Caixa de lembranças

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"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."
William Shakespeare

Pov's Harvey

Assim que retiramos todos os ingredientes que utilizaríamos para receita, alcancei a gaveta da bancada, pegando em mãos dois aventais. Um da cor branca para que eu pudesse vestir, e outro azul menor para Paulsen. Usava este toda vez que eu e minha mãe cozinhávamos, na época eu deveria ter a mesma idade de Sarah ou ser até mesmo um pouco mais velho.

Admito que cozinhar se tornou um dos meus hobbies favoritos. Abuso deste talento na cozinha recriando qualquer receita quando preciso ocupar e esvaziar a cabeça. Após me vestir, faço o mesmo com ela, para evitar que suje suas roupas, já que a ruiva havia feito questão em me ajudar. Não a repreendi, muito pelo contrário a incentivei assim como minha mãe fez comigo. Afinal, há grande chances dela se encontrar no meio da culinária. Crianças nessa idade estão aptas a descobrir seus talentos, e saber como incentivá-los é um processo delicado. Iniciar o desenvolvimento aos poucos com pequenos estímulos é bastante essencial.

Pegando algumas coisas na geladeira, a noto resmungar, levantando o cabelo para abanar atrás da nuca. Ao me aproximar, me prontifico a prendê-lo e ela aceita aliviada. Dou um sorriso curto e faço um coque nas madeixas ruivas. A chamo para lavarmos as mãos para começarmos a preparação do bolo.

- Harvey, o que vamos fazer? - Questiona Sarah, jogando água no rosto.

- Bolo de chocolate. Gosta? - Pego a toalha de prato para secar as mãos. Ela deu um sorriso enorme.

- Um dos meus preferidos! - Diz com animação, desligando a torneira.

- Isso é ótimo!

- Tome minha querida, seque o rosto. - Minha mãe retorna para cozinha, trazendo uma pequena toalha limpa do banheiro para a Paulsen que pegou e agradeceu. - Então, os cozinheiros já sabem o que vão fazer? - Perguntou retirando a mecha ruiva que estava em frente ao rosto da menina, pondo para trás da orelha.

- Iremos fazer bolo de chocolate. - Sarah responde por mim, enquanto eu pegava a batedeira no armário.

- Uau, isso é bom. Harvey sabe fazer os melhores bolos de San Diego, sabia?

- Mamãe, também não é pra tanto. - A repreendo sutilmente, a fazendo revirar os olhos para mim.

- Não ligue pra ele, odeia holofotes. Tão modesto. - Da a mão a Sarah, ajudando-a subir no banquinho ao meu lado.

- O que eu vou fazer, Harvey?

- Você... - Balbucio pondo a tigela em frente a ela, apontando para os ingredientes. - Vai adicionar os ovos, o chocolate em pó, a manteiga, a farinha de trigo, o açúcar e o leite. Vou te dizendo as medidas certas e depois vamos bater por 5 minutos. Ok? - Ela acena em concordância.

Então cuidosamente ela foi seguindo exatamente minhas instruções. Durante esse tempo percebi que Sarah é muito delicada e detalhista, buscando sempre uma validação positiva. Ela ficava em puro êxtase quando perguntava se estava tudo certo e eu confirmava. E nisso ela é igualzinho a mãe dela, até porque eu me lembro muito bem que ela vivia dizendo que não existia nada que Donna Paulsen não poderia fazer ou resolver.

E quase sempre ela estava certa em relação a isso. A ajudei a colocar a massa em uma tigela redonda de vidro, adicionando o fermento para que eu pudesse misturar com uma espátula delicadamente. Em uma forma alta e untada, a deixei despejar a massa e ao finalizar coloquei em forno médio (180 ºC) pré-aquecido. Agora era esperar por cerca de 40 minutos.

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