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Kate} Onde você se meteu hoje cedo?! Kate grita pelo telefone. Fiz meus ovos mexidos especiais para o café da manhã, e você nunca voltou da sua corrida para comer comigo.

Quase posso ver seu muxoxo através do fone de ouvido.

Anne} Saiu o edital. Suspiro e coloco mais uma garfada do frango grelhado na boca. Cheguei alguns minutos antes do horário combinado para visitar a salinha e aproveitei para experimentar o restaurante self-service que encontrei logo ao lado. Apesar de ele estar cheio e eu precisar dividir a mesa com outros clientes solitários, não precisei esperar tanto tempo na fila do bufê, e a comida está bem melhor do que a das minhas marmitas.

Kate} Calma. Do concurso para delegado que você queria? pergunta, a voz agora ainda mais estridente. Se ela não fosse tão apaixonada pelas redes sociais, poderia ganhar a vida como dubladora de desenhos infantis.

Anne} Esse mesmo. A prova será em 87 dias - digo, espetando meu frango com mais força que o necessário.

Olho para o homem sentado na cadeira à minha frente . Na verdade, já é a quarta vez que faço isso, mas quem está contando? Ele está de terno, cabelos lisos na cor castanho escuros emolduram seu rosto, dando destaque aos seus olhos verdes e a pele clara, ele tem mandíbula marcada. Espera, e essa sobrancelha? Destaca seu olhar e..se controla, Anne--sussurro mentalmente pra mim mesma.

Kate}Ai. Meu. Deus! continua Kate, soando tão chocada quanto fiquei mais cedo. Mas você não disse que seu concurso não ia sair em uns... O que, uns seis meses?

Não me culpo por encarar tanto o estranho à minha frente ao ponto de não escutar nada que minha amiga diz. Acho que nunca vi um homem tão bonito assim talvez na televisão, mas, pessoalmente?

Nunquinha.

Sério, deveria ser um crime, ou no mínimo
uma contravenção, sair na rua atrapalhando as outras pessoas assim, a se concentrarem em suas tarefas rotineiras e fingindo que nada está acontecendo. Ele, ainda bem, parece não prestar atenção em mim, e seus olhos permanecem fixos no tablet, que mais lembra um celular, na sua mão enorme.

Kate} Anne? - Kate chama.

Anne} Hum... Sim. Pois é, e eu estava contando com esse tempo extra. Agora não sei se vou conseguir estudar tudo a tempo.

Kate} Não vem com essa! Se tem alguém que vai conseguir, é você!

Dou uma risada baixa.
Anne} Minha mãe falou a mesma coisa
quando mandei mensagem pra ela mais cedo.

Kate} Tá vendo? Não sou só eu.

Sem aviso prévio, o desconhecido me olha por entre os cílios escuros e longos. Outra injustiça: o que é isso de homens com cílios longos? E eu aqui, custando para dar um mínimo destaque aos meus com uma camada tripla de rímel preto.

Desvio o olhar e, buscando ocupar minhas mãos, pego um adoçante da caixinha e o jogo na limonada. Enquanto mexo a bebida com o canudo, ergo a cabeça só para constatar que minha operação teve efeito inverso: agora ele, que mal havia me notado, é quem está me encarando. Por algum motivo, sustento seu olhar.

Um. Dois... Ele arqueia uma sobrancelha. Três. Quatro...

Droga.
Do telefone, Kate me tira do transe, resmungando algo sobre a injustiça de o concurso não ter um cronograma prévio ou algo do tipo. Então, derrotada, desvio o olhar, voltando-me para o prato, e tento continuar a conversa:

Anne} Mas adivinha quem chegou logo quando eu estava lendo o edital lá no escritório?

Kate} Ah, não. Posso ouvir sua respiração forte de indignação. O Zé Ruela?

𝘋𝘖𝘊𝘌 𝘊𝘖𝘔𝘖 𝘜𝘔 𝘓𝘐𝘔Ã𝘖 -𝘈𝘪𝘥𝘢𝘯 𝘎𝘢𝘭𝘭𝘢𝘨𝘩𝘦𝘳Onde histórias criam vida. Descubra agora