"senhorita Clarkson" ele a chamou, com uma voz estranhamente baixa, amber estava sentada na cadeira de frente para a grande mesa que ele ostentava, revirando algumas folhas de um relatório, coisa que nem se quer era seu trabalho, porque não fazia ideia do que estava fazendo, mesmo assim estava lendo tudo, já que ele tinha ordenado tal bobagem, ela levantou os olhos e o viu sobre a meia luz do abajur de chão, ficou desconfiada, o que ele lia com tanto afinco? Já passava das 20 horas e ele já tinha se desfeito do terno elegante que brilhava como seda, agora vestia a camisa azul clara, um azul intenso e perfeito, a calça cor chumbo, com uma alfaiataria perfeita e os cabelos bagunçados, como se tivesse tentado os arrancar, essa era a realidade do seu chefe, e não o homem que tinha visto no primeiro dia do seu emprego, o perfeito, o intacto, ele podia ser estranho, mas amber podia ver que no fim do dia tudo que o homem precisava era uma boa comida e uma cama confortável.
"senhor?"
"a senhorita torceu o pé esquerdo 14 vezes ano passado?"
Amber engoliu em seco e encarou a pasta que ele tinha em mãos, era um prontuário? Impossível, porque isso era imoral e antiético. Mas tratando da sua relação invasiva com o chefe, nao era de se admirar.
"acho essa informação equivocada" amber tossiu
"quebrou seu pé mais de dez vezes?"
"em que período e qual pé?" ela levantou as sobrancelhas e ele largou a pasta, cruzou os braços e a encarou com os olhos pequenos.
"Senhor, por favor..." ela pediu " eu não quero fazer isso, eu já fiz isso a semana inteira com o fisioterapeuta, eu estou indo em todas as seções e sim, tem mais coisa para consertar em mim do que eu pensava, e talvez uma outra cirurgia possa ser necessária, mas o que o senhor esperava?" dessa vez ela que largou a pasta, cruzou os braços e encostou as costas na cadeira, descansou o corpo
"o que?" Ele perguntou sem acreditar na coragem que ela tinha
"Pense comigo, eu danço desde criança, com 14 anos já estava viajando e criando coreografias, para ser sincera eu dizia que treinava 10 horas por dia, mas na verdade eram umas 15 horas, e estava sempre com alguma coisa quebrada" ela riu lembrando de algumas quedas " é serio, sempre mesmo!" enfatizou sem olhar para ele, tinha os olhos no abajur, pois assim era mais fácil " quando eu comecei, juro, quebrei o pé duas vezes, eu sou cuidadosa, não imagina como as outras garotas ficavam, uma vez fiz uma pirueta que saiu do controle e desloquei o ligamento do ombro, outra vez cai de joelhos e foi embora a metade da cartilagem, quando eu tinha 16 anos eu quebrei o pé direito e demorou o ano inteiro para ele voltar ao normal, acho que porque eu só fiquei duas semanas com o gesso e ai precisava colocar de novo quase toda semana"
"tem noção dos absurdos que esta me dizendo agora?" ele perguntou respirando fundo, se controlando para não a sacudir, como ela podia achar tal coisa normal? Quebrar um pé e ficar duas semanas com gesso? Como ela ainda conseguia ficar de pé? Era ultrajante
"sim, eu tenho, normalmente essa coisa de pé de bailarina ser feio é puro mito, mas no meu caso, imagine as 15 horas em cima dos pés, resultou nisso"
"voce fala coisas bizarras com o rosto ameno"
"quer que eu chore?" ela perguntou o enfrentando " como posso me importar com isso nessa altura da vida? Eu faço isso desde muito nova, contusões, ossos quebrados, fraturas, ligamentos, cartilagens, torsões, já dancei uma peça inteira com o pé quebrado e fui aplaudida da pé, não que eu esteja orgulhosa" ela disse baixando os olhos, engoliu em seco algumas vezes, porque ele simplesmente não respondia e quando a respondeu, haviam mudado de assunto
"pare de deixar garrafas de agua pelo escritório, voce é o que ? um camelo?"
"disso eu tenho orgulho" ela sorriu mudando a postura " bebo mais de dez litros de agua por dia"
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Volúpia
Romanceele precisava de amor.... ela deu tudo que tinha... Quando Amber entrou na sala de Hector pela primeira achou estar vendo um anjo.... tudo naquela manhã havia dado errado... mas ela havia conseguido chegar a sua entrevista de emprego e agora Hector...