Parte Um - 06 - Igor Kavinsky

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"Eu só não vou a lugar nenhum." Igor exclama ao telefone, nos fundos do caixa registrador de um trailer de lanches. Estava fazendo taxa como atendente do Sanduíche do Gordo no fim de semana.

Dandara diz do outro lado da linha: "Você precisa sair um pouco. Só trabalha o tempo todo. Vai acabar ficando doente."

Dandara era sua meia-irmã. Tinham o mesmo pai, mas não a mesma mãe. Dandara não vivia com seu pai. Ela sequer falava com seu pai. Eles eram como desconhecidos. Mas Dandara e Igor não eram desconhecidos. Eles eram irmãos. E eles se amavam.

"Ficarei doente se ver mais pessoas do que o necessário." Uma garota ruiva chega para olhar o cardápio laranja e rosa. "Olá, o que deseja?" Dandara fica em silêncio do outro lado da linha até Igor terminar o atendimento. "Obrigado! Só aguardar alguns minutinhos."

"Igor, vai ser fantástico. Vai ter show ao vivo."

"E em que mundo isso é fantástico, Dan?"

"É fantástico!" Igor sorri, gostava da voz de Dandara quando ela ficava animada. "E eu quero que você conheça a Hope, ela é fantástica."

"Se for fantástica como show ao vivo, passo." Igor diz enquanto limpa a bancada de atendimento, tirando pedaços de pão e molhos derrubados.

"Ela é realmente fantástica. E seu crush vai estar lá."

Seu crush.

Igor odiava essa palavra, parecia mesquinha demais. Mas ele tinha um crush. Sentiu o coração subir na boca e ruborizar ao pensar que ela poderia estar falando de William Jones. Não se lembrava de ter lhe contado que achou o idiota bonitinho, ou que tinha encontrado o amigo de Hope algumas vezes (três vezes, todas com discussões, mas mesmo assim), mas talvez... Sei lá. Dandara lia sua mente as vezes.

"Meu crush?"

"O Mattheo. O que você disse que tem mãos pesadas mas gostou."

Mattheo.

Não William.

Graças a Deus.

Igor pensou. Estava trabalhando demais nos últimos dias, e seu pai estava mais doente com o passar dos dias também. Igor odiava, se sentia uma pessoa terrível, mas simplesmente odiava ficar no mesmo ambiente que o pai. O velho era velho, doente, inútil, mas não o amava. Precisava cuidar de alguém que mal suportava. Odiava viver naquela casa. Igor dispersa o pensamento. Precisava sair. Precisava beijar na boca. Esse era o pensamento.

"Que seja. Vou ir."

"Sabia que Matteo era a carta certa."

Sim, na verdade, ele era.

.・゜゜・

Igor não usava apenas camisetas de campanhas eleitorais. Ele usava as camisetas de campanha apenas para trabalhar, para não sujar ou estragar suas roupas favoritas. No banheiro de sua casa, Igor remexia nos cabelos rubros cacheados em frente ao espelho em cima da pia. Igor se vira de costas, olhando sua roupa por trás. Estava mais magro do que a última vez que vestiu aquela roupa, a camiseta vermelha e laranja listrada ficava certinha em seu corpo, agora estava mais larga. O calção a mesma coisa, sobrou tecido em sua bunda, o que o fez suspirar. Seu calção era acima dos joelhos, o garoto coloca duas tiras em suas pernas, de cor preta, gostava delas, se sentia bonito. Ao sair do banheiro, senta-se em seu sofá-cama e veste um all star vermelho de cano alto.

Seu pai lhe encarava do quarto, que era ao lado da sala, o sofá bem em frente a porta onde o mais velho estava parado. Igor se sente desconfortável com quanto tempo ele lhe encarou. Até que o velho disse: "Parece uma bicha com essa roupa."

Waiting For The Shining FlareOnde histórias criam vida. Descubra agora