós das forças armadas podemos retirar qualquer indivíduo para averiguação de um possível crime. — Ela mostrou o tablet em sua mão com a ordem oficial do departamento.
— Muito bem. Burocracias resolvidas, vamos retirá-la.
— Quanto tempo leva? — Bernardo procurou manter seu autoritarismo em frases curtas.
— Nunca entrou na Rede? — Benjamim não esperou a resposta e caminhou até o equipamento ao lado, dando uma boa olhada na mulher seminua, vestida somente com um top e short esportivo. — Leva cerca de meia hora para desplugá-la. Dependendo do tempo que ficou na Rede, pode levar de um a três dias para a sedação deixar o corpo e ela acordar. Quanto tempo ela esteve aqui?
— Pode ser um dia ou dois anos, seis meses e quinze dias. — Respondeu Bernardo.
Ao ouvir a resposta, Gia suspirou, continuando a empacotar o material biológico de um freezer.

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A Rede
Ciencia FicciónA única coisa que os humanos temem é a morte. Mas e se a humanidade não precisasse mais temer esse desfecho? Se houvesse uma maneira de se manter vivo até que você decida que não quer mais viver? No ano 2500, a Terra sofreu uma grande perda: soment...