Parte Dois - 13 - Igor Kavinsky

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Conversar com William era a parte alta do seu dia.

Eram conversas idiotas. Curtas. Ridículas. Cheias de provocações. Mas era o único momento do dia em que conseguia respirar.

Aquilo era maluquice.

Não poderia gostar dele, poderia? Não poderia estar cogitando ser realmente amigo dele. Jurou a si mesmo que não faria aquilo.

Estava em seu sofá-cama, mexendo em seu computador. Estava no Instagram de William, vendo suas fotos, vendo seus vídeos, seus destaques. Igor para em uma foto do garoto, ele estava diferente do que o usual, com um sobretudo preto e longo, um olhar penetrante para a câmera, um delineado esfumaçado e escuro. Simplesmente... De tirar o fôlego. Igor navega por mais fotos, e chega em uma que era totalmente o oposto da foto de sobretudo, e exatamente como William era. Sorrisão no rosto, bobalhão, a luz do sol em seu rosto, os olhos quase fechados, irradiando pureza e alegria. Igor queria entrar naquela foto. Seria possível, algum dia, ele mesmo sentir aquele tipo de felicidade?

Igor passa os dedos pela tela, através dos cabelos e das sobrancelhas de William, as linhas do rosto. Ele passa, e imagina que é realmente o rosto dele. Ele imagina, por um segundo, que William realmente poderia ser seu algum dia. Que aquilo algum dia realmente iria funcionar. Que não era sujo demais para viver algo com alguém como ele. Que não era sujo demais para tocá-lo e infectá-lo com sua impureza.

Igor não chorava. A maioria das vezes. Fazia meses que segurava seu choro. Mas naquela noite, antes que pudesse perceber, Igor estava chorando. Ele se permitiu chorar.

Ele se permitiu chorar pelo amor que ele nunca poderia chegar perto de viver.

Ele chorou, e ele chorou, e então ele parou.

Na manhã seguinte, Igor foi trabalhar na Biblioteca. Estava com a camiseta da campanha de 98. Ele arrumava a prateleira de clássicos quando os passos mais absurdamente altos daquela Universidade ecoaram próximos de si.

"Igor." William chama, se encostando na prateleira oposta ao que o garoto estava arrumando.

Ele tinha chorado por William. E William não fazia ideia disso.

"Eu li de verdade." Ele dita. O coração de Igor tropeça, encara o outro, que está com o sorrisão bobo da foto. "Você deveria estar orgulhoso." Olhar para ele doía.

"Pelo mínimo?" Igor dita, engolindo o tremer de voz.

"Sim, mon amour." William responde, lhe entregando o livro de francês. "Tem algum para indicar? Como você sabe francês?"

"Não. E não é da sua conta." Igor coloca o livro debaixo do braço, terminando de guardar a pequena dúzia que faltava na prateleira.

"Não cansa de fingir que não me acha encantador?" William diz, Igor ri alto, mas não verdadeiro, apenas maldoso.

"Encantador!" Ele ecoa, então ri mais. William franze o cenho. "Encantador não sei, mas cheio de si sim, definitivamente."

"Vamos sair?" William chama, Igor simplesmente nega com a cabeça, nem deu tempo de sentir qualquer coisa sobre o convite. "Te pago um lanche."

"Passo."

"Cinema?"

"No."

"Parque?"

"Nah."

"Te dou meu corpo nu." Igor ri, dessa vez de verdade, encara o maior, que estava com o mesmo sorriso bobalhão de instantes atrás. "Brincadeira. Sou cristão. Lei da castidade e etc."

Waiting For The Shining FlareOnde histórias criam vida. Descubra agora