6.

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Harry não quis conversar com Louis naquele mesmo dia, precisava de um segundo para se reorganizar primeiro e ser capaz de colocar em palavras o que tanto o assombrava. Aquilo seria desafiador, mas o alfa estava se esforçando. Eles trocaram os números de telefone e combinaram o encontro de Charlie e Andy para o domingo de tarde. Vera também estaria por lá, então talvez eles conversassem mais naquele dia.

O alfa já havia tentado cuidar de sua cabeça traumatizada, antes mesmo de Andy começar a demonstrar sinais da experiência vivida e da ausência repentina de sua mãe. Harry se culpava por tudo, pelo acidente e pelas consequências irreversíveis que vieram com ele. Andy era muito novo e Harry ainda estava aprendendo a ser pai, as coisas estavam difíceis e o alfa realmente achou que não aguentaria lidar com tudo aquilo, principalmente com o peso da responsabilidade de cuidar sozinho de um filhote, com o coração partido.

Então Harry buscou ajuda. Foi em uma, duas, três psicólogas, tentou se curar através da terapia inúmeras vezes, mas nunca dava certo. As palavras ficavam presas em sua garganta. O alfa se esforçava para cuspi-las fora, como tanto parecia precisar, mas elas se prendiam em suas cordas vocais, se impregnando cada vez mais profundamente em Harry. Talvez ele apenas não se sentisse pronto para falar sobre aquilo. Mas continuou tentando, não mais por si mesmo, não dava a mínima para si mesmo, mas pelo seu filhote, que merecia um pai capaz de cria-lo.

Acabou por achar um profissional, um alfa como ele, que o fez se sentir mais confortável para ser vulnerável. Afinal, para os alfas, a vulnerabilidade era sinônimo de fraqueza. Os sentimentos e conversas eram somente para os ômegas. Alfas deveriam ser fortes e imbatíveis. Alfas deveriam ser capazes de suportar qualquer dor, qualquer machucado, qualquer cicatriz incurável sem sequer reclamar. Caso contrário, não eram dignos de uma família. Se não aguentavam a dor, da mais extrema à mais amena, como seriam o suficiente para cuidar de seus ômegas e seus filhotes?

Alfas deveriam cuidar e proteger, apenas. Ômegas, sim, podiam sentir, amar, chorar e se desequilibrar em momentos mais difíceis. Eles tinham esse espaço para pedir ajuda e serem apoiados por seus alfas. Alfas deveriam guardar suas dores para si mesmos, ignorando-as por inteiro, deveriam estar sempre ótimos e estáveis para os seus familiares.

O papel dos alfas era governar suas famílias, prover tudo que elas precisassem. Tudo. No entanto, para ser capaz de governar algo, ou melhor, alguém, era preciso estar com a cabeça no lugar certo. A cabeça de Harry estava presa no acidente que sofreu, desde então nunca mais pertenceu inteiramente a ele.

O psicólogo conseguiu extrair algumas reflexões do alfa, fez com que ele pensasse sobre a experiência traumática e seu sentimento de culpa sufocante. Certas camadas de Harry foram acessadas, mas não fundo o bastante. O alfa não suportou mais aquilo, sentia como se estivesse abrindo sua ferida todos os dias, nunca deixando-a cicatrizar completamente. Harry queria deixa-la em paz, nunca mais tocar no assunto. O psicólogo tentou explicar que, antes da cura, há muita dor envolvida. Harry não queria mais sentir dor.

O alfa se considerava relativamente melhor, já conseguia cuidar de Andy como um bom pai deveria. Ao menos estava tentando. Harry acreditou ter conseguido conter sua dor em seu interior, controlando as consequências infinitas e, algumas vezes, eternas, de um trauma.

Passou a regrar sua vida como um maníaco, colocando horários exatos para tudo que fazia. Sua vida e a de seu filhote jamais fugiriam de suas mãos novamente. Ele tinha regras e planejamentos, ele tinha excesso de cuidados e uma proteção implacável. Mesmo assim, com toda segurança que o alfa acreditou criar em volta de Andy, seu pequeno ômega nunca se sentia seguro longe dos braços fortes de seu pai. Andy era incapaz de fazer qualquer mínima tarefa sozinho, caso contrário, entrava em pânico e se desesperava.

you bring blue lights to dreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora