Às seis da matina já estava em atividade, ao lado de sua companheira de trabalho, Emma. Tentava a todo instante se manter atenta e alerta aos clientes.
Seu corpo funcionava apenas à base de muita cafeína, que energizava seus músculos e cérebro exacerbadamente. Não que essa seja a forma correta de lidar com uma noite não dormida, muito menos a mais recomendada, porém era o que estava ao alcance.
— É a terceira vez, Lara — enchia mais uma xícara quando Emma apareceu atrás dela. — E são seis e vinte ainda, você não pode tomar todo o café.
— Desculpa — embaraçada e envergonhada, se vira para ela. — Desculpa, mesmo.
— Está tudo bem? — a analisa com certa preocupação.
— Sim, estou — saiu andando sem a xícara.
— Seus olhos estão muito vermelhos e...
— Estou bem — diz com imensa seriedade com uma dose de grosseria não intencional.
Emma a acompanhou com os olhos durante sua ida para a área dos clientes, enquanto se perguntava que tipo de maluca a sua chefe inventou de contratar.
Já Lara tinha preocupações ainda mais malucas para pensar. Fred, Andrew, a senhora do 211, Maxine... incógnitas demais. As informações eram como redemoinhos que passavam pelo cérebro e o fazia girar e arremessar pensamentos aleatórios de um lado para o outro.
O telejornal e a voz da apresentadora acabou por lhe chamar a atenção, principalmente por conter a foto de Maxine estampada na tela.
— Segundo a polícia, a causa da morte da jovem Maxine Murphy foi espancamento. Um crime brutal que há muito mais para se apurar nas autópsias, porém a informação inicial é que segundo análises, afogamento não seria a causa. O delegado afirma que não ficou claro se houve violência sexual, mas a nudez da vítima poderia indicar. Completou declarando não haver suspeitos no momento e é tudo que pode informar à mídia.
A pausa do programa é anunciada pela própria apresentadora e então acontece a entrada dos comerciais. Isso faz a loira retornar sua atenção aos poucos clientes que estavam bem servidos até ali.
Sentiu olhos pregados em suas costas, não conseguiu compreender a sensação. Se virou e se deparou com Emma a encarando, porém logo disfarçou.
Fechou seus olhos momentaneamente e puxou o ar pelo nariz profundamente. Segurou um pouco e soltou devagar. Na cabeça dela, isso foi uma forma de jogar todos os problemas para fora de si. Como é inocente.
Assim que foram abertos seus olhos escuros novamente, se deparou com Andrew muito, muito próximo dela. Deu para trás por impulso e esbarrou em uma cadeira.
— Calma princesa, está assustada? — caçoa dela.
— Não. Bom dia, aliás — trata-o com formalidade enquanto ajeita a cadeira.
— Sim, claro. Bom dia. Hum... eu quero um expresso.
— No balcão.
Andrew olha para Emma e logo seu semblante muda drasticamente.
— Ah, a Emma — sorri forçadamente e vai até o balcão, saindo momentaneamente de seu encalço.
Lara aproveita e vai atender outro cliente que a chamara e anotar seu pedido, disfarçando ao máximo seu cansaço e estresse. Nesse momento outra pessoa adentrou a cafeteria e chamou sua atenção, fazendo-a congelar quando a reconheceu.
— Bom dia — disse a mulher jovem, dona de um cabelo longo e pretos lindíssimos. — Você é a nova garçonete?
Lara respira, se volta ao cliente que já estava atendendo. Conclui o pedido. Vai até o balcão e também ignora Andrew que a fita de cima a baixo sem disfarçar um segundo. Pega uma peça de lanche e enche um copo de suco — o pedido em questão — caminha de volta à mesa do cliente e não vê a mulher outra vez, assim entregando a ele sem tentar criar qualquer neurose.
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Hotel Villens
Bí ẩn / Giật gânCansada de uma vida limitada de cidades interioranas, Lara migra para uma mais globalizada e próxima da capital, em busca de melhores oportunidades, além de tentar fugir da realidade monótona que vivia todos os dias. Ela só não esperava que sua vid...