CHARLOTTE
O senhor Boyce não se sentiu bem nos últimos dias que se sucederam. Ele é de uma idade um pouco avançada e precisou se ausentar por mais de duas semanas. O que fez isso aqui parecer uma loucura.
Tive que desmarcar inúmeras reuniões, tentar organizar uma agenda recheada para dias que eu nem ao menos sei quais serão. Me virei nos trinta, joguei o que pude para o próximo mês e tentei convencer alguns sócios e clientes de que tudo ficará bem e assim que possível remarcaremos novas datas.
Eu estava a base de café e dipirona. Minha cabeça parecia que a qualquer momento iria explodir e eu não tinha muito o que fazer além do que já estava sendo feito.
Era uma quarta-feira, logo após meu almoço. Estava exaltada e com o celular no ouvido enquanto um cliente sem educação me xingava e dizia que desistiria de nós.
- Meu senhor, eu não posso fazer nada além do que já foi feito. - explico - São questões pessoas e de saúde. Somente ele lida com esse setor, não há com quem o senhor falar além de mim. - digo mantendo a calma na voz mas ele segue me desacatando
Por fim, desligo o telefone como se a ligação tivesse caído e me jogo na cadeira atrás de mim.
- Vai ter um dia que terei ataque cardíaco bem aqui nesse lugar. - converso comigo mesma
Tento me recompor e enfim sigo até o bebedouro onde encho minha garrafa e volto para a minha mesa. Me acomodo melhor, chego mais uma vez a agenda e organizo algumas planilhas pendentes. Por fim quando acabo e vejo que ainda não está no meu horário, pego meu celular e vaguei pela internet. Adoro fuxicar a vida dos famosos; quem traiu quem, quem vai ser mamãe e papai.. Sigo tantas paginas de fofoca que nem vejo mais postagem dos conhecidos.
- Parece que ele traiu ela gravida. - digo alto lendo a reportagem - E ela ainda aceitou ficar com ele. - digo indignada - Também, com o dinheiro que ele tem. Tem gente que aceita traição de pobre. - rio - Mas ela não precisa disso.
Sigo rodando a tela do telefone até ver uma manchete quentinha. Um vídeo todo embaçado onde aparecem dois homens brigando. Muitas pessoas ao redor. Alguém gritando algo como "Theo, não!" e uma loira com o vestido minúsculo sorrindo. É bem confuso para mim, não compreendo o que está acontecendo. Aumento o volume mais um pouco.
- Poderia retirar o vídeo por favor. - A voz do senhor Boyce é ouvida e eu levo um susto deixando meu celular caindo
- Desculpa. - Peço me colocando de pé de modo automático - Boa tarde senhor. É bom velo novamente. - sorrio constrangida
Odeio ser pega mexendo no celular
- É bom vê-la novamente. - diz sorrindo - Está dando conta das coisas?
- Mais ou menos. O senhor faz muita falta por aqui. - digo já pegando a agenda - Tentei remarcar o máximo que consegui. - aviso - Quando estará pronto para voltar? - pergunto - Está se sentindo melhor?
Senhor Boyce apenas consente com a cabeça.
- Siga-me até minha sala por favor. - pede
O sigo até sua sala enorme. Ele se senta atrás de sua mesa grande e eu me sento bem na sua frente aguardando as informações com a caneta já em prontidão.
- Charlotte. - diz meu nome - Precisamos conversar.
E nessa hora meu corpo já gela. Tenho duas bocas para alimentar, com a minha já são três. Não posso ser dispensada. Meu pensamentos se embaralham enquanto engulo em seco e o encaro já suando frio.
- Vou falar de forma informal, pois acredito que possamos lidar com isso de forma simples. - apenas assento com a cabeça - Eu acredito em você. Acredito no seu potencial e sem você aqui eu não saberia fazer nada, nem me organizar. - Sorrio agradecida - Estou passando por um momento complicado da minha vida. Minha saúde está bastante debilitada e por conta disso precisarei me por um tempo indeterminado. - abro minha boca assustada