Cap. 3 - Um Encontro

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Dessa vez eu me via encurralado. Caramba!
Quando achamos que já vimos, experimentamos e sofremos de tudo a vida, o destino ou seja lá o que for nos golpeia mais uma vez. Eu não sei onde estou mas, parece um quarto de hospital, no lugar não entra luz, está escuro la fora, escuto ruídos e sinto muita dor. Tenho uma vaga lembrança do que aconteceu, nunca achei que eu iria me descontrolar á ponto agredir alguém.
Há muito tempo eu me tornei uma pessoa vazia mas, hoje eu me sinto pior, uma imensa tristeza me devora, é algo que vai além do que se pode explicar, chega a doer. Uma dor que guarda tantos momentos ruins, tanta culpa.... essa dor rasga o peito e a minha alma, meus olhos transbordam com um líquido salgado que amarga o meu paladar. Essas lágrimas que á tanto eu aprisionei escorrem pelo meu rosto molhando o travesseiro, procurando um lugar onde possam se refugiar e ter paz.
Quando penso em tudo o que vivi até hoje, mais sofrimento isso me causa, deixei a pessoa mais importante da minha vida morrer nas mãos daquele desgraçado
Maldito Francis.
Tudo o que me aconteceu é apenas meu, não posso ser para outra pessoa o que o Francis foi para mim.
Eu não podia ter feito o que fiz, apesar de não saber o por que agi daquela maneira. Não quero ser um monstro, não quero que ninguém tenha medo de mim, quero ser alguém diferente dele.
Mas se eu contar tudo o que aconteceu, todos se afastarão, vão dizer que fui um covarde.
Eu fui um covarde! Eu fui um covarde! Eu sou um covarde...

Esses pensamentos me fazem chorar ainda mais, meus soluços são audivéis. Passo as mãos no rosto para secar meus olhos, em vão, levo--as para a cabeça percebendo que ela está enfaixada e estremeço pela dor física que sinto...
Quando eu era adolescente costumava a escutar algumas pessoas chamarem por Deus em momentos de dificuldade, sofrimento ou até felicidade. Eu sempre me perguntava como alguém que nunca vimos era capaz de intervir, livrar ou agraciar as pessoas, nunca consegui responder mas, também nunca deixei de acreditar nessa força,achava bonito essa crença cega. Hoje porém, vendo tudo que me aconteceu e o que estou vivendo nesses últimos anos não sou capaz de chamar por um Deus, nunca tive fé apenas acreditava que se essa força existia poderia ter me poupado a vida.
Sigo com esses pensamentos noite a dentro, as lágrimas finalmente cessam e sou absorvido pela negritude da inconsciência.
***
Estou com medo mas, não posso parar de correr, se parar eles vão conseguir me alcançar... Preciso fugir, essa estrada não tem fim. Argh! Socorro! Tropecei nos meus pés e cai, preciso me levantar, preciso continuar correndo. Me rastejo enquanto escuto passos ressoando cada vez mais alto, de repente trombo em uma parede que não estava ali antes.
- Eles vão me pegar - penso encolhendo as pernas junto ao meu corpo e abraçando-as. Ouço alguém rir, é uma gargalhada grossa e longa, me arrepio e aceito o que me é proposto: Não há como fugir, nem como evitar!
Os passos agora, estão perto vejo uma sombra se instalar à minha frente, são vários homens, grandes e todos riem de mim.
Um deles se agacha e aproxima de mim, vejo seus olhos pretos marcados com uma sicatriz, reconheço este homem e já sei que ele me fara mal.
Ele chega muito perto, perto de mais, mentalmente eu faço uma prece á um Deus, peço que se existir faça esse sofrimento acabar logo. Todos os outros homens se agacham também e se aproximam, o primeiro agarra meus tornozelos puxando-os fazendo minhas pernas se abrirem. Ele ri, todos riem, debato tentando me soltar, por mais que eu saiba o que pode acontecer, como tantas outras vezes, não me acostumo à dor e a agonia. O homem abre minhas pernas, rasga o meu jeans e o joga de lado. Eu grito, grito muito peço ajuda á algum daqueles homens mas, quando o faço todos se tornam apenas um...Francis!
Ele me olha nos olhos passa a mão pelo meu corpo, aquelas mãos ásperas, que me dão nojo e ância, ele acaricia meu abdomêm com uma das mãos pois, a outra continua a segurar minha perna que a todo momento tenta chuta-lo. Com uma voz grave ele diz:
-Agora é entre você e eu... grita! Continue gritando adoro ver você se desesperando, me enche de tesão. Você não estava com saudades? O meu amigo aqui sentiu tanta sua falta.... - Ele diz olhando para o volume de sua calça.
Minhas mãos tentam afastalo mas tudo é em vão.
Ele me segura mais firme e com uma das mãos desafivela o cinto e abre seu zíper.
-Deus! Deus de quem todos precisam! Deus de quem tanto ouço, se tua misericórdia é tão grande, me ajude na hora em que te chamo. - tento falar mas minha voz não sai, ela fica presa em alguma parte da minh'alma.
Ele abaixa suas roupas e as minhas, se posiciona, eu grito mas nada sai, olho com terror o homem a minha frente, sinto uma dor, continuo tentando a gritar, até que o chão que estava sob mim se desfaz...

