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Minha vergonha em relação a o que pareceu ter acontecido na última manhã que pisei na Focus foi maior que minha vontade de estudar.
Por sorte, o trabalho me fez estar tão ocupada que não conseguir ter tempo nem pra pôr os pés lá.
Mas uma hora eu teria que aparecer naquele lugar pacífico para estudos.

E cá estou eu novamente, depois de 3 dias torcendo pra não trombar com o Sr. Rob pelos corredores e deve-lo uma explicação.

Xingo em sussurro ao entrar na copa e perceber que esqueci de trazer meus fones que estão na salinha de estudos, minha preguiça maior que a fome me faz não retornar para buscar apenas isso e resolvo esquentar meu almoço.

O micro-ondas apita e o cheiro de comida exala pela copa, um filé com chuchu, brócolis e aspargos no vapor. Rapidamente pego e volto para o balcão.

Depois de me despedir de uma aluna que acabou de almoçar, eu me sento no banquinho do meio, apoio o telefone na parede e abro uma videoaula e aproveito a copa agora vazia e coloco o volume bem baixo antes de dar o play.

Como estava tendo dificuldades em absorver todos os detalhes e procedimentos da nova Lei de Licitações, procurei por uma aula completa sobre ela na internet. O vídeo que encontrei tinha mais de cinco horas, de modo que resolvi dividi-lo e assistir durante minhas refeições.

Uma medida desesperada? Talvez.
No entanto, estou mesmo em um momento delicado da minha preparação e quero usar cada minuto disponível a meu favor.
no meu cronograma de estudos: pausas e descansos não estão entre minhas prioridades.

Aidan} Estudei muito sobre como o cérebro aprende na minha época de concurseiro.

Diz Aidan de repente me fazendo sobressaltar da cadeira. Não vi ele entrando em momento algum. Torço os lábios e já recuperada do susto penso no que ele disse. Bom, se ele conseguiu passar em uma das provas mais difíceis do país e sei lá em quais outras, deve saber pelo menos um pouco do que está falando. Solto um "humm" resignado e resolvo pausar minha videoaula.

Desconfortável em silêncios constrangedores, resolvo puxar assunto:

Anne} por quanto tempo você estudou?-pergunto, olhando-o por cima do ombro. - Desde que entrei na faculdade, meu foco foi estudar para concursos. Fiz estágio no Tribunal de Justiça e, quando cheguei ao 8º período, passei no processo seletivo para assistente, na 7ª câmara criminal. A partir daí, direcionei os estudos para o MP.
Giro o banquinho para ficar de frente para ele quando ele retorna a falar:

Aidan} Primeiro eu fui cabo da PM bem jovem, tão jovem que me chamavam de pirralho, depois decidi seguir advocacia e me formei na área aos 24. Quando me formei, continuei como assistente para completar os anos de prática jurídica enquanto estudava, até ser aprovado um pouco depois.
E agora estou no primeiro ano de estudos pra ser juíz. Então, deixa eu ver... Ele olha para cima, apertando os olhos. - Se contar tudo, foram 9 anos de estudos no total.

Lembro-me do que a publicação no Instagram do Sr. Juiz em que ele disse uma vez, sobre não podermos comparar nossos bastidores ao palco do outro. Por mais que não tenhamos presenciado o processo, quem conseguiu conquistar aquilo que hoje queremos também teve de passar por suas próprias e árduas provações.

O silêncio que paira sobre a copa é tão longo que me esqueço que Aidan também estava aqui.

Estou menos da metade da minha refeição quando a porta da geladeira bate atrás de mim. Quase me engasgo com o susto, mas consigo me recompor antes de me virar nada feliz com isso com a situação embaraçosa.

Encaro Gallagher com a expressão raivosa e ele me encara de volta com um olhar debochado que me dizia "ops".

Ali, com uma bandeja de isopor de sushi na mão. Seus olhos pulam de mim para meu celular e, com uma leve preocupação em sua voz, ele diz:

𝘋𝘖𝘊𝘌 𝘊𝘖𝘔𝘖 𝘜𝘔 𝘓𝘐𝘔Ã𝘖 -𝘈𝘪𝘥𝘢𝘯 𝘎𝘢𝘭𝘭𝘢𝘨𝘩𝘦𝘳Onde histórias criam vida. Descubra agora