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 Estava em frente ao espelho, observando exatamente o que tinha mostrado para seu chefe, de sutiã e uma calcinha preta, seu corpo quebrado, feio, machucado, porque era fraca, amber olhou para seu quarto bagunçado, o celular tocou, era Louise querendo saber se tudo estava bem, amber a dispensou, ficou deitada na cama, não aguentava mais pensar no senhor Santibãnes olhando para seu corpo, prestando atenção em cada detalhe, à única pessoa que havia visto ela daquela forma, não parecia sentir nojo, ele não parecia sentir nada, isso deixou amber mais feliz do que ficava em meses, ligou para Troy, precisava estar em controle da sua vida.

" preciso de você" ela disse ao telefone, ele pareceu entender o recado, ela se olhou no espelho, vestiu um camisola preta com as laterais rendadas que mostravam um pouco de pele do seu corpo, seus peitos estavam grandes demais para a camisola, mas ela não ligou, jogou os cabelos para o lado e passou um pouco de maquiagem, lápis de olho, sombra, batom, tentando ficar o melhor possível, perfume, esperou, tentou não pensar em nada, mas era inevitável não pensar em seu peso e em seus peitos, logo estariam nos joelhos, pendurados como dois mamões, isso era horrível, ela olhou os culotes e o quadril, acabou rindo, se fosse detestar tudo em seu corpo acabaria pulando do alto do prédio, amber se sentia bonita na medida do possível, talvez fosse culpa do olhar confiante que ela havia recebido do seu chefe, sem nojo, sem medo, ele não fez um caos, não se abalou, nem mesmo ao saber o que ela tinha havia feito, que quase tirou a própria vida, que estava tao triste que não via sentido em continuar aguentando tudo, ele não a julgou, amber não contou pra ninguém o que tinha feito, que tentara se matar, Melanie não deixou que ela contasse, amber não sabia como, mas Melanie achou o carro, chamou a ambulância, e ficou com ela no hospital, e então prometeu sem que amber pedisse, que não contaria para ninguém o que havia feito, e então mentiu, contou uma historia que amber sentia muita dor no meio da noite, e por isso a ligou para que a levasse ao hospital pois não queria preocupar a mae, e na pressa, acabaram batendo o carro, amber não sabia como Melanie tinha aparecido machucada, mas usou a desculpa do carro para explicar, e nunca mais tinham voltado naquele assunto, nem se tratado diferente depois disso, por mais que pensasse, só conseguia lembrar das palavras de Melanie naquele dia no hospital

" Se deixar que todos saibam, não vai mais ser conhecida como alguém que lutou, que sobreviveu, vão te reduzir a nada, vão dizer que você é fraca, e vão te julgar por isso, no fundo as pessoas não ligam para depressão, acham que é fraqueza, vão dizer coisas terríveis, você quer isso amber? Quer que te reduzam a uma doença ? e que te julguem? Vão dizer que você ia abandonar sua mãe e sua família, vai deixar de ser boa filha e todos vão ficar preocupados de que tente fazer isso de novo, nunca mais vão te deixar esquecer"

"como sabe? Que não vou tentar de novo" foi a pergunta que a amber a fez naquele dia no hospital

"porque você não é uma doença, porque levanta todo dia depois de ter pedido tudo, eu sei que vai aguentar"

"se contar pras pessoas, vai deixar de ser a louca do bairro, eles vão começar a me julgar, vai ser bom pra voce" amber respondeu naquele dia

"quem liga pro que os outros pensam? Fodasse "

Foi a resposta que ela deu, e amber acabou sendo levada para a sala de cirurgia, para que avaliassem o dano em sua perna, se a prótese havia saído do lugar, no fim das contas nada grave tinha acontecido, só os machucados pelo corpo, mas a cirurgia na perna ainda estava boa, naquele fim de semana houve uma trégua, não eram amigas, mas pela primeira vez amber conseguia entender o porque Melanie era do jeito que era, e se sentiu imunda por a julgar.

Agora duas pessoas sabiam disso, Melanie, e seu chefe, duas pessoas com as quais jamais se daria bem, duas pessoas que seriam suas inimigas, sabiam seu segredo, um que amber não tentava esconder, apenas não queria contar, não era o momento, não precisava de tal pressão, e esperava que Troy fizesse o mesmo, que não a julgasse, ou a rejeitasse, escutou um barulho na calha, sabia que ele estava subindo, apareceu suado, com a camisa no ombro, mostrando o abdômen perfeito repleto de tatuagens, ele a encarou, como se não a visse a meses, um meio sorriso cafajeste passa por seu rosto

VolúpiaOnde histórias criam vida. Descubra agora