Eu vi um objeto metálico e brilhante, com um formato de um coração. Ele pulsava lentamente, como se estivesse vivo. Eu fiquei impressionado e assustado ao mesmo tempo.
- O que é isso? - eu perguntei.
- Isso é um cibercoração - ele respondeu.
- Um cibercoração? - eu repeti.
- Sim, um cibercoração. Um órgão artificial que substitui o coração humano. Ele é feito de nanomáquinas que se adaptam ao organismo do receptor e regulam o fluxo sanguíneo, a pressão arterial e os batimentos cardíacos. Ele é mais eficiente, mais resistente e mais durável do que um coração natural.
- E por que você precisa de um cibercoração? - eu perguntei.
- Porque o meu coração está falhando - ele disse.
- Como assim?
- Eu tenho uma doença cardíaca genética. Eu herdei do meu pai, que morreu aos quarenta anos. Eu tenho trinta e cinco e já sinto os sintomas. Falta de ar, dor no peito, cansaço. Eu não tenho muito tempo de vida.
- E por que você não faz um transplante?
- Porque eu não tenho dinheiro para pagar um transplante legal. Você sabe como é caro e burocrático conseguir um doador compatível e uma cirurgia segura. E eu não quero receber um coração de um cadáver ou de um animal. Eu quero um coração novo, melhor, mais humano.
- E por que você não compra um cibercoração legal?
- Porque eu também não tenho dinheiro para isso. Você sabe como é caro e restrito comprar um cibercoração legal. Você precisa de uma autorização especial do governo, de uma avaliação médica rigorosa, de uma garantia de qualidade e segurança. E você ainda corre o risco de ser rastreado, monitorado e controlado pelo sistema.
- Então você comprou um cibercoração ilegal?
- Sim, eu comprei um cibercoração ilegal. Eu consegui o contato de um fornecedor no mercado negro. Ele me disse que tinha um cibercoração novo, em perfeito estado, sem registro nem rastreamento. Ele me disse que era uma pechincha, que valia a pena arriscar.
- Chega de perguntas. Você já sabe demais. Agora vá embora e me deixe em paz - ele disse.
- Saí do galpão sem dizer mais nada. Eu peguei a minha moto e liguei para o Bruno.
- E aí, entregou a caixa? - ele perguntou.
- Entreguei - eu respondi.
- E o pagamento?
- Recebi.
- Ótimo. Você fez um bom trabalho, Ricardo. Estou orgulhoso de você.
-Uhmmm, obrigado.
- Agora você está liberado. Pode ir para casa descansar. Quando eu tiver outro serviço para você, eu te ligo.
- Tá bom.
- Ah, e cuidado por aí. Não se meta em encrenca.
- Pode deixar.
Eu desliguei o telefone e segui pela estrada. Eu não fui para casa. Eu fui para o hospital ver o meu pai.
Eu cheguei no hospital depois de vinte minutos de viagem. Eu estacionei a minha moto no estacionamento e entrei no prédio. Eu fui até a recepção e perguntei pelo quarto do meu pai.
- Ele está no quarto 312, no terceiro andar - a recepcionista me disse.
- Obrigado - eu disse.
Eu peguei o elevador e subi até o terceiro andar. Eu andei pelo corredor até encontrar o quarto do meu pai. Eu bati na porta e entrei.
Lá dentro estava escuro e silencioso. Eu só via a cama onde o meu pai estava deitado, com vários tubos e fios ligados ao seu corpo. Ele respirava com dificuldade, com a ajuda de um aparelho. Ele estava dormindo.
Eu me aproximei da cama e olhei para ele. Ele estava pálido e magro, com olheiras e rugas.
- Espere mais um pouco pai.
- Só mais um pouco.
Eu fiquei ali por alguns minutos, olhando para ele. Eu pensei em tudo que eu estava fazendo, nas coisas que eu estava entregando, nas pessoas que eu estava conhecendo. Era tudo por ele , pelo menos foi o que eu me disse.

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The Cybernetic Trap
Ficção CientíficaEm um Brasil futurista, onde a biotecnologia é um privilégio dos ricos e poderosos, Ricardo se torna um traficante de componentes cibernéticos e tecnoproteses para salvar seu pai doente. Sua vida se complica quando ele se apaixona por uma cliente qu...