Parte Três - 27 - Jaymes Rockenback

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Jaymes tinha pesadelos. Com seus pais.

Não Jonathan e Yousef, mas com Montana e Carlos, seus pais biológicos.

Jaymes não se lembrava muito deles, ele foi abandonado quando tinha quatro anos. Mas ele lembrava de algumas coisas. Como, por exemplo, sua mãe tinha cabelos cacheados longos, e seu pai tinha cabelos lisos curtos. Ele se lembrava que ambos tinham a pele marrom, como si mesmo. Ele se lembrava que sua mãe tinha um sorriso quadrado, e que ela lhe chamava de "docinho". E ele se lembrava que seu pai lhe ensinou a contar até cinco. Jaymes se perdia nelas facilmente. Uma hora, ele estava com seus pais. Na outra, ele estava sozinho, chorando e com a voz entalada na garganta, no orfanato. Ele tinha tanto medo.

Não eram pesadelos, no entanto, eram memórias.

Ele não sabia o que fez seus pais lhe abandonarem, mas ele sabia que lembrar daquele dia - porque ele sabia que aquela memória, dele chorando no orfanato, foi no dia que fora abandonado - fazia seu coração doer e lhe dava vontade de gritar com o mundo todo. Nenhuma criança deveria passar por aquele terror, aquele medo.

Jaymes nunca se recuperou totalmente do medo de ser abandonado outra vez.

Ele se lembrava que, quando foi adotado, sempre que Jonathan lhe deixava na escola, ele tinha medo de não ser buscado, de ser esquecido lá. E ele se lembra, nitidamente, de como quando Yousef foi espancado e ficou em coma, tinha a plena certeza de que ele lhe deixaria para trás como seus pais biológicos fizeram.

Jonathan não lhe esqueceu, no entanto. E Yousef acordou e nunca o deixou.

Eles eram os seus pais. Seus verdadeiros pais. E Jaymes os amava tanto.

Mas ele ainda tinha medo do abandono. Ele tinha. Ele morria de medo de ser abandonado outra vez. E ele sentia tão fundo que James estava tão cansado dele. Ele sabia que era injusto demais com James, mas era tão difícil ignorar aquele sentimento.

"É bem legal." James diz, quando entram no palco do teatro da Universidade. A plateia estava vazia. James dá um giro perfeito em sua frente, parando em uma pose. Jaymes sorri, olha para o chão. "Me sinto famoso. Olá, Senhoras e Senhores, aqui é James, com meu querido..." Ele pega Jaymes pela mão, lhe girando e parando com o garoto deitado em seus braços. Os olhos de Jaymes estavam arregalados e as suas pernas dobradas de um modo muito ruim. "JayJay." James sorri, então lhe dá um selinho. Ele volta o garoto de pé, que ri, andando junto ao outro pelo palco.

"Você é esquisito."

"Obrigado." James se senta no meio do palco, Jaymes se senta ao seu lado. Eles olham para a plateia vazia.

"É bonito, né?" Jaymes pergunta, James assente, encostando o rosto em seu ombro. Jaymes sente o peito apertar. Era tão ruim ter ele longe. Queria ter ele perto todos os dias.

"Bonito." James diz, e soava diferente na voz dele. James era um artista. Ele dançava e brilhava. Ele amava o palco. E ele amava a plateia. Ele estava em casa ali.

"Posso ver o que está ensaiando?" Jaymes pergunta, James vira o rosto suavemente para lhe encarar.

"Sério? Você quer?"

"Claro. Amo ver você dançando."

James sorri, e o coração de Jaymes pode realmente parar. James se levanta, tirando o celular do bolso. "Tá. Mas tá meio ruim ainda, comecei essa semana." Ele pesquisa a música por alguns segundos, então coloca o celular no chão, dá alguns passos para trás para ter espaço. "Aperta play pra mim."

Jaymes assente. Vanilla. Dizia na tela. Jaymes dá play na música, e a mágica acontece. Porque, Deus, James dançando só poderia ser magia.

Waiting For The Shining FlareOnde histórias criam vida. Descubra agora