— Meus Deus, Rosa. — a voz conhecida e abismada soou, depois do ranger da porta do banheiro quando abriu. — Tu tá parecendo um verdadeiro... estrume com essa cara de morta.
— Bom dia pra você também. — minha voz saiu rouca e arrastada. Eu estava sentada na beira da cama e tentava identificar as horas pela tela do celular. O corpo parecia estar despertando e com pouco caso, minha visão embaçada conseguiu discernir Jávi de cabelo úmido e bagunçado. — Eu tô com dor de cabeça.
— Mas ontem tu nem bebeu tanto. — ele esfregou a toalha no cabelo escuro, me fazendo transtornar os olhos e deixar minhas costas encontrar o colchão mais uma vez.
— Eu só não consigo parar de pensar. — apoiei a mão na testa e apertei os olhos. — Minha cabeça está tão cheia ultimamente.
— Pensando no amor da sua vida? — me olhou com um sorriso bobo nos lábios, me fazendo erguer o canto do lábio superior.
Amor da minha vida. Que exagero.
— Não fala besteira, coisa ambulante que eu chamo de primo. — fiquei admirando o teto branco por poucos segundos, até escutar seu suspiro pesado.
— Olha, eu demorei muito pra conseguir dormir, porque fiquei pensando muito também. — ajeitou o cabelo com a escova, ao mesmo tempo que me notava pelo grande espelho na parede.
— Estava também pensando no amor da sua vida? — corei as bochechas por entregar meus reais pensamentos.
— Nãao. — ele riu e borrifou em si o meu perfume. — Estava pensando em você.
Estreitei as sobrancelhas. Em mim?
— Eu sei que o plano era terminar com o Rafael e curtir o cruzeiro de outra forma, como flertar com certos tripulantes. Mas... — revirei os olhos ao mesmo tempo que senti uma pontada no peito. — O Carlos bagunçou tudo quando chegou, trazendo a tona todos aqueles sentimentos que estiveram guardados ali no fundo do teu coração.
— O que tu — com esforço, eu me ergui e fiquei sentada com a expressão desentendida. —, tá querendo com essa tagarelice?
— Eu só estou te preparando para a verdade. — ele falava ao mesmo tempo que amarrava os tênis. Ergueu o olhar e presenciou meu semblante descompreendido, por isso suspirou fundo. — A única que pode afirmar se Carlos é realmente nosso primo, é a tua mãe.
— Ele já disse que é. — levantei e dei de ombros, andando até o banheiro para pelo menos começar o dia com uma boa higiene.
— Rosa, precisamos ter certeza. — soou a voz dele do outro lado da porta e eu escovava os dentes, enquanto me perguntava onde ele queria chegar com essa conversação repentina. — Não sabemos se o suposto pai dele é o nosso tio Luis Carlos.
Dei uma risada zombeteira e abri a porta com a boca cheia de espuma.
— Pela comparação de nomes, não me resta dúvidas. — enxuguei os dentes e fiz gargarejo para atrapalhar a conversa.
Falar de Carlos Daniel me dava nos nervos.
— Mas pode ser uma simples coincidência. — ele parou entre a soleira da porta e continuou me importunando com essa mesma encheção de saco.
Eu não conseguia continuar com um assunto que me deixava desconfortável, por causa disso, eu puxei propositalmente a descarga atrasando suas palavras para continuar a conversa.
— O nome Carlos é bastante comum... — continuou, e eu retirei um papel higiênico de dentro do balcão da pia, batendo a porta com força para provocá-lo. — Da pra parar com tanta infantilidade?
VOCÊ ESTÁ LENDO
American Idiot
RomansaPor que não uma viagem num navio de cruzeiro? Essa era as férias tão sonhada de Rosa, que junto de seus amigos navegaram pelo Caribe a procura de curtição e amores. Amores antigos e flertes temporários. Amante do rock n'roll, Rosa ficou a mercê da...