Capítulo 5

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   Cá estávamos, no meio da tarde, a caminhar junto ao rio, a caminhar sem fim e aparentemente sem destino, se não estivéssemos nas condições em que estávamos diria que seria um bom passeio, mas não foi, meus pés doíam e nunca chegávamos a lugar nenhum, e isso começou a levantar minhas suspeitas.

   Caminhamos o dia todo, o sol já guardava seus raios de luz no horizonte e continuamos caminhando até chegarmos ao final do vale, o rio se dividia em dois e no meio dos afluentes havia uma fazenda abandonada com uma casa , um celeiro e alguns currais, aparentemente para gado, seria onde pernoitaríamos.

   Atravessamos o rio sem grandes problemas, e entramos na casa, estava vazia, sem móveis, e as aranhas e outros insetos pareciam ser os únicos moradores e o pó a única coisa que cobria o que restava dos móveis, as janelas quebradas, as portas emperradas e o telhado sobre nossas cabeças caindo aos pedaços. Já cansado e estressado, explodi de raiva contra tudo e contra todos. E não foi à toa que aquele maldito austríaco estava me levando para o lado errado. Andamos o dia todo sem comer, só bebendo água, eu fedia a suor e lama, meus músculos doíam e a dor de cabeça consumia meus nervos, além do fato dos demônios da minha mente me atormentarem com ideias primitivas que giravam em torno daquele que me colocou nesta casa abandonada, onde a única fonte de alimento seria a macieira ao lado da casa, se ao menos tivesse maçãs.

   "Seu bastardo, é sua culpa que estamos aqui, se você tivesse nos levado para o lado certo estaríamos em nossos acampamentos e morreríamos em combate e não de hipotermia. Seu idiota, o que você pretende fazer agora, me matar ou me prender para ganhar uma medalha? Se eu estivesse em sã consciência naquela maldita floresta eu nunca teria vindo com você". Ele me olhou sério, sua pele pálida o fazia parecer mórbido sob a luz da lua que subia sobre a terra, seu olhar mostrava uma mistura de sentimentos, tristeza, desespero e talvez medo, do que ele tinha medo?

   O único barulho que se fez foi o silêncio, não houve resposta, então exigi: "Responda a pergunta, por que você me trouxe aqui? O que você quer de mim?"

   "Eu queria protegê-lo." Essa foi a resposta, em voz baixa e entrecortada. teria me feito repensar o tom da minha voz se não estivesse fervendo de raiva e sedento por respostas: "De quem? Estou nessa guerra por vontade própria, sei dos riscos que corro".

   E então explodiu: "Quanto a você, eu me apaixonei por você e não quero te perder, não vê que vai morrer voltando para aquele inferno?" Seu tom começou a diminuir: "Aqui pelo menos posso te proteger, te amo, deveria ter te falado antes, mas tive medo da sua reação sempre combativa e defensiva, você demorou horas para dizer apenas o seu primeiro nome". Foi isso? Essa era a verdade? Ele se apaixonou por mim? Eu não tive reação, até esqueci porque estava tão bravo com ele. Agora eu estava com raiva de mim mesmo, eu queria desaparecer. Desespero, eu não sabia o que estava fazendo, fugi deixando-o para trás, eu estava desmaiando, os demônios em minha mente estavam em festa, meus nervos faziam minhas mãos tremerem, minhas pernas corriam e minha respiração falhava. Apaixonado por mim? Como eu voltaria e o olharia nos olhos depois de quase crucificá-lo em minha explosão de raiva? Fui injusto com ele? Possível, mas eu não poderia corespomder a esse sentimento, afinal nem estou apaixonada por ele, estou? Ele também é austríaco, seu povo é o culpado pelo meu sofrimento. Mas ele nãl seria o culpado, ele era tão gentil e atencioso quando precisei, carregado o meu rifle durante a caminhada, lavou meu ferimento na cabeça quando precisei e me deu o resto da comida que levava consigo.

   E entretanto, as minhas pernas foram, por impulso ou por uma evolução de sobrevivência, os amigos de última hora levarem-me pela margem do rio até ao ponto de partida da nossa viagem, o campo de batalha, mas em vez de estar dentro da floresta eu estava de frente para ela , ou melhor, entre as florestas e lá estava o meu acampamento, um pouco maior e mais fortificado, mas estava lá.

   Atravessei as trincheiras defensivas e fui levado perante os meus superiores onde contei o que me aconteceu, ou quase tudo, talvez tenha escondido a parte que caminhei um dia inteiro e duas noites com um soldado "inimigo", para autoproteção, mas isso é tudo? De qualquer forma fui levado para a ala médica onde trataram meu ferimento adequadamente e onde me deixaram descansar, mas esse não era o plano dos demônios da minha mente que alguns chamam de coração, ou paixão.

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