O ponteiro do relógio já havia passado pelas nove aquela manhã.
Lara estava em total agonia, andando de um lado para o outro em seu quarto de hotel, impaciente. Não tirava os olhos da janela e da porta do banheiro, traumatizada com toda aquela situação. O medo de uma criatura bizarra aparecer ali como foi com Fred lhe aterrorizava.
Maxine disse que ela deveria esperar, porém nada além. Apenas esperar. O problema é pelo quê.
Aquele era o último dia no hotel, e não haveria escapatória daquele maldito lugar senão ajudar os assassinados, embora tivesse dúvidas sobre a veracidade disso. Por outro lado, não ousaria tentar sair de lá, até porque Andrew poderia estar à espreita a qualquer momento.
— Vem comigo — Lara saltou de susto com a voz inesperada, percebendo ser Maxine dentro do quarto novamente.
— Você não pode chegar sem me assustar dessa forma? — a encara com incredulidade.
— O que queria? Que eu batesse na porta? — gargalha e atravessa a porta do quarto.
Lara destranca a mesma e sai dali, fitando o quarto 211 onde aquela senhora misteriosa estava. Mas não era aquele o foco, a alma vagante de Maxine a chamou para descer as escadas com ela.
Foram para o primeiro andar, com a jovem loira apreensiva de encontrar com o filho do dono do hotel pelo caminho.
— O que você vai ver deixaria qualquer um assombrado — a falecida se vira para ela, quando em frente ao quarto 103.
— Jura? Bem, eu já vi espíritos, pessoas mutiladas, o próprio capeta... eu quero saber qual a sua definição de assombroso.
Ela não recebe resposta alguma, apenas um apontar para a porta a sua frente.
Respira fundo, enchendo seu pulmão com ar. Abre a porta e adentra cautelosamente, assim percebendo que o quarto estava vazio, possivelmente nem havia alguém hospedado ali a julgar pela quantidade desequilibrada de poeira e teias de aranha, tal como os lençóis sujos em um tom estranho de vermelho velho e encardido, que se assemelhava a sangue.
— Por que não está trancado?
— Porque não há ninguém aqui.
— Ninguém...?
— Ninguém.
— No quarto?
— No hotel.
— O hotel não tem hóspedes?! — se estremece.
— Você já viu alguém aqui além de espíritos?
— A... recepcionista?
— A única viva.
— E ela não sabe que o hotel é assombrado?
— Essa é a função dela. Está pagando uma dívida; ela sabe das mortes, sabe que você está jurada para ser assassinada também. Ela não nos vê, mas sabe que estamos aqui.
— Velha desgraçada — suspira.
— Até onde sei, ela é mais uma vítima, mas não de um assassinato, e sim de uma dívida. Talvez ela pudesse fazer algo além de só permitir que tudo isso aconteça, mas... eu não sei. Talvez medo.
— E quem não sentiria medo? — diz um homem que aparece repentinamente dentro do quarto. — Qualquer um teria.
É o mercador. Ele encara Lara com um sorriso leve, parecia estar tentando acalmá-la. Ela olha para Maxine uma última vez, em seguida caminha até ele, tocando cautelosamente sua mão no braço dele. Outra vez tem a péssima sensação de tudo ao seu redor girando aceleradamente e isso faz com que ela caia sentada no chão, com todo o seu corpo formigando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hotel Villens
Misteri / ThrillerCansada de uma vida limitada de cidades interioranas, Lara migra para uma mais globalizada e próxima da capital, em busca de melhores oportunidades, além de tentar fugir da realidade monótona que vivia todos os dias. Ela só não esperava que sua vid...