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CHARLOTTE


Os sonhos são muito complicados. Muitas garotas sonham em viajar o mundo, salvar doentes, pilotar aeronaves e defender os oprimidos. Confesso que são ações de tamanha grandeza, mas desde muito nova eu tinha outros planos.

Enquanto minhas amigas estavam se matando de estudar, junto a mim, minha mente vagava por várias dimensões onde eu me imaginava em um lugar calmo, afastado de toda modernidade cuidando de mim, meu marido e meus filhos.

Eu sempre sonhei em ser mãe, tem uma família completa e feliz. Minha psicóloga e amiga diz que é por falta o suporte familiar que eu nunca tive, não me importo. Eu sempre quis ter alguém para cuidar, guiar e amar.

Me formei em administração aos 22 anos e com isso já estava a dois anos namorando com um menino da faculdade. Eu era e sou uma mulher sonhadora, passou de um ano o relacionamento eu já estava me pegando pensando em casamento e morar junto. Organizar nossos empregos e construirmos nosso ninho de amor.

Ficamos juntos por cinco anos. Nosso término não foi nada amigável, fui ameaçada, humilhada e jogada na rua na frente de todos só porque eu estava suspeitando de uma gravidez. Ele nunca quis ser pai, mas estava alimentando minhas esperanças por pura doença e psicopatia. Foram seis anos e um sonho destruído.

Fui parar na casa da Laisa completamente desamparada. Foi um balde de água fria, foi um soco no estomago em pleno escuro. Entrei numa depressão fudida. Não tinha mais forças para trabalhar e nem viver. As poucas pessoas ao meu redor ficavam com medo de me abandonar nem que seja por 1 minuto e acontecer alguma tragédia.

E a gravidez? Bom, nosso cérebro as vezes nos prega peças. Eu não estava grávida e nem nunca cheguei perto de está. Levei longos meses para me recompor e por tudo em ordem, mas eu consegui!

Depois dessa fase voltei para as ruas a procura de emprego, consegui alguns mas nunca na área em que me formei. Um diploma as vezes é só um papel a mais que possuímos. Eu dei minha cara a tapa, peguei vários bicos que me apareciam e fui juntando meu dinheiro. Dei uma entrada em um apartamento e logo me mudei da casa da Laisa com muita relutância, eu precisava disso. Precisava do meu espaço. Porém, eu ainda sentia que me faltava algo.

Quando consegui o trabalho de secretária em uma das empresas mais lucrativas da Califórnia eu quase surtei. Era algo fixo, fácil - no meu ponto de vista - e bem remunerado. Foram dois anos trabalhando arduamente até subir setor por setor e então parar nas mãos do dono. Depois de dois anos eu estava trabalhando no andar principal com o chefe dos chefes.

Eu estava com 28 anos quando tudo na minha vida começou a se alinhar de forma perfeita. Emprego bom, apartamento, amigos que me amam. Mas algo estava pendente.

Conversei muito com minha melhor amiga, ela tentou tirar essa ideia da minha cabeça de várias formas. Mas eu não estava afim de me relacionar com mais ninguém, não tinha cabeça para mais isso. Entretanto, como se tem filho sem ser no modo tradicional?

Laisa surtou, tentou aplicar terapia em mim para eu pode tirar isso da minha cabeça. Mas nada iria mudar, eu estava certa do que queria, eu queria ter filhos, porém, sem pai.

Com muita relutância ela me acompanhou a cada exame, cada escolha que eu fazia e até mesmo na escolha dos embriões.

Eu sei que é loucura. Mas eu sempre tive certeza do que eu queria.

Não sei se foi pelo nervosismo ou despreparação, mas a primeira inseminação não aconteceu como eu esperava. Eu não engravidei de primeira como muitos relatavam que iria acontecer e isso foi um baque para mim. Acreditei fielmente que nunca engravidaria, meu útero não segurou nenhum dos embriões e isso me deixou bastante triste e procupada.

CharlotteOnde histórias criam vida. Descubra agora