O príncipe estava concentrado. Sentia o sabor do noctum descendo em sua garganta, irritando a mesma. Ainda tinha duas armas para aprender a usar com maestria. Armas estas que foram criadas apenas para ele. Ele atirava várias vezes, mas ainda errava os alvos e isso o deixava frustrado.– Você precisa ter fé, Aphelios. Você tá quase conseguindo.
– Mas ainda faltam a Crescendum e a Severum. E eu tenho menos tempo a cada dia, o que vou fazer? - Estava claramente assustado. Sua voz mal saía por conta daquele veneno que irritava sua garganta.
Alune se posicionava atrás de Aphelios, segurando suas mãos que carregavam o rifle.
– Você já sabe o que fazer com essa, não? - Aphelios assentiu silenciosamente. - Apenas feche seus olhos. Tenha fé em mim.
Aphelios obedeceu, sentindo-se mais calmo e então, podendo entender o motivo de Alune querer que ele se concentrasse. Agora que estava mais focado, pôde sentir o poder que as armas tinham. Poder este que fluía lentamente para seu corpo.
– Você é a arma de Targon, Phel. A arma dos devotos. - O lunari abria os olhos lentamente. - Sempre que se desesperar, ouça minha voz dentro de você.
O príncipe tentou mais uma vez acertar aos alvos, com êxito desta vez, arrancando um riso genuíno da irmã, acabando até mesmo por sorrir junto a ela. Mas Alune estava preocupada. Sabia que o irmão não estava bem e queria saber mais sobre isso.
– Phel... Eu sei que você não está bem. Por favor, converse comigo. - A irmã pediu sutilmente.
– Eu não quero conversar sobre, Alune. - A expressão de Aphelios se fechou mais uma vez.
– Eu estou preocupada, irmão. - O lunari soltou um suspiro pesado.
– Eu só preciso aprender a lidar comigo mesmo, não é nada demais.
O moreno forçou um sorriso, fechando os olhos gentilmente, mas pôde sentir o peso do corpo de sua irmã sobre o seu. Alune o abraçou forte, acariciando seus cabelos negros, fazendo com que os olhos azuis acizentados quase transbordassem. Fazia muito tempo que Aphelios simplesmente engolia o choro.
– Você faz de si mesmo uma arma para evitar os sentimentos. - A mais velha disse, o segurando em seus braços. - Mas você não é uma arma. É o meu irmão.
Aphelios sentia suas forças deixando seu corpo que agora se encontrava instável, causando sua queda ao chão, ajoelhado. Alune ajoelhou-se junto a ele, podendo até mesmo ouvir aqueles gritos silenciosos que suplicavam por ajuda. Confortou o irmão por um bom tempo, até que o coração deste estivesse minimamente mais leve.
[...]
Aphelios secava os cabelos apenas com uma toalha após um banho demorado. Já faziam dois dias desde que havia visto Sett pela última vez, então, decidiu que iria visitá-lo no meio da noite.
Seu dia havia sido atarefado, estava cansado sim, mas o lunari praticamente correu até a ala do castelo onde encontraria Sett trancafiado em uma cela, onde o mesmo havia prometido contar histórias sobre a dinastia da qual faria parte um dia, em troca de escutar as histórias de batalha do ruivo.
– Aphelios? - Ouviu a voz de Settrigh antes de vê-lo realmente.
– Você não pode chamar meu nome quando escutar alguém vindo aqui. - Agora estava na frente de Sett. - Não podem saber que estive aqui.
– Enfim, veio me contar sobre seu mundo, não? - Aphelios concordou com a cabeça. - Você me parece mais feliz hoje.
O lunari soltou um sorriso sutil, desviando o olhar.
– Eu me sinto um pouco melhor.
– E tudo isso porque veio me ver. - O ruivo brincou, se gabando.
– Não se iluda. - A expressão voltou a se tornar fria, arrancando um riso sincero de Sett. Tal riso que fez os olhos azuis cintilarem por um breve momento.
