Narrado

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 Os dias se passaram, dias entre trabalho e noites enrolados nos lençóis, contando segredos, compartilhando ideias absurdas, na maioria das vezes era Amber quem lhe contava absurdos, como quando ela contou que pensou que um elefante podia voar, porque sua única referencia de elefantes era Dumbo, e quando descobriu que não era verdade, foi pior do que a descoberta da mentira sobre o papai Noel, lhe contava sobre Ballet e as pessoas que tinha conhecido, comia comida na cama, no chão, no tapete, na mesa, em qualquer lugar, ela estava sempre disposta a comer alguma coisa, as vezes ele pensava que devia ser para repor os anos em que não podia comer nada do que queria, anos que havia se dedicado em ser a melhor, talvez fosse por isso que os ombros dela estavam tão leves ultimamente, ela não se sentia cobrada, e ele gostava de do dia a dia, pela primeira vez ele amava a vida, porque acordava com alguém do seu lado, que mesmo que tentasse ela sempre acordava primeiro do que ele, gostava de como ela vestia suas camisas sem pedir, ate mesmo suas meias, ela não pedia nada, mexia nos armários, nos lençóis, cozinha o tempo todo e ele suspeitava que se ela não tivesse sido bailarina teria sido uma bela chef de cozinha, e as roupas que comprava, coloridas, quase florescentes, brilhantes, vinil, couro, vermelho, roxo, verde, um macacão laranja que a deixava parecendo um por do sol, as vezes quase esquecia que não podia a amar, que um dia ela o deixaria, seu desejo era estar ao lado dela para sempre, mas o para sempre levava tempo e o tempo sempre mudou as coisas, então estar com ela era como uma bomba relógio, ele sabia que seu tempo de felicidade era emprestado, que logo passaria, e por isso aproveitava cada segundo quando estava com ela

Amber estava acordada desde cedo, refletindo sobre sua vida quando todos chegaram, cada um ficou em um sofá  e ficaram em silêncio absoluto, amber sabia que era questão de tempo para que falassem sobre o que foram falar e ela esperava paciente porque tinha esperanças que ninguém tocasse no assunto, estava triste demais e tinha desligado o celular já que o mesmo não parava de tocar, professores antigos, donos de teatros, críticos, jornalistas, colegas de trabalho, todos estavam ligando, querendo saber do seu verdadeiro estado, talvez amber não devesse ter dito para todos que estava tirando um tempo para si,  e agora todos sabiam do acidente e todos sabiam que não havia sido tão leve quanto ela tinha dito, tudo porque Louise tinha contado

"você viu a entrevista que a Lou deu?" Samuel perguntou segurando a revista com um pouco de força, as vezes não entendia a própria esposa, o porque ela tinha que viajar e se isolar de todos, o porque precisava treinar por mais horas, só pra provar pra si mesma que conseguia, ele queria entender, mas as vezes achava que Louise tinha outros motivos do que auto provação, e não queria estar certo sobre isso

"eu li" Amber respondeu bebericando o café, era uma manha fria de domingo e ela olhava pela janela com os olhos vermelhos "acho que ela vai conseguir tudo que quer, que ela vai viajar para Londres, que vai ganhar ou ficar entre as finalistas, que vai sair nos jornais e nas capas de revistas, que alguma companhia boa vai gostar e a contratar" Amber deixou a xícara na pequena mesinha e encolheu-se no sofá

"Amber, viu o que ela falou de você?" ele fez a pergunta direta porque entende que Amber não queria entrar no assunto

"se você quer saber o porque ela disse tais coisas sobre mim, eu não sei Sam, eu nunca entendi a Louise mesmo ela sendo minha melhor amiga, ela não me conta tudo ta bom? Eu passei anos viajando sem parar enquanto ela estava aqui sendo uma esposa, já passou pela sua cabeça que a nossa amizade possa ter mudado?"

"mas a nossa amizade não mudou" ele ficou confuso

"a nossa não, mas a minha e dela sim, temos a mesma profissão com carreiras diferentes e saímos do mesmo lugar, eu passei anos viajando, você me procurou e fez questão de não deixar mudar, mas eu sofri um acidente e ela quase não veio me ver porque estava ocupada roubando meu lugar!" amber respondeu com um tom amargurado na voz, levantando do sofá, olhou bem para Samuel "eu não tenho as respostas que voce quer" ela foi clara e um pouco grosseira

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