-Arghf!!!
Acordo sobressaltado e arfando, sinto o suor caindo do meu rosto, levanto e me recosto nos travesseiros. Já faz muito tempo que eu não tenho pesadelos, desde que entrei na clínica tomo anti-depressivos que me acalmam e me fazem dormir pesadamente. Os meus sonhos ruins costumam ser iguais, neles sempre fujo e não consigo gritar porém, o de hoje me deixou uma sensação ruim, deixou uma marca de presságio. Nunca sonhei nada parecido com esse sonho, estou tão pertubado que me levanto decidido a ir caminhar um pouco, já não sinto dor e o dia ainda não amanheceu.
Saio no corredor que, está vazio a não ser por uma pequena porta que está aberta e de lá saem algumas vozes cochichadas. Para um hospital esse lugar está muito calmo! Vou caminhando de vagar pelo corredo á direita, oposto ao da salinha com vozes, viro em uma escada que sobe, resolvido á achar algo próximo á um térreo. Subo dois lances e saio de frente a uma salinha e dois corredores, sigo para o corredor e vou olhando á procura de um lugar que dê para ver o céu.
Descubro um quarto vazio a esquerda que, possui uma janela grande o suficiente para ver o início da alvorada, o céu é uma obra de arte, estrelas que mesclam com tons de azul, laranja e branco, formando um quadro abstrato sem forma, sentido ou finalidade. É um belo quadro para se observar, é possível ainda sentir o frio da madrugada, e alguns passáros despertarem para mais um dia.
Como eu queria fazer parte desse cenário levantar, olhar tudo isso e pensar "eu faço parte disso".
Quando se vê a grandiosidade de cores e vivacidade ao nosso redor, as vidas que vivem para fazer a roda do mundo girar, bate uma louca vontade de ser mais, de fazer mais, de fazer o que esses passáros fazem comigo agora levar paz, tranqüilidade e esperança.
- É uma belissíma paisagem não acha ?
Me surpreendo ao ouvir aquela voz calma, serena e baixa, me viro e vejo um homem vestido com chinelos, calça de moletom e um suéter marrom, de cabelos grisalhos mas com uma aparência tão tranqüila que o faz parecer mais jovem. Ele me olha e em seguida para a janela, como que pedindo permissão para se juntar á mim, ele me passa tanta paz de espírito que aceno e dou um meio sorriso sinscero. Ele se aproximou encostou-se no parapeito, fiz o mesmo e ficamos ali á assistir o amanhecer do sol...

*****

Olá gente, aqui está a quarta parte de Sorrisos, desculpem a demora. Continuem a ler, cada novo leitor é uma nova possibilidade que se cria para mim. Até a quinta parte.Obrigado beijos

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