– Estou esperando. - Disse, mostrando interesse nas histórias que Aphelios tivesse para contar.
O príncipe respirou fundo, tentando imaginar por onde iniciaria.
—
Aphelios sabia que a dinastia de Targon era algo complexo de se explicar.
Tudo começou com a guerra dos Solari - os devotos ao Sol - e Lunari, os hereges. Ao entrarem em conflito, os Lunari se ergueram em uma dinastia para poderem lidar de forma mais organizada contra os ataques dos soldados Solari.
Os que se odiavam não tiveram problemas, mas até mesmo aqueles que se amavam pagaram o preço pela arrogância dos devotos ao Sol, acabando por se separarem; quanto aos Lunari, foram os que mais se esforçaram para que não tivessem de se separar, o que provocou a ira dos Solari, fazendo com que a guerra se acabasse por se tornar genocídio e carnificina. Os Solari estavam desconfiados, achando que alguns Lunari apenas queriam manter a união por causa dos poderes de seu grande Deus Sol.
Os Lunari se isolaram. Estavam longe daqueles que queriam matá-los, mas ainda havia uma ordem a ser restaurada, portanto, um dia, a lua brilhou no céu, em vermelho e mais forte do que jamais havia feito, acabando por adoecer uma jovem moça que em 9 meses depois deu a luz a uma pequena criatura, uma criança de sangue puro, àquele com a marca real. Algum tipo de desenho em roxo que retratava a lua estaria estampado em alguma parte de seu corpo, uma ou duas marcas sempre abaixo do pescoço.
E assim foi por alguns séculos, e este fenômeno ficou conhecido como "A Doença da Lua".
Nos dias atuais, a doença da luabagiu de forma diferente. As mulheres eram sempre belas jovens virgens que jamais haviam sido cortejadas anteriormente, mas, desta vez, a lua escolheu uma viúva que tentava cuidar de sua única criança, surgindo assim, Aphelios.
Um acontecimento tão belo e inesperado. Era como se fosse a munição da dinastia Lunari, predestinado a enfim acabar com a guerra entre dois povos. O futuro rei era Aphelios, a arma dos devotos.
A mãe de Aphelios o criou de forma rígida desde cedo para poder fazer de seu filho um grande rei, mas, após sua morte, o príncipe herdeiro foi bombardeado com uma enorme pressão, fazendo com que enfraquecesse. Era apenas uma criança, criado como um guerreiro mas nunca verdadeiramente ensinado a lidar com suas emoções.
A pessoa que tirou Aphelios de todo aquele tormento foi Alune, sua irmã. Deixou claro para ele que por mais que tivesse de passar pelo luto, o Lunari ainda tinha um reino para reerguer e assim, o príncipe se ocupou com os afazeres reais, nunca tendo tempo para realmente enfrentar seus sentimentos.
O príncipe herdeiro aprendeu a se portar perante situações preocupantes, e também a agir como um legítimo rei, mas, um dia o herdeiro teria de encarar sua sina como "aquele que alcançaria a paz entre os povos", como dizia a profecia de Alune, por isto, a mais velha pediu apelo ao seu Deus que a mostrava as profecias do reino espiritual, e então, pediu algo que seu irmão pudesse usar em sua defesa própria, mas o rapaz teria de sacrificar sua voz para obter o poder delas. Teria de tomar um tipo de veneno que tiraria sua voz temporariamente, mas isso melhoraria sua condição em combate.
Alune entregou para Aphelios cinco armas Moonstone.
Gravitum, o canhão.
Infenum, o lança-chamas.
Calibrum, o rifle.
Severum, a pistola-foice.
E Crescendum, o Chakram.—
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Loyalty (SettPhel)
Romance"É melhor que você se torne leal a mim. Uma criatura tão distinta, tão curiosa... O que faria por essas terras? Estaria buscando a minha desgraça? Ou se juntará a mim e aos meus ideais? Eu estou conquistando este mundo que você vê. É melhor que vo...