Capítulo XVII - Em LA, vamos conversar - Parte I

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‼️ Atenção, este capítulo contém assuntos que podem ser sensíveis para alguns leitores. Caso isso aconteça, avança a porção do sonho, escrito em itálico.

POV Narrador

É Dezembro e está um frio gelado lá fora. No entanto, a casa sem aquecimento e com algumas janelas partidas faz com que o vento frio entre lá dentro. S/N agradece mentalmente o calor que o fogão emana, já que enquanto cozinha pode aproveitar o quentinho que vem do fogo. Hoje é o dia mais frio desta semana, então a morena decidiu cozinhar qualquer coisa que utilize o forno, assim tem oportunidade de se aquecer ainda mais.

O seu corpo é coberto apenas por uns calções de linho verdes e uma blusa azul com alguns buracos, já que é uma das peças que a pequena mais usa. S/N não percebe bem porque é que tem de andar vestida como se fosse verão. No seu "quarto" há um armário cheio de roupa boa e para todas as estações, mas ele não a deixa usá-la, só em situações especiais. A roupa que usa no dia a dia está guardada numa caixa ao lado da sua cama, que consiste apenas num colchão velho e num cobertor pequeno demais para cobrir todo o seu corpo. É horrível dormir naquela cama agora no inverno.

A comida favorita dele é carne assada com batatas, e como esta semana ele tem sido bom para ela, não lhe batendo, dando penalidades, ou obrigando-a a ir buscar lenha no meio da neve, ela decidiu cozinhar-lhe isso, esperando que com esse agrado ele continue a ser bonzinho para ela.

Foi necessário ela aprender a cozinhar para eles os dois desde os seus cinco anos. No início, S/N detestava cozinhar, já que se queimava e cortava com facilidade. Agora, ela adora, sentindo-se orgulhosa por ser a única menina da sua idade que sabe cozinhar.

Já é final da tarde, ele deve estar a chegar do trabalho. Ele trabalha como pescador, e sempre que chega a casa está a morrer de fome, por isso é obrigação da pequena ter o jantar pronto e na mesa assim que ele pousa o pé dentro da cozinha. A morena aprendeu a fazê-lo rapidamente, já que da primeira vez que isso não aconteceu, ela ficou trancada no armário por quase quatro dias.

De repente a porta de entrada é aberta e um arrepio corre a espinha da menina de oito anos. Com muito cuidado ela está a escolher as últimas batatas para o prato do homem, mas com os seus passos a aproximarem-se, o seu corpo começa a tremer, fazendo-a deixar o garfo cair dentro da travessa.

- O meu jantar ? - a voz grave e rouca aparece atrás de si. Ela nunca ouviu aquela voz num tom doce ou calmo, há sempre uma pitada de agressividade no seu tom de voz

Sabendo melhor do que o ignorar, ela vira-se para ele no mesmo momento, mantendo os olhos no chão, visto que ele não gosta que ela o olhe nos olhos, uma vez que ela "é só uma coisa qualquer que não tem valor para isso". O banco onde ela está em pé para chegar ao balcão, abana com a sua movimentação, e depressa ela estabiliza-se, o seu corpo já está cheio de feridas, não precisa de mais.

- Está aqui, senhor. - murmura alto o suficiente para ele ouvir, e aponta para o prato branco com flores pousado à beira do fogão

- Hm... - ele assente com uma resposta nasalada e dá um passo à frente, analisando o jantar como faz todos os dias

S/N mantém a cabeça para baixo, vendo os pés do homem cobertos por aquelas botas que parecem ser quentinhas. Quanto ela deseja ter umas botas assim, mas é melhor ela não dizer nada. A pequena une as mãos atrás das costas, rezando baixinho que a comida esteja do seu agrado.

- Porque é que tem tão pouca comida ? - ele pergunta e dá um passo atrás, abaixando-se e aproximando o rosto da criança

S/N matem os seus olhos para baixo e suspira silenciosamente quando consegue cheirar o álcool no seu bafo. A sua esperança de que a noite corresse calmamente desaparece, e no mesmo momento ela fica mais alerta para não cometer nenhum erro, sabendo que quando ele está bêbado é mais provável de receber penalidades.

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