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Um suspiro e consigo imaginar uma névoa se formando ao redor da minha boca.
A salinha de estudos hoje está gelada mais do que de costume . Normalmente, gosto do frio. Ele me ajuda a me concentrar e ninguém fica suando na sala fechada .

No entanto, à noite, ao final de uma segunda feira intensa de trabalho e estudos, e depois de mais de duas horas sem sair, o moletom verde-musgo que vesti sobre a roupa social do escritório se mostra insuficiente para me salvar da hipotermia, mesmo com o capuz protegendo minha cabeça.

Olho para o lado e Alyssa, em sua cabine, resolve uma bateria de questões. Imagino como deve estar ansiosa: sua prova será neste domingo. Torço muito para que ela passe.

Esfrego as duas mãos e lamento pelo meu café ter acabado...há um bom tempo, na verdade, mas não quero sair ainda.
Na última hora, venho lutando contra um único assunto que não consigo entender por nada. Balanço a cabeça.

Sério, como poderei ser uma boa delegada se não consigo ir bem no Direito Penal? Frustrada por mais essa barreira surgir entre mim e meu distintivo, aperto os dedos gelados demais por causa da promessa idiota de só sair da sala hoje depois de entender a diferença entre os erros de
tipo e de proibição. Quando leio a teoria, ela até faz sentido, mas, quando vou resolver as questões, com casos concretos, acabo errando mais do que acertando.

Resultado: estou congelando por aqui. Meus dentes começam a bater, mas me recuso a quebrar uma promessa que fiz comigo mesma. E é por isso que pego o celular, vou até o grupo da Focus e navego entre os integrantes até encontrar um nome que, há alguns dias, eu nem cogitaria adicionar.

Engulo meu orgulho, que em nada vai me ajudar a conseguir a aprovação, e escrevo para Aidan Gallagher.

ANNE: Boa noite! Por acaso você gostaria de salvar uma garota prestes a ter hipotermia?

Imediatamente, dois simbolozinhos azuis surgem na tela, indicando que ele viu a mensagem.

AIDAN: Quem é? O que houve?

É, minha mensagem ficou mesmo com cara de telemarketing fajuta , ou de alguma emergência de vida ou morte. Ótimo começo, Anne.

ANNE: É a Anne
ANNE: A salinha hoje está especialmente fria, e me prometi que só sairia daqui depois de dominar "erro de tipo" e "erro de proibição" . Não paro de confundir os dois.

Sua foto de perfil aparece no aplicativo, sinal de que adicionou meu contato, e o par de olhos esmeraldas me encara através da tela.

Ajusto os óculos no rosto antes de ampliar a imagem para analisá-la um pouco melhor: onde parece ser um parque, Aidan veste um suéter cinza-claro, exibindo duas correntinhas pratas no pescoço, uma delas com um pingentinho retangular.

Seus cabelos estão úmidos e mais soltos, e ele quase sorri para a câmera, com um ar bem mais relaxado e acessível que o de costume. Uau ein...

AIDAN: Anne, você precisa melhorar suas habilidades de comunicação.

É a cara dele dizer isso.

AIDAN: Como posso ajudar?

Explico minha dúvida e, um instante depois, uma nova mensagem surge na tela do meu telefone:

AIDAN: Então eu sou seu professor particular agora?

Mordo a bochecha ao lembrar a vez que Julie tentou tirar uma dúvida com ele na copa, apesar de transparecer segundas intenções, e ele pediu para que ela aguardasse até a aula seguinte.

Eu, que nem sou sua aluna, então... Também não somos amigos nem nada. Conhecidos, talvez? Não sei dizer o que somos, mas sei que ele não me deve nada. Na verdade, estou até no lucro depois da explicação mais do que completa que me deu no último sábado, com direito a anotações no caderno e tudo, o que já me ajudou muito.

𝘋𝘖𝘊𝘌 𝘊𝘖𝘔𝘖 𝘜𝘔 𝘓𝘐𝘔Ã𝘖 -𝘈𝘪𝘥𝘢𝘯 𝘎𝘢𝘭𝘭𝘢𝘨𝘩𝘦𝘳Onde histórias criam vida. Descubra agora