Cellbit não teve a intenção de fazer com que suas palavras soassem grosseiras ou assustadoras daquela forma, mas sentiu-se na obrigação de afastar quaisquer ideias suspeitas que pudessem usar para testar sua lealdade à sanidade. Ele queria que ficasse bem claro que ele não era o único ali que caso pressionado o suficiente, poderia pender para o lado homicida.
Que estivesse claro que os brasileiros eram uma família problemática, mas que iriam até o fim do mundo para salvar e defender uns aos outros.
- Isso é uma ameaça? - Roier perguntou cautelosamente, agora com a voz de psicólogo.
Cellbit arqueou sua sobrancelha ao perceber aquela mudança, ele havia ido em muitos psicólogos na prisão para conseguir ficar atento aos tons usados, embora estivesse apaixonado por Roier, não cederia aos truques que ele, enquanto profissional, poderia usar.
- Roier, onde você está querendo chegar com esse assunto? Eu gosto de você, e isso é um fato, mas eu não posso mentir sobre o meu passado ou sobre os meus gatilhos. Eu já disse, eu não sou mais o assassino de antigamente, eu mudei - Cellbit se desprendeu da cerca e ficou de frente ao mexicano, mantendo um contato fixo com ele. Embora uma parte dele quisesse mentir apenas para aliviar aquela situação, uma outra queria se manter na honestidade, no realismo. Ele queria ser honesto com e sobre o seu passado. - Se você não quiser nada comigo...
- Isso é difícil, Cellbit - Roier passou a mão por dentro de seu cabelo enquanto suspirava exausto. - Talvez eu precise de um tempo para conseguir digerir isso tudo.
Um tempo.
- Ok.
Um tempo.
- Eu vou voltar pra festa e esfriar a cabeça, quando eu chegar em uma decisão, eu falo com você.
Um tempo.
Cellbit o observou, sem dizer nada ele deixou com que Roier fosse embora e aos poucos sumisse na penumbra da noite. Aquela reação já era esperada, foi dolorida, mas esperada. O medo e a hesitação era compreensível, qualquer um daria um passo atrás ao descobrir que a pessoa mais próxima de você era uma assassino e ainda tem impulsos assim. Esse era um fardo que Cellbit teria que carregar durante toda a sua vida, seria uma história que ele teria que recontar todas as vezes que alguém visse as marcas em seu corpo, ou todas as vezes que um gatilho ativasse seu modo de sobrevivência. Aquela era uma marca explícita da guerra que ele viveu quando mais novo.
E ele definitivamente entendia Roier, ele era comum. Então para ele, o tempo seria suficiente. Era só um tempo.
Roier voltaria, não é?
Um suspiro pesado saiu do fundo de seus pulmões, e ele se sentiu leve em conseguir confessar seu pior segredo para a pessoa que mais amava, agora era só esperar para saber como ela lidaria com aquela informação. Cellbit começou a andar em direção à festa, ainda pensativo sobre como lidou com a situação de mais cedo. Ele estava certo em ficar na defensiva ou foi uma hora errada para mostrar o seu lado mais frio?
Ele queria saber o que se passava na cabeça de Roier, e pela primeira vez ele se contrariou, pois mais do que nunca quis ter o superpoder de ler mentes e acabar com aquela demora logo.
Quando ele estava se aproximando do salão, um arrepio subiu por sua espinha e eriçou os pelos de sua nuca. Era uma sensação parecida com a que ele tinha quando estava na cadeia e outros presos se aproximavam por trás, uma sensação que fugia do abstrato. Ele parou de andar e esperou para que a sensação sumissem, mas não sumiu. Ele virou-se para trás rapidamente e se deparou com uma uma figura negra, um espectro que parecia dançar em rodopios com a brisa da noite e engolir as cores do que estava ao seu redor. Era uma escuridão densa, com apenas dois buracos que brilhavam no lugar dos olhos como uma luz que está tentando escapar de um buraco negro.
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umbrella; guapoduo
Fiksi PenggemarDias chuvosos são raros na Ilha de Quesadilha, e Cellbit sabia disso, mas ele só não imaginava que aquela chuva iria trazer consigo um visitante inesperado e a tona os seus sentimentos mais profundos