Show de Abertura

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Don't wanna be an american idiot! — a voz irritante do Jávi cantarolou ao som de Green Day que soava em seu grande fone de ouvido.

Dava pra ouvir a quilômetros. Ironicamente, é claro.

— Cala a boca. — empurrei seu ombro largo aos risos. — Para de fiasco!

O som era um dos meus favoritos, mas o fato dele estragar a música com aquela voz ornamentada por fiasco e os dedos dedilhando uma guitarra invisível não dava pra aturar, ou melhor, segurar o gargalho.

Javier era meu primo, meu melhor amigo e fanático por rock n'roll. Desde criança preferiu seguir os passos de seu pai, que consequentemente, apresentou o estilo musical para mim desde muito pequena. Sempre espontâneo e alegre, ele não tinha papas na língua e nem se preocupava com o que iria vestir, ou melhor, se adornava com o que era apropriado para ressalvar o bom gosto pelo rock n'roll.

The subliminal mind-fuck América! — a voz da Maria soou mais alto, simulando um microfone com as mãos.

Eu não merecia passar tanta vergonha.

A garota que conheci em Monterrey, acolheu eu e o Jávi quando iniciamos a faculdade. Juntos cursamos pediatria, e depois do primeiro dia Maria Elena nos aturou, me aturou. Maria sempre foi capaz de ver o lado bom da vida, inclusive o meu. Sabia bem o quanto era difícil enxergar mais além da minha cara de rabujenta.

— Da pra vocês serem um pouco normais de vez em quando? — coloquei a mão na testa, espreitando as pessoas olharem indiscretamente para o grupo de roqueiros escandalosos. No caso, nós.

— Rosa! — Maria jogou em mim o papeuzinho do chiclete que segurava. — Quando é que tu decidiu ficar mais chata que o normal?

— Eu só tô impaciente. — revirei os olhos. — Faz um tempão que estamos esperando o Sebastián que não chega nunca. Que a propósito, ainda não entendi o porquê que vocês convidaram ele.

— O navio está lá para quem quiser ir. — Jávi abaixou os fones das orelhas para os ombros e apontou o polegar para a direção do imenso navio no pôster em sua retaguarda. — E claro, que tenha comprado um bom pacote de viagem.

— E vai que eu me sinta muito sozinha e com vontade de dar uma aliviada. — Maria maneou as sobrancelhas.

— Mas ele é teu ex!

— Pra isso que os ex servem. — fez uma bola rosa e grande com o chiclete na boca, enquanto eu, franzi o cenho totalmente descompreendida.

Ex devia ser considerado morto e enterrado, pensei.

— Até que um de nós não esteja comprometido, não vejo por que não. — ela continuou.

Para mim, a fila anda. Ex é ex.

— Falando nisso. — Jávi se aproximou e ocultou o sol fazendo sombra em meu rosto com seu cabelo negro e bagunçado. — Já decidiu o que vai fazer?

— E aí povo Do contra! — Sebastián levou nossa atenção para sua direção, antes mesmo que eu pudesse responder.

É, somos chamados de Do contra. Começando pelo estilo musical que diferenciava do mariachi e da ranchera por exemplo. A vestimenta é totalmente o oposto das outras pessoas, como as mesmas que entravam no navio para um cruzeiro. Como o costume de seguir as tendências do verão usando florais e múltiplos tons, como um festival de cores. E nós, tudo cinza e melancólico.

De sorriso largo e a barba pra fazer, o garoto atrasado andava em passos largos, batendo as madeixas castanhas nos ombros enquanto arrastava a mala preta de rodinhas.

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