prólogo

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O espelho.
Uma luz cintilava acima da minha cabeça, provocando sombras na parede atrás de mim. Tinha pequenos e arredondados olhos verdes me fitando, cheios mas ao mesmo tempo vazios. Eram cheios de imagens, fatos, palavras, dor, arrependimento, sentimentos... um baú de lembranças passadas. Vazio... neles nâo havia possiblidade de esperança nem de fé.
Esses olhos cor de esmeralda me olhavam esperando uma solução, desesperados por mais uma chance. Uma lágrima rolou pela face esquerda seguida por outras mas, mesmo assim os olhos não perdiam a intensidade. Eu me olhava no espelho, e vi através dele quando uma de minhas mãos pálida, levantou-se erguendo a faca que nela estava, apertando com tanta força que o cabo de madeira chegou a machucar. Mas nenhuma dor naquele momento superaria todos esses anos. A minha vida é repleta de sofrimento, o meu passado se tornou um fardo, e eu nunca quis esquecê-lo como a maioria das pessoas fazem, eu nunca quis apagar o que estava ali. Era uma tortura reviver tudo, todos os dias ao longo de 15 anos mas, para mim era necessário, era uma forma de me lembrar o quão indigno eu era. Não merecia viver, agora que estou livre, não há por que continuar aqui. Apesar de parecer um paradoxo talvez a minha liberdade não esteja aqui nesse mundo... . E a vida é pra quem a merece.
Encostei a faca no meu pulso, olhava para o meu reflexo, era a última vez que eu estaria consciente. Lentamente á apertei, pouco a pouco sentia o arder da pele, aquilo queimava, era uma dor alucinante. O sangue começou a derramar, uma pequena lasca transformou-se em um jorro que ganhava força. Comecei a fazer vários cortes pelo braço, e cada vez mais as lágrimas corriam misturando com o sangue.
Toda a minha vida se passou ali diante do reflexo dos meus olhos. Cada grito que me torturou, cada espalmar de mãos em meu corpo que me fizeram perguntar a Deus por que me permitiu viver... . Olhei por um segundo para meu corpo que estava inerte no meio da minha própria imundice.
Quando passei para o outro pulso, eu não tive dúvida de que faltava pouco, por isso apertei de uma só vez. Tudo girou meu corpo tremeu, me senti em chamas. Gritava, gritava muito, pela dor, pelo que me aconteceu, pelo que eu vi, por eu ainda estar aqui.... isso me enfureceu não precisava de autopiedade, continuei á cravar a faca em alguns lugares... meu corpo peso e quanto mais eu gritava mais ardia e saia o sangue. Larguei a faca, estava envolto em uma poça, não tinha mais forças, me deixei cair. Minha vista escureceu, fiquei mole. Pensei Adeus.

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