Dia 02: I

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Café preto é simplesmente a melhor coisa existente nesse planeta, eu amava, amava tudo que envolvia o café e me inebriava em apenas sentir o seu cheiro, mesmo que de longe.

Estava em meu apartamento, servindo-me de um belo café da manhã enquanto criava coragem para ir até a casa de minha família. Estava um silêncio absurdo sem Evan e meu Deus, era perfeitamente agradável. Evan já havia tirado suas coisas do apartamento assim como eu havia lhe pedido, mas a encheção de saco estava em suas mensagens e ligações em meu celular.

Vamos lá pessoal, se você termina com alguém por estar com outra, você vai mesmo ficar ligando por horas e horas seguidas? O quão cara de pau você precisa ser para realizar tal feito? Eu sinceramente merecia um troféu por ter aguentado esse cara por tanto tempo apenas para manter a boa imagem que meus pais criaram para mim e essa infelicidade não me levou a canto nenhum, a não ser decepção, mas afinal, a culpa é minha não é? Eu nunca, nunca mesmo deveria ter me forçado a uma situação para agradar terceiros, porque afinal quando você estiver em seu leito de morte, tudo o que lhe sobrará é arrependimentos e varios ‘e se’ ecoarão incontáveis vezes em sua cabeça, até você ter sua morte trágica sem algo que realmente lhe orgulhasse.

Eu não queria isso, realmente não queria e acho que por isso me sinto tão leve com essa coisa toda com Evan, por mais que minha família passe a me odiar, eu sei que estarei com a consciência limpa e estarei em uma ótima sintonia comigo mesma. Isso é tudo o que importa.

Carpete vermelho, paredes perfeitamente limpas e decoradas com coisinhas bonitinhas. Realmente a casa de meus pais dava uma boa fachada de vida feliz, o que não passava de uma grande mentira já que o perfeito Senhor Soyer traia incansavelmente a Senhora Soyer, essa que sabia de todas as merdas dele e não dizia nada, fingia que não via e sempre dizia que ele mudaria.

Mas nada mudava, desde meus 10 anos, onde eu já entendia muita coisa nada foi evoluido ou ressentido, eles continuavam da mesma forma e aquilo apenas me despertava os piores dos sentimentos, um deles era pena. Eu odiaria passar a vida toda envolta de uma mentira. O que eu deixaria para o mundo? Traumas de infância para todos que estariam envolvidos em minha bolha chula e sem graça? Eu realmente não quero isso.

Larguei os pensamentos de lado e toquei a campainha, ouvindo alguns murmúrios baixos do outro lado da porta, denunciando que algum deles já estava prestes a abri-la.

— Oh, Resty, que surpresa. Vamos, entre. 

Pediu gentilmente minha mãe, que já tinha os cabelos grisalhos e o olhar perdido, sendo envoltos por linhas de expressões deixadas pelo tempo. Eu até poderia dizer que gostava bem mais dela do que de meu pai, esse que acabara de aparecer em meu campo de visão. Estava sentado em sua inseparável poltrona enquanto assistia a algum noticiário qualquer. Sua cerveja já estava posta ao seu lado e não era nenhuma novidade que ele já estaria bebendo neste horário.

Seus olhos pousaram em mim e como sempre estavam sem emoções alguma ao me ver, mas isso não me abalava, afinal, era recíproco o sentimento de desprezo em nossos olhares.

— O que faz aqui? Quer um café? – Perguntou a mais velha despretensiosamente.

— Não, eu já tomei, obrigada – Respirei fundo, me encostando na porta – Eu só vim aqui para comunicar a vocês que eu e Evan não estamos mais juntos. Sei que vocês queriam que durasse, que nos casássemos mas isso não vai acontecer. 

— Eu te falei Louise que essa história não iria se segurar por muito tempo – Resmungou o mais velho, fazendo-me revirar os olhos – Ela mais cedo ou mais tarde iria voltar correndo para aquela vidinha dela. Voltar para aquelas vontades desviadas de Deus.

The beauty of StